Sobre atravessar oceanos – porque nunca é tarde para iniciar novos caminhos

 

Por Fernanda Borges, Business Intelligence consultant da Adentis

 

Quando era adolescente, ao imaginar-me na idade de 25 anos, via uma médica (ou uma mulher de negócios, uma professora, uma engenheira e tudo mais que minha imaginação permitia), com filhos, marido, muitas responsabilidades e bastante seriedade, pois imaginava que a vida adulta não permitia muito bom humor. Acho que tive esse retrato do futuro na minha mente por muito tempo, mas a cada vez que crescia, essa imagem mudava de cenário e ia dando lugar a outro contexto: a realidade.

Os 20 e poucos anos não eram em nada parecidos com o que a Fernanda criança pensava, e por vezes, naquela altura, era algo que não me parecia bem. Nos meus “reais” 25 anos, estava no último ano da faculdade de engenharia de produção, longe de estar casada, sem filhos e surpreendentemente, não havia me tornado essa pessoa muito “séria”, na verdade ainda mantinha olhares que me acompanhavam desde criança. Será que aquilo estava certo?

O curso que tomou a minha vida, ao confirmar poucas daquelas previsões, incomodava-me um pouco. “Tenho logo que atingir a estabilidade financeira”, “não posso mudar de profissão”, eu que sempre tive vontade de ter uma experiência internacional, considerava que estava “velha demais” para isso, minha vida precisava ser “resolvida logo”. Conduzi muitas das minhas escolhas pessoais e profissionais de acordo com essa necessidade de rápida resolução, mas mesmo assim algo me dizia que podia ser que valesse a pena arriscar, embora fosse um pensamento que costumasse reprimir.

Aos 30 anos, considerava ter atingido a minha tão desejada estabilidade, trabalhava como funcionária pública, recebia um salário acima da média para minha profissão e conseguia ter uma vida pessoal bastante equilibrada. Só que algo dentro de mim, vez ou outra revisitava um pensamento que tive ainda na graduação de engenharia, quando tive uma disciplina de Banco de Dados e outra de Inteligência Computacional, que era o de aprofundar-me em alguma área de tecnologia da informação. Chegou um momento em que isso falava tão alto, que resolvi “largar tudo e dar alguns passos para trás”. Por que não arriscar, não é mesmo?

Pouco antes disso, tive oportunidade de trabalhar com uma ferramenta self-service de Business Intelligence a qual gostei muito e que despertou em mim o interesse de conhecer mais sobre a carreira do profissional de BI. Segundo a Plataforma Data Science Academy, este profissional tem como objetivo converter dados brutos em insights para os negócios, e assim poder auxiliar os gestores na tomada de decisão. Para ir além da definição, li muitos artigos, fiz cursos online e após muita pesquisa, decidi inscrever-me no Mestrado de Gestão de Informação, com especialização em Gestão do Conhecimento e Business Intelligence, em Lisboa. Ao mesmo tempo que achava aquilo uma ousadia muito grande da minha parte, a possibilidade de aprofundar-me em uma carreira que estava a me entusiasmar tanto, além de poder realizar o sonho de ter uma vivência no exterior, fazia meus olhos brilharem.

Assim, desde 2019, estou nas lindas terras lisboetas, terras estas que me revelaram gratas surpresas com lindas paisagens, clima agradabilíssimo e um céu de um azul que jamais vi. Cheguei com duas malas com 23 kg cada – cheia de roupas, calçados e tudo o mais que consegui trazer do Brasil para cá – e mais 1 tonelada de sentimentos, de sonhos, medos e muita saudade. Actualmente estou no 2º ano do mestrado, a escrever minha tese e estou a trabalhar como consultora de Business Intelligence há quase 1 ano. Quando olho para trás, vejo que tomei a decisão certa, mas vejo também um período que foi e ainda é difícil em muitos sentidos. Mesmo com o céu azul estonteante lá fora, precisei enfrentar dias cinzentos. Lidar com burocracias, achar o lugar ideal para viver, ter aulas totalmente em inglês, enfrentar problemas de saúde de familiares – há quilômetros de distância -, questionar-me muitas vezes se tomei a decisão correta…

Achava que o maior desafio era largar tudo e vir, na verdade o maior desafio é permanecer forte nos propósitos e perceber que nem sempre (acho que na maioria das vezes), as coisas acontecerão exatamente da forma como foram planeadas e que é necessário ser resiliente e adaptar-se a essas mudanças de rumo. Percebi que o importante é sempre acreditar e nunca considerar que não podemos, que não temos mais tempo, que perdemos a oportunidade. Claro que, o planeamento, o foco, os propósitos devem sempre ser nossos aliados, não tem que ser, como diz o samba, “deixa a vida nos levar” simplesmente. Só que às vezes somos muito rígidos com os caminhos que queremos para nossa vida, o que faz com que percamos justamente a satisfação de desfrutar dessa caminhada, de arriscar uma nova via, uma nova estrada e todas as possibilidades que isso pode nos trazer.

“Atravessar oceanos” não é fácil, mas possivelmente seremos gratamente surpreendidos com o que pode estar do outro lado.

 

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