Recrutar: o novo desafio para as organizações

«O teletrabalho manteve-se, mas a necessidade de integrar novos talentos nas organizações continua e, por isso, é inevitável tornar os processos de recrutamento e acolhimento digitais. Para tal, a tecnologia tornou-se uma ferramenta essencial na gestão dos processos de contratações.»

Por Ângela Santos, board member e responsável pelo desenvolvimento de capital humano da Abaco Consulting

 

Embora já tenham passado cinco meses após o fim do Estado de Emergência, em Portugal, muitas empresas ainda estão a definir qual o melhor caminho para seguirem. É um facto que a maioria já está adaptada a esta nova realidade de teletrabalho e assim preferem continuar, mas outras já começam a iniciar os seus regressos aos escritórios.

É, sem dúvida, a altura de começarmos a pensar mais no futuro e num regresso à nova normalidade. Já entendemos que a forma de viver e de trabalhar, obrigatoriamente, mudou e nada será como antes. Voltar ao escritório, agora, é outra coisa.

O teletrabalho obrigou-nos a estar mais perto das nossas equipas e a descobrir que, mesmo longe fisicamente, conseguimos lidar com situações inesperadas, urgentes, mas também a encontrar dentro de nós a força positiva que nos orienta e que nos permitiu – e continua a permitir – reforçar a nossa cultura organizacional. São as empresas com uma cultura forte, que mais confiam nos seus talentos e lhes dão autonomia para improvisarem, que se adaptam mais facilmente. Para isso é fundamental ligar e aproximar os colaboradores em torno de discussões relevantes e partilhar informações críticas sobre a organização.

Nunca esquecendo que cada pessoa é única, tem experiências e expectativas distintas, e pode contribuir de formas diferentes, é, por isso, necessário conhecê-las bem, para as poder liderar. Um bom líder articula as suas pessoas, abrindo-lhes o caminho para aquilo que elas fazem melhor, e complementando os vários talentos numa equipa, focando-os num propósito. Se a isso aliarmos um mindset geral de foco nos colaboradores, de Humanity na organização, de processos desenhados para melhorar a experiência das pessoas (estejam juntas ou distribuídas, mas sempre conectadas) e de envolvimento para a contribuição, os talentos serão efectivamente as peças centrais no processo de adaptação constante a que uma empresa é obrigada nos dias de hoje.

Perante este contexto, é aqui que os novos desafios não param de surgir, sobretudo, no que diz respeito à integração de novos colaboradores nas empresas. Se antes já era uma tarefa difícil, agora ainda mais será. As entrevistas passaram a ser à distância, assim como a validação de referências, pesquisa, selecção e triagem de candidatos. O teletrabalho manteve-se, mas a necessidade de integrar novos talentos nas organizações continua e, por isso, é inevitável tornar os processos de recrutamento e acolhimento digitais. Para tal, a tecnologia tornou-se uma ferramenta essencial na gestão dos processos de contratações. Tornou-os mais eficientes, aumentando assim a probabilidade de encontrar o candidato ideal para uma determinada oferta de emprego, com base nos seus próprios valores.

Após a escolha dos candidatos certos, surge um novo (e talvez, maior) desafio: como os integrar nas equipas e em toda a realidade da empresa? Se já era difícil anteriormente, com a realidade do trabalho à distância, passou a ser crítico. Não nos podemos esquecer que é fundamental que estes novos talentos assimilem, desde a sua entrada, o que é a cultura da empresa e se integrem nela.

Mas, para tal, nas estratégias de Recursos Humanos, devemos considerar algumas medidas:

  1. Partilhar a cultura da empresa (missão e valores): De forma a que os novos talentos se integrem mais rapidamente na cultura da empresa, é fundamental que lhes seja apresentada a missão, valores, história e tradições da empresa, logo nos primeiros dias.
  2. Atribuí-los a um team leader: No início, muitas poderão ser as dúvidas que podem surgir e, por isso, é essencial que estes novos talentos tenham alguém em específico que os possa acompanhar e a quem eles possam recorrer, sempre que necessitem. Esta atribuição de um team leader torna-se muito importante, uma vez que as equipas não estão fisicamente juntas e os novos talentos podem sentir-se perdidos se não forem acompanhados na sua entrada. Uma leadership team preparada para a gestão e acompanhamento próximos de cada pessoa, especialmente atenta às pessoas novas, é crucial.
  3. Videochamadas diárias com a equipa: Com o intuito de apoiar a integração dos talentos mais recentes, é, igualmente, fulcral que as equipas façam reuniões diárias de status dos projectos em que estão a trabalhar, de forma a ajudarem os novos colaboradores com os processos, a colocá-los à vontade para tirarem dúvidas, e, por último, mas igualmente importante a fomentarem o espírito de equipa. Assim, é fundamental dar primazia às chamadas de vídeo, para que os novos colaboradores comecem a estabelecer conexões com os restantes elementos, para além de todos os benefícios já evidenciados em alguns estudos (maior produtividade, comunicação mais assertiva, melhores resultados).
  4. Pedir feedback aos novos colaboradores: De facto, este não deixa de ser um processo novo para todas as empresas. Obviamente que no passado já todos fizemos entrevistas por videochamada, mas integrar uma pessoa nova numa equipa que se encontra totalmente distribuída fisicamente, não. E isso é um processo que temos de ir delineando e testando, pois só assim iremos perceber quais os erros que poderemos ter cometido e que soluções deveremos implementar. Mas, para tal, é essencial pedir feedback aos novos colaboradores, quanto às dificuldades que sentiram, de forma a que consigamos garantir que têm a melhor experiência ao longo de todos os processos.

Desta forma, o objectivo é claro, voltamos a estar centrados na Humanity – partilhar valores, ser parte importante de algo, sentir-se bem, libertar o talento. Fazer parte de uma equipa – em que cada um pode escolher – diminui a rotatividade, aumenta a performance, e liberta energia positiva.

 

 

 

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