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Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”
Num tempo onde se exige andar sempre à frente dos ponteiros do relógio, onde a preparação do futuro é feita hoje com uma capacidade de adaptação e antecipação constantes, impondo-se o multitasking e multi… tudo, investimos o nosso conhecimento e o nosso tempo a conhecer melhor os nossos mercados actuais e novos mercados, os nossos concorrentes, os nossos produtos ou serviços, sempre com uma preocupação constante com o digital.
Por Ana Porfírio, directora de Recursos Humanos da Jaba Recordati e conselheira editorial da revista Human Resources
Enquanto profissional de recursos humanos não posso deixar de me perguntar porque não fazemos o mesmo investimento de tempo a conhecermo-nos melhor e aos profissionais da nossa organização com quem trabalhamos todos os dias – chefia, pares e equipa. Quando foi a última vez que investi tempo meu nesta reflexão: em que é que somos individualmente mesmo muito bons? E que fragilidades individuais temos? De facto, não tenho uma resposta objectiva e temporal. Mesmo quando acontece esta reflexão, antecipo que muitos de nós acabemos por nos focar na segunda interrogação o que nos leva a preparar planos individuais de desenvolvimento e respectivos planos de acção de curto ou médio prazo, procurando desenvolver as nossas fragilidades e desfocando-nos daquilo em que somos realmente bons, que nos diferencia e que, no meu entender, deveria ser o foco do nosso desenvolvimento garantindo que passamos de bons a experts numa determinada competência ou matéria.
Não valerá a pena continuar a investir naquilo em que já somos reconhecidos como “fortes” em vez de sermos “obrigados” a dispersar a nossa energia e foco em áreas onde temos ainda muito que melhorar. Não será preferível procurar soluções de cooperação nesses casos com outros que tenham essas como as suas áreas de especialidade?
Considero importante que as nossas organizações criem o espaço e o ambiente necessários a esta desafiante reflexão, essencial para capitalizar o nosso melhor e cuidar de avaliar os impactos que tem no nosso negócio, nas nossas relações e nas nossas pessoas. Este processo não é difícil mas é exigente considerando que implica o muitas vezes doloroso julgamento próprio e autocrítica aos quais nós, a nossa sociedade, cultura e organizações não estão muito habituados.
Deixo-vos o desafio de fazermos como Sócrates ao utilizar o aforismo grego “conhece-te a ti mesmo” como pedra angular do pensar, e potenciarmos o desenvolvimento e o expertise das nossas pessoas com o foco naquilo em que já são realmente boas sob pena de estarmos a investir e a desenvolver um conjunto de profissionais medianos em tudo.