Ser líder resiliente em tempos incertos

Se se sente sozinho e não tem a certeza de qual o próximo passo a dar na sua empresa, pode ser que tenha algumas dicas para lhe dar.

Por Rita Maria Nunes, Country manager TAB Portugal

 

Actualmente, vivemos tempos instáveis. A Comissão Europeia divulgou esta semana dados que dão conta de que a economia portuguesa deverá crescer mais do dobro este ano, cerca 2,4%, um valor que corresponde a mais do dobro da previsão de crescimento que em Fevereiro apontava 1%. Mas a perspectiva dos portugueses não é assim tão optimista.

Toda esta incerteza tem o seu preço. Cada nova contratação, despedimento e despesa é analisada para garantir que conduz ao crescimento e, em alguns casos, até à sobrevivência das empresas. Um dos maiores erros em tempos de recessão é tomar decisões demasiado tarde. Os novos empresários, que navegam neste clima pela primeira vez, têm dificuldade em fazer previsões estratégicas e em saber em quem confiar, pedir conselhos e confidenciar. Mesmo os empresários mais experientes, que já passaram por recessões anteriores, aprenderam que agir sozinho não é uma boa estratégia.

Trata-se de uma epidemia entre os empresários. O Gallup Wellbeing Index salienta que 45% dos empresários afirmam sentir-se sós, em comparação com 42% dos outros trabalhadores, sendo que 50% dos directores executivos também afirmam sentir-se sós.

Entre os empresários, uma percentagem ainda mais elevada sente-se ansiosa ou deprimida diariamente. Nestas alturas, é vital cultivar comunidades de apoio para desenvolver a resiliência, garantir que não se tomam as decisões difíceis demasiado tarde e enfrentar os tempos difíceis que se avizinham.

Como Country Manager de Portugal da TAB – The Alternative Board, que representa 5.000 pequenas empresas privadas em 22 países em todo o mundo, falo diariamente com líderes empresariais sobre as suas preocupações na gestão de empresas para compreender os principais problemas que enfrentam.

O antídoto é agir, caso estejam a lutar contra o stress e a ansiedade extremos. Mas não uma acção qualquer. Têm de ser tomadas medidas com a sabedoria e a orientação de outras pessoas que já passaram por recessões. É preciso apoio para aumentar a sua capacidade de resistência e tomar decisões sólidas que promovam o crescimento e o bem-estar geral da sua empresa.

Como é que se tomam decisões difíceis com confiança? É vital rodear-se de outros empresários, que estejam a percorrer o mesmo caminho e a aprender com a experiência uns dos outros, para ter a confiança necessária para tomar decisões difíceis.

 

Perante a turbulência económica que experienciamos, eis os sete passos que vão ajudar a tomar decisões difíceis e a orientar as empresas para tempos mais tranquilos:

Esclareça o problema central: Se sente que não pode partilhar as suas lutas diárias com ninguém, reserve algum tempo para criar o espaço de que necessita para se esclarecer. Qual é o problema subjacente? Pode não ser um membro da equipa com um desempenho insuficiente. Talvez seja a cultura da empresa em geral ou uma oferta desactualizada. Vá à raiz da questão subjacente à situação. Não está sozinho, mesmo que se sinta só.

Exponha a questão aos seus colegas: O livro bestseller de Napoleon Hill “Think And Grow Rich” introduziu o conceito de uma aliança de líderes empresariais que se reúnem em torno de um determinado tópico como um “mastermind”. Crie um grupo de apoio entre cinco a 10 pessoas; podem pertencer a diferentes sectores, idades ou grupos demográficos – quanto mais diversificados, melhor. Articule o seu problema com o grupo para que este o avalie.

Procure compreender primeiro: Faça perguntas esclarecedoras; na minha empresa, a nossa filosofia é “não altere a vedação até saber porque é que a vedação foi colocada naquele sítio primeiro”. Os nossos membros querem ter a certeza de que estão a ajudar-se mutuamente a resolver problemas de raiz. Peça a todos que façam perguntas esclarecedoras. Quando tudo é compreendido, é mais fácil receber feedback valioso.

Partilhe experiências: O melhor conselho é o conselho que é baseado na experiência. Os conselhos de pares de empresários representam frequentemente 150 anos de experiência empresarial ou mais. Os pares partilham as suas experiências colectivas. Por vezes, o melhor conselho é: “Já tentei isto antes e não resultou bem para mim.” Este tipo de conselho tem um valor inestimável para outros empresários. Pense se alguma experiência se aplica a si ou se pode abrir um novo caminho.

Avalie opiniões: Muitos empresários passam demasiado tempo a consumir informação e não passam tempo suficiente a executá-la. Depois de analisar as reacções do seu grupo, identifique os pontos a reter. O que é mais benéfico para a sua empresa na sua trajectória de crescimento? Decida o que gostaria de dar prioridade.

Comprometa-se a agir: Utilizamos intencionalmente a palavra “compromisso” nas reuniões do conselho de administração. Os membros comprometem-se uns com os outros a tomar uma acção específica. O compromisso implica não só a acção, mas também que cada pessoa se comprometa a tomar medidas. Estes compromissos são uma parte fundamental para fazer avançar questões e oportunidades importantes.

Manter a responsabilidade: A pessoa mais fácil de desiludir é a si próprio; a pessoa mais difícil de desiludir são os outros. Os membros do conselho de administração responsabilizam-se mutuamente pelos seus compromissos. Fazem-no porque se apoiam uns aos outros, trabalham em conjunto e tentam ajudar cada membro do grupo a enfrentar os seus desafios e a levar o seu negócio para o nível seguinte.

 

Embora o que se avizinha seja incerto, uma coisa é certa: ao criar uma comunidade de apoio, conselheiros e mentores – seja através de um conselho de administração, de grupos de responsabilidade ou de apoio, – os empresários estarão bem equipados para tirar partido da sabedoria de todos os sectores e grupos demográficos para se reforçarem mutuamente e tomarem melhores decisões para navegar nos tempos que se seguem.

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