Salários estão a subir em vários sectores. Falta de mão-de-obra contribui para o fenómeno

Nas últimas semanas foram muitos os anúncios de aumentos salariais significativos, que por vezes elevam o ordenado mais baixo pago nalgumas empresas para valores que ficam 100 euros acima do salário mínimo nacional (SMN), revela o Jornal de Negócios.

 

A metalurgia é uma das actividades nas quais houve anúncios de subidas. «Em geral, o sector já paga acima do salário mínimo», explica o vice-presidente executivo da Associação dos Industriais de Metalurgia e Metalomecânica (AIMMAP). Rafael Campos Pereira afirma que «muitas empresas estão a fixar a remuneração mais baixa à volta dos 800 euros, e não são só grandes empresas, são pequenas e microempresas». O que provoca um efeito de dominó nas companhias que «por arrasto têm de aumentar os outros salários».

Campos Pereira auscultou o sector e as respostas que obteve foram em crescendo nos últimos meses: «Ouvi 5%, 6%, depois ouvi 15%, cheguei a ouvir 20%. Precisamos de mais pessoas e de reter as que temos. E a falta de mão de obra tem agravado o problema.» O aumento dos custos da energia, transportes e matérias-primas torna a situação mais difícil.

De acordo com a publicação, no retalho, Jerónimo Martins, Mercadona e Ikea são apenas algumas marcas que anunciaram reforços nos vencimentos.

O director-geral da Associação de Empresas de Distribuição (APED) aponta várias causas, incluindo o aumento do SMN. Gonçalo Lobo Xavier salienta em declarações ao Jornal de Negócios que «o Governo tem um plano para o aumento do salário mínimo até ao fim da legislatura» e recorda que o sector, que conta com 130 mil colaboradores, dos quais 90 mil no retalho alimentar, já paga acima desse valor. Lobo Xavier sublinha que os aumentos, que começam pelo vencimento de entrada, têm consequências alargadas: «O salário mais baixo de um contrato coletivo tem implicações no resto da tabela», afirma.

No comércio e nos serviços há dois tipos de necessidades, diz João Vieira Lopes, presidente da confederação que representa o sector: «por um lado, a dos «quadros qualificados, sobretudo com competências tecnológicas – não há trabalhadores suficientes, e há empresas que estão a subir o patamar, e os salários estão a crescer», explica; por outro lado, «mesmo a nível dos pouco qualificados, não existe uma oferta suficiente».

O rosto da Confederação do Comércio e Serviços nota que «em certas zonas, sobretudo no interior, uma parte da explicação tem a ver com as pessoas que estão no subsídio de desemprego – levam-no até ao fim e só depois procuram trabalho».

O presidente da CCP regista a opção de muitas empresas que aumentam salários, mas realça que há muitas outras «que não estão interessadas em subidas acima dos factores económicos, como a inflação e o crescimento». «É um fenómeno irregular: há empresas que aguentam e outras que não, especialmente se isso levar a aumentos de quem já está empregado», realça.

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