Soltar o descobridor que há em nós
Opinião de Luís Reis
Cluster Leader of Southern Europe of Hay GRoup e Conselheiro da Revista HR Portugal
Que a internacionalização é uma tendência já não é novidade – vivemos na era da globalização. O fraco crescimento económico que se tem verificado e a falta de oportunidades de negócio interno levam muitas empresas a focarem-se na internacionalização como estratégia de crescimento e mesmo de sobrevivência.
No entanto, e apesar de estarmos a dar largos passos na senda do crescimento além fronteiras, a maioria das organizações ainda está aquém das melhores práticas das empresas mais admiradas do mundo, nomeadamente no que diz respeito à gestão de talento à escala global.
Nas empresas nacionais a mobilidade internacional é vista como um projecto de curto prazo, que garante um acréscimo salarial significativo e estável já que 74% dos colaboradores têm incrementos de 100% na sua retribuição base e a retribuição variável é abaixo dos 10%. Em acréscimo, 37% das empresas nacionais não possuiu ou não aplica um sistema de avaliação de desempenho à escala global e por isso é vista como uma forma de colmatar necessidades a curto prazo, em troco de dinheiro, e não numa perspectiva de desenvolvimento do negócio a longo prazo.
As multinacionais de referência olham para a internacionalização como um modelo estratégico integrado, incluindo a mobilidade internacional como uma competência chave no desenvolvimento profissional e na evolução de carreiras, isto porque, a internacionalização dos colaboradores não só permite obter uma visão mais global do negócio, como “dá mundo” às pessoas e impulsiona em cerca de 35% o nosso espírito de inovação – outro dos factores críticos de sucesso na economia actual. Acresce que no plano financeiro optam por políticas retributivas mais flexíveis, com um peso superior de retribuição variável que em média ascende 30% da remuneração base.
Historicamente os Portugueses têm grandes feitos à escala mundial, mas se há coisa que nos caracteriza é não saber dar seguimento às conquistas. A nossa capacidade de adaptação à mudança e de reagir perante a adversidade é-nos reconhecida a nível mundial. Falta-nos planeamento, uma abordagem mais estruturada, para encarar o futuro de forma sustentável.
É importante aprendermos com os erros e até agora temos aproveitado as vantagens competitivas que o nosso passado destemido nos trouxe: alavancar a nossa economia numa das maiores potências económicas a nível mundial, o Brasil, assim como nos países africanos de língua oficial portuguesa que são outros dos mercados em clara ascensão – vantagens herdadas por uma partilha não só de idioma como anos de história e fusão cultural.
Mas estas vantagens dissipam-se se não continuarmos a crescer, explorar outros mercados, procurar novos desafios e arriscar em novas formas de fazer as coisas. E só seremos capazes de competir sustentadamente se pensarmos e desenvolvermos o nosso talento a longo prazo capitalizando a diversidade cultural que estas experiências nos trazem.
É nos momentos de crise que devemos soltar todo o nosso ADN de descobridor.