Reinventar o Futuro

Por João Nuno Bogalho, Gestor de Pessoas. Coordenador de pós-graduações no Instituto Piaget

Desde há um ano que tenho vindo a afirmar a minha convicção de que não haverá regresso ao “normal”. Estamos perante o início de um novo paradigma – o “novo normal”. Em que a contingência sanitária será uma constante nas vidas de todos nós e a diversas dimensões.

A questão é que ainda sabemos muito pouco das características destes nossos novos inimigos, como os combater de forma eficaz, que medidas têm de facto sucesso. Mas ainda menos sabemos das consequências globais, directas e indirectas, das medidas que estamos a tomar.

Parece-me evidente que, mesmo com a vacinação e a imunidade de grupo, estamos muito longe – demasiado longe – de chegar ao ponto em que este vírus é vivido pelo ser humano como se de uma “gripezinha” se tratasse.

E até lá?

Temos os negacionistas. A quem junto os que criticam toda e qualquer medida, e que se recusam a cumprir as mais básicas medidas de segurança individual e proteção do próximo. Para estes, a solução é simples, apesar de dramática. Tudo passa quando no seu núcleo alguém tiver consequências graves, ou uma fatalidade, por via da Covid-19.

Depois, aqueles que ainda acreditam que vamos voltar ao normal. Aqui talvez o grupo mais difícil. Primeiro porque são muitos e significativos. Depois porque atuarão sempre no registo de ir aguentando, e encontrando medidas supletivas e temporais, para fazer face a algo que acreditam que passará. E nesta convicção vamos atrasando a mudança e a implementação do que, acredito, será mesmo o novo normal. E esta postura atrasará e dificultará, e até impedirá, a tomada de decisões estruturais que nos enquadrem devidamente para o futuro.

Finalmente aqueles que já assumem este “novo normal”. Que atuam e procuram viver, aprender e criar as condições, medidas e políticas de gestão, pessoal, coletiva e organizacional em função desta nova realidade. Já são muitos. Mas têm que lidar e conviver com as dificuldades geradas pelo grupo anterior, e com todas as dimensões da sociedade estruturadas para uma realidade passada.

Parece-me muito evidente que profundas transformações se vão passar, de forma mais ou menos célere. Nos quadros legais, incluindo até a constituição (vivemos muitas acusações de inconstitucionalidade nalgumas das atuais medidas de combate à pandemia); na estruturação e organização do trabalho; na distribuição geográfica das populações; nas prioridades de vida das pessoas; entre tantas outras.

Assentando algumas convicções pessoais. As sociedades planeiam-se a longo prazo. Devemos pensar de forma global e atuar localmente na nossa esfera de influência. Uma pessoa pode fazer a diferença.

Uma das minhas dimensões profissionais está ligada ao ensino superior, no Instituto Piaget de Almada. E hoje, quando escrevo esta minha partilha, penso nos meus alunos. E, em concreto, que mensagem lhes poderei deixar ao finalizar mais um ano lectivo assolado pela pandemia.

A cada uma das turmas e respectivas áreas de ensino, e são bastantes, tenho vindo a partilhar e tentar despertar consciências no sentido de estarmos preparados para o maior número possível de cenários.

Tenho procurado sempre uma postura não de “ensinar”, mas de partilhar conhecimentos e experiências. Tentando despertar o pensamento crítico, a capacidade de transversalizar conhecimentos e competências, a constante aplicação na vida de tudo o que vamos aprendendo. E isso tem-me trazido imensa aprendizagem a mim.

Olhando para os mais de 300 alunos que este ano se cruzaram comigo, reforço a cada dia a minha certeza que vamos entrar num novo paradigma. E muito rapidamente. Onde a Pessoa e a sua dimensão humana, assumirão o comando da evolução.

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