Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade: «Andámos a dizer que as pessoas eram o activo mais importante das empresas mas só agora é que o estão a ser»

A encerrar a XXVII Conferência Human Resources, Joana Queiroz Ribeiro, directora de Pessoas e Organização, esteve à conversa com Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, para procurar dar resposta à pergunta: “E o que sobra desta encruzilhada?”. Numa fase de enorme transformação, o foco nas pessoas «passou a ser um tema estratégico e todos temos a ganhar com isso», frisou o responsável. 

Por Margarida Lopes | Fotos: NC Produções

Joana Queiroz Ribeiro começou por citar um estudo da Gartner que identifica quatro grandes temas que estão a ditar as tendências das prioridades nas organizações. São elas a flexibilidade e o trabalho híbrido, falta de competências, inteligência artificial, necessidade de as empresas correrem atrás da eficiência operacional dos resultados, da rentabilidade e até do lucro.

Rogério Campos Henriques constatou que há uma dinâmica que se coloca muitas vezes na componente legislativa entre empresas e colaboradores, «como se não estivessem todos do mesmo lado, como se fossem quase adversários».

«Neste tema da criação de valor ou da performance ou da rentabilidade, não tem de haver uma tensão. Pode haver às vezes uma dictomia, as pessoas às vezes interpretam que há. Mas, salvaguardando situações muito específicas em que as empresas estão a lutar pela sobrevivência e em que a performance se sobrepõe ao temas das pessoas, a verdade é que, quando olhamos para esse tema numa perspectiva de mais longo prazo, as duas coisas têm de estar alinhadas porque estamos a discutir a encruzilhada na Gestão de Pessoas mas estamos também a discutir a uma transformação enorme nos negócios.»

O responsável não tem dúvidas que, «pensando numa perspectiva de ter empresas sustentáveis, as empresas precisam de ser muito rentáveis e produtivas, mas isso não se pode fazer sem ter equipas com pessoas muito competentes e muito motivadas e alinhadas com os objectivos das empresas. Portanto esta dictomia não faz qualquer sentido numa lógica de médio/longo prazo.»

O CEO da Fidelidade defendeu também que se sente um bocadinho a tensão nas organizações. «Há uns anos estávamos a discutir como a Inteligência Artificial ia destruir postos de trabalho, depois houve a pandemia e o tema da escassez de talento tornou-se mais evidente, por outro lado este tema dos modelos de trabalho mais híbridos cria aqui uma tensão diferente. Estamos a aprender como é que nos vamos adaptar.»

Mas destacou «prefiro falar numa tensão positiva, se pensarmos bem, andámos a dizer que as pessoas eram o activo mais importante das empresas, mas a verdade é que parece que só ultimamente é que começou mesmo a ser, porque não há dúvida que escassez de talento e necessidade de trabalhar de forma diferente e toda esta transformação de colocou o tema no sítio certo. As empresas hoje têm uma visão muito mais abrangente  e estruturada sobre como é que têm de lidar com isto e passou a ser um tema estratégico e isso é muito bom, temos todos a ganhar com isso.»

Rogério Campos Henriques salientou que a Fidelidade tem tentado resolver a tensão. «No Great Place to Work, a Fidelidade teve bons resultados no ano passado, este ano o core nem melhorou particularmente, mas o nível de participação subiu para 90% e isso é fantástico, porque significa que as pessoas reconhecem que vale a pena participar, envolverem-se e que a Fidelidade vai ouvir aquilo que vão dizer, e vão activamente fazer algo com o seu contributo. A Fidelidade já fez outros surveys de clima organizacional, o que fizemos foi standartizar, todas as empresas participam no Great Place to Work e qualquer pessoa dentro da organização pode ver os resultados da sua direcção e das outras direcções.»

