Sociedade 5.0: paradoxos da gestão

Por Elsa Carvalho
Directora de Recursos Humanos da REN – Redes Energéticas Nacionais

Esta é, sem dúvida, uma era de grandes desafios. O futuro da humanidade estará dependente da forma como hoje lidarmos com eles e das soluções que iremos adoptar.

Sociedade 5.0, termo que surge tendo presente o rápido desenvolvimento da tecnologia da informação permitindo a combinação do espaço cibernético com o espaço físico. Também denominada sociedade superinteligente, perspectiva uma mudança que promete revolucionar a sociedade por um bem maior, a humanidade, reposicionando o que criámos em nosso próprio benefício, melhorando significativamente a qualidade de vida do ser humano. Neste caso, a utilização dos sistemas inteligentes como aliados para resolver problemas da humanidade.

Num futuro onde tudo estará conectado, poderemos, de facto, perspectivar uma sociedade mais humana, menos desigual e mais integradora, colocando o ser humano no centro do desenvolvimento? Sabemos que temos actualmente grandes desafios a carecer de respostas e de soluções. Desafios ambientais, mudanças climáticas, crescimento demográfico, escassez de recursos naturais, distribuição desigual da riqueza e instabilidade política e social são exemplos da realidade do mundo onde vivemos.

A ONU, decorrente dos três pilares do desenvolvimento sustentável – económico, social e ambiental – estabeleceu objectivos a serem globalmente implementados até 2030. O combate à pobreza, a segurança alimentar, o acesso a cuidados de saúde e educação, água e energia são alguns deles.

Esta é, sem dúvida, uma era de grandes desafios. O futuro da humanidade estará dependente da forma como hoje lidarmos com eles e das soluções que iremos adoptar. Se o mundo de hoje é a herança dos nossos antepassados, as nossas acções no imediato serão o legado que deixaremos às gerações vindouras. Poderemos de facto perspectivar que a utilização dos sistemas inteligentes serão a solução para os actuais desafios da humanidade ou, acima de tudo, servirão para potenciar o crescimento das sociedades já desenvolvidas acentuando as diferenças?

Hoje, a nível empresarial, falamos de diversidade, sustentabilidade e responsabilidade. Aprendemos que a criação de riqueza não pode ser mais a todo o custo. Uma empresa sustentável é uma empresa que, a par com sustentabilidade financeira, apresenta preocupações sociais e ambientais. As competências e capacidades do passado já não são hoje as necessárias para prepararmos o futuro. Um futuro que, embora imprevisível, precisa de ser urgentemente planeado.

Seremos nós hoje capazes de identificar e desenvolver as competências necessárias no futuro? Será a holocracia (também definida como “tecnologia social” pelo seu criador) a melhor forma de gestão, de forma a potenciar a facilidade na tomada de decisão e tornar as empresas mais ágeis perante os novos desafios e necessidades?

É certo que, promovendo uma descentralização das responsabilidades entre todos os intervenientes e uma organização ágil e dinâmica, que se restrutura em função das suas necessidades e desafios, o poder é distribuído em função dos papéis de cada um, num dado projecto/ desafio. Estarão os gestores preparados para estas novas abordagens de gestão, abdicando dos seus clássicos papéis de decisores e de poder, em prol de uma organização mais ágil e adaptável em todo e qualquer momento?

Friedrich Nietzsche, no livro “Assim falou Zaratustra”, denunciava a necessidade de quebrar os valores morais e a hipocrisia de uma época. Zaratustra não ambicionava discípulos nem seguidores, mas antes, aliados.

No fim desta reflexão, volto a citar Nietzsche: «Quem constrói o futuro está muito ocupado para julgar o passado.»

Artigo de opinião publicado na Revista Human Resources n.º 91 de Maio de 2018.

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