Seis perguntas que deve (mesmo) fazer a meio da sua carreira

Ao atingir determinada idade, que muitas vezes coincide com o meio da carreira, é normal fazer uma retrospectiva do caminho percorrido e o que está por vir. Perceber que alguns sonhos e aspirações podem não acontecer nem sempre é fácil. Contudo, este período também oferece uma oportunidade de crescimento, de reavaliar prioridades, aproveitar experiências e traçar um caminho alinhado com objectivos para o futuro.

 

A primeira metade da vida é uma questão de “acumular”, diz Chip Conley, fundador da Modern Elder Academy e autor de “Learning to Love Midlife: 12 Reasons Why Life Gets Better with Age”. «Fazer isto, experimentar aquilo, acumular amigos, filhos, currículos e bens para a casa. A segunda metade é destinada à edição. É quando discernimos o que é realmente importante para nós», explica.

As exigências do trabalho, da vida familiar e de outros compromissos podem deixar pouco espaço para essa “edição”, mas vale a pena reservar tempo e espaço mental para este processo de introspecção, diz Ebony Joyce, fundadora da Next Level Career Services. «Isso dará perspectiva para traçar a forma e a direcção do futuro.»

Os dois especialistas partilham com a Harvard Business Review seis perguntas a fazer quando chegar o momento de fazer o balanço da sua carreira.

 

O que vou me arrepender de não ter feito ou aprendido daqui a 10 anos?

O arrependimento pode ter uma conotação negativa, mas é também um professor poderoso, diz Conley. «A vantagem de envelhecer é que se tem visão periférica e se pode vislumbrar o futuro. Entendemos as consequências das nossas acções» e recomenda aproveitar o poder do “arrependimento antecipado”, que envolve imaginar a desilusão que poderemos sentir no futuro se não tomarmos certas medidas hoje. Essa previsão pode ajudar a tomar decisões que o “futuro eu” apreciará, acrescenta.

Estudos sugerem que manter a curiosidade, aprender novas competências e abraçar novas experiências estão correlacionados com uma vida mais longa e feliz. Portanto, pense no que gostaria de aprender, experiências que gostava de experimentar e lugares que gostaria de ir agora, antes que seja tarde demais. O objectivo, garante Conley é «tomar decisões voltadas para a realização a longo prazo, e não para a gratificação imediata».

 

Como atingir o meu propósito?

No início de carreira, são várias as influências de factores externos, a pressão dos pais, as normas sociais ou noções específicas de sucesso. Isso pode levar a escolhas profissionais que priorizam as expectativas dos outros em detrimento dos nossos próprios desejos e interesses. Mais tarde, os sacrifícios pelos cônjuges e filhos podem eclipsar as ambições pessoais ainda mais.

Joyce defende que, ao atingirmos o ponto médio na vida, é hora de mudar de uma carreira moldada por forças externas e agendas de terceiros para uma carreira impulsionada pelo que desejamos e consideramos significativo. «É uma oportunidade de nos libertarmos do “sim, está bem” e nos focarmos nos nossos sonhos.»

Determinar o que constitui uma carreira pessoalmente significativa exige autorreflexão, diz Conley. «O que o entusiasma? O que o deixa curiosos? De que actividades gostava inicialmente e que deixou de fazer? As respostas vão ajudar a identificar possíveis pontos-chave na carreira, seja na mudança para um sector adjacente ou na transição para algo totalmente diferente.

 

Que dom ou capacidade desenvolvi que posso dar ao mundo?

Na meia-idade, há um manancial de experiências, aprendizagens e também algumas marcas conquistadas com muito esforço ao longo do caminho. Reflicta sobre as competências e conhecimento adquiridos e veja como pode usá-los para causar um impacto positivo noutras pessoas, aconselha Conley.

E recomenda um exercício. Peça alguém para lhe perguntar “O que faz na vida?” cinco vezes seguidas. Em cada uma ira refinando a sua resposta. «O resultado muitas vezes produz uma epifania», diz Conley. O objectivo é obter uma compreensão mais clara dos seus pontos fortes e como podem ser aplicados de maneira significativa e consistente com o seu propósito pessoal.

 

Como quero passar os meus dias?

Muitos coaches e mentores de carreira pedem para visualizar o futuro em cinco ou dez anos ou definir sucesso. São dicas valiosas, mas Joyce sugere contemplar o futuro a um nível micro e pensar nos detalhes das rotinas diárias.

Em vez de se focar em grandes objectivos de longo prazo, Joyce recomenda imaginar um dia típico no futuro ideal. Pense em como gostaria de gastar o tempo, com quem gostaria de interagir e o que gostaria de fazer fora do trabalho. Este treino mental permite obter clareza sobre a vida que deseja criar e alinhar os objectivos com os aspectos práticos do dia-a-dia.

 

Que cedências estou disposto a fazer (ou não)?

Questionar certas escolhas na vida é natural, mas não devemos esquecer que as escolhas que fizemos faziam sentido para as necessidades e prioridades daquele momento, afirma Joyce. Com o avançar da idade e da experiência, podem ter mudado, os filhos já saíram de casa e as distracções ou responsabilidades domésticas mudaram, por exemplo. Também pode não estar mais disposto a fazer os sacrifícios que fazia antes e quer que a sua vida pessoal esteja em primeiro lugar.

A chave é considerar cuidadosamente os seus valores e prioridades e tomar decisões conscientes sobre os compromissos que está disposto a assumir. «Não existem respostas certas ou erradas, mas deve ser intencional», explica.

 

O que está a melhorar na minha vida?

Falhas de memória, dores musculares, menos energia – são vários os desafios associados ao avançar da vida. Em vez de olhar para o copo vazio, Conley sugere mudar a mentalidade para apreciar as vantagens do envelhecimento: a sabedoria adquirida, as experiências e o crescimento pessoal alcançado. Essa mudança de perspectiva pode trazer benefícios reais e tangíveis para o bem-estar e longevidade. Um estudo mostrou que as pessoas com autopercepções positivas do envelhecimento viviam em média 7,5 anos mais do que aquelas com uma perspectiva negativa.

O preconceito de idade existe na sociedade e nos locais de trabalho como, mas também é importante cada um enfrentar o seu próprio preconceito de idade. «Se tiver uma postura de curiosidade, envolvimento e entusiasmo, as pessoas vão reparar na sua energia e não nas suas rugas», garante Conley.

 

A meia-idade traz consigo uma série de transições e desafios. Segundo Conley, o objectivo é aproveitar a sabedoria e as experiências adquiridas ao longo do caminho e «seleccionar conscientemente a próxima fase da vida».

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