Questionado sobre o que é para si a Fidelidade, o CEO falou em vários planos. «É a maior seguradora portuguesa, tem mais de 30% de quota de mercado, é líder em praticamente todas as linhas de negócio e em todos os canais, vende seguros em quase todo o lado, tem agentes, vende na Caixa Geral de Depósitos, tem lojas, tem a OK teleseguros, que é a seguradora mais directa e digital. A Fidelidade é uma seguradora que se distingue tipicamente porque tem uma marca potente, com muito boa capacidade distribuição e um foco muito grande na qualidade do serviço e é isso que acho que tem sido o segredo para o sucesso.»

O responsável salientou que, nos últimos 10 anos, houve uma enorme transformação digital, «os clientes interagem com a seguradora através das apps etc. Nos últimos anos a, Fidelidade fez um caminho de internacionalização do negócio. E tentámos actuar na componente das pessoas e organização. Em oito ou nove anos, a Fidelidade recrutou 1000 e tal pessoas. Tem um ADN muito particular, há um grande foco nas pessoas.»

Mas há espaço para melhorar. Rogério Campos Henriques não tem dúvidas de que, apesar de ser uma empresa bicentenária, precisa de ser menos hierárquica e que delega mais nas pessoas, uma empresa mais ágil, que aprende mais depressa, que puxa mais pelas pessoas, que desenvolve mais as pessoas, «há um caminho a percorrer porque ainda não somos a Fidelidade que queremos ser», frisou o responsável.

O CEO acredita que a Fidelidade não tem todas as pessoas certas, mas tem muitas pessoas certas. «Para captar pessoas, podia ser a empresa que paga melhor em Portugal na Europa, mas não é fácil fazer isso. Mas pode ser uma empresa que é uma grande escola, que ensina e cativa as pessoas, que lhes dá desafios, que tem um propósito muito forte que cativa as pessoas. E uma empresa que tem um ambiente de trabalho que é agradável, que é friendly, que permite ter um equilíbrio entre o profissional e o pessoal, e onde as pessoas se sentem bem». O responsável não tem dúvidas de que é nisto que se tem de trabalhar «porque é super difícil fazer tudo».

Se tivesse uma varinha mágica, Rogério Campos Henriques escolhia investir mais no tema de poder pagar melhores salários, de ser melhor a fazer gestão de pessoas e criar planos de desenvolvimento das pessoas, porque é onde a Fidelidade tem uma distância maior.

Questionado sobre por que gostam as pessoas de estar na seguradora, o responsável garante que «gostam do ambiente da Fidelidade, que as acolhe bem e trata-as de forma humana. Além disso, as equipas têm um ambiente colaborativo, onde existe um equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada e onde as pessoas sentem que há um propósito.»

Sobre o tema do propósito, o CEO faz notar que o propósito da seguradora é intrínseco ao negócio, «a Fidelidade existe para proteger as pessoas e preocupa-se com as pessoas, como é referido no mote da seguradora “Para que a vida não pare”. E isto é óptimo porque existe um propósito nobre sobre o qual se pode trabalhar e as pessoas sentem isso».

Em jeito de resumo, «Estamos a viver uma fase de enorme transformação dos negócios e da forma como trabalhamos, por isso, o foco nas pessoas é muito importante. Ainda bem que temos um foco acrescido nas pessoas e que actuamos hoje de forma mais consistente, mais estruturada, mais focada», partilhou Rogério Campos Henriques.

«Fazemos um esforço para sermos competitivos, mas não podemos ganhar a guerra dos salários, mas nas outras dimensões sim. Podemos ser uma empresa que é uma escola, que tem ambição e tem desafios para as pessoas se poderem desenvolver, que lhes dá perspectivas de carreira e oportunidades. E que tem um propósito e um ambiente de trabalho que cativa as pessoas e as faz gostar de estar ali.»

«A Fidelidade é uma empresa de pessoas que trabalha para outras pessoas, que são os clientes, e que quer apostar cada vez mais nas suas pessoas, porque só com elas conseguimos fazer a diferença», concluiu.

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