Sou workaholic. E então?

Não faz mal adorar o meu trabalho, desde que se encontrem pistas accionáveis que nos façam desligar ou reequilibrar o nosso comportamento. Mas o nosso bem-estar físico, mental e emocional, não tem de ser balizado entre categorias pretas ou brancas.

Por Rita Duarte, directora de Recursos Humanos da Talenter

 

Este testemunho é pessoal mas também é profissional. É exemplo de uma tendência que me abalroou faz dois anos e que marca a importância da integração de todas as dimensões pelas quais navego na minha vida – afinal, sou pessoa e também filha, esposa, amiga, nadadora, apaixonada por pastéis de nata, perpétua estudante e directora de Recursos Humanos do grupo Talenter.

Todas estas dimensões eram difíceis de equilibrar, independentemente do número de artigos lidos sobre worklife balance. O início de carreira foi particularmente desafiante e, como é já percebido como comum na consultoria, as horas trabalhadas suplantavam em muito as horas dedicadas à família e amigos. Ao ritmo frenético que há anos me acompanha, acrescia a sensação de impotência e frustração de não conseguir esticar o tempo. Assumi-o como uma incapacidade minha, uma desorganização da minha agenda e da minha vida, que rapidamente deteriorava as minhas relações; quem me rodeava, percebia esta ausência como uma quebra na confiança estabelecida e uma directa consequência da minha escolha: o trabalho antes “do resto”.

Demorei a perceber que não faz mal adorar o meu trabalho, desde que se encontrem pistas accionáveis que nos façam desligar ou reequilibrar o nosso comportamento: seja o horário a partir do qual não se atende o telefone, seja o jantar em família que não é negociável, seja o sair todas as sextas-feiras às 17h para uma date night com o marido, ou sejam as que melhor resultam para quem me lê. Percebi que o nosso bem-estar físico, mental e emocional, não tem de ser balizado entre categorias pretas ou brancas e que, pelo contrário, os cinzentos são opções muito válidas, desde que alinhadas com as nossas expectativas e necessidades.

Neste caminho, abdiquei do conceito worklife balance e apostei fortemente no worklife blending, em que a relação da vida pessoal e profissional permite uma maior fluidez entre ambas; afinal, conseguimos ter simultaneamente vários focos na nossa vida, com importâncias semelhantes para o nosso bem-estar. Significa que não conseguimos controlar a imprevisibilidade da vida no nosso dia-a-dia e, o mais importante, assume que essa impossibilidade não faz mal.

O worklife blending mostra que está nas mãos de cada um identificar a sua fórmula de prioridades e necessidades ao invés de remeter para os papéis sociais desempenhados. Na Talenter™ fazemos por o integrar na nossa forma de estar. Posso estar a tomar conta de um familiar doente enquanto trabalho em remote ou integrar uma ida ao ginásio em pleno horário de trabalho; posso assegurar uma reunião bem depois do horário de fecho do escritório ou tratar de alguns pendentes durante uma calma manhã de férias.

A melhor parte? É um conceito muito mais orgânico, adaptável ao meu contexto e que pode mudar ao longo dos dias, meses ou anos, conforme as minhas prioridades e exigências se alteram. A par disso, mostra a confiança que temos nas nossas pessoas, ao dar-lhes a certeza que são elas próprias as melhores gestoras do seu tempo e das suas prioridades.

Quanto a mim, sou workaholic e adoro. Ainda estou a descobrir um caminho de integração que me permita ser mais feliz em todos os meus papéis, enquanto mostro a quem me rodeia que ser viciada em trabalho não significa que não os ame. Bem pelo contrário, são igualmente importantes para que seja quem e como sou.

 

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