Tecnologia e globalização aumentam desigualdades no mercado de trabalho

A tecnologia e a globalização tendem a aumentar as desigualdades no mercado de trabalho, alertou o economista Luís Cabral, na conferência online “O Futuro do Trabalho – Garantir que Ninguém é Excluído” organizada pela agência Lusa.

 

Na abertura da conferência, Vitor Costa, director-adjunto de informação da Agência Lusa chama a atenção para o facto desta se realizar desta forma precisamente por causa da pandemia. «Estaríamos numa sala com pessoas mas provavelmente não poderíamos contar com a participação de especialistas que estivessem noutra geografia, tal como vai acontecer neste evento, nem chegaríamos a um público que está, por exemplo, em Angola ou Cabo Verde entre outros países».

«Muitos dos empregos vão ser vítimas do progresso tecnológico e da pandemia e os novos empregos terão pouca estabilidade e benefícios sociais», afirmou o professor da universidade de Nova Iorque, o economista Luís Cabral, defendendo que, para garantir que ninguém é excluído, é preciso mudar o actual sistema de solidariedade social.

«A tecnologia e a globalização tendem naturalmente para a desigualdade», salientou o economista.

Luís Cabral apontou que é preciso uma «reforma fiscal», defendendo que é necessário «dar melhores condições às empresas» e «menos incentivos a quem apareça com inovações para aumentar a produtividade e substituir o emprego».

Para o economista, que também é professor na AESE Business School, «a globalização terá um impacto enorme na emergência do teletrabalho» e, após a pandemia COVID-29, que veio acelerar o recurso ao trabalho à distância, será impossível voltar ao que existia antes. Porém, para Luís Cabral, a mudança não deverá ser «do oito para o oitenta», mas sim através de «um modelo equilibrado entre aquilo que havia em janeiro de 2020 e o que aconteceu no confinamento».

 

Bethy Larsen, da People & Organisation partner da PwC, defendeu que as empresas têm de rever as suas políticas de recursos humanos sublinhando que nem todos os trabalhadores terão as mesmas facilidades na adaptação no regresso à normalidade, em que tudo aponta que o trabalho será feito num misto de presencial e remoto.

Para a directora de recursos humanos da L’oreal, Clara Trindade, as empresas e os trabalhadores terão de ter «mais agilidade» para tomar decisões sobre pressão, reinventar modelos de negócio, ao mesmo tempo que é necessário requalificar ou formar pessoas para novas competências.

Já o director de recursos humanos da CUF, José Luís Carvalho, realçou que «a capacidade de aprendizagem e de adaptação vão ser muito importantes para o futuro» do trabalho, pois a digitalização vai criar emprego, «mas empregos muito diferentes dos actuais».

Por sua vez, o médico psiquiatra António Sampaio disse que a adaptação é inerente ao ser humano, mas «demora o seu tempo» sublinhando que «se for urgente» há a probabilidade de haver «muitos excluídos» no novo mundo laboral.

 

Miguel Cabrita, secretário de Estado adjunto do Trabalho e da Formação Profissional refere que a realidade actual é de facto muito exigente para todos. «Passamos uma realidade muito exigente para todos, Estado, serviços públicos, empresas e trabalhadores», refere no fecho da conferência. «Estamos num momento decisivo e muito acelerado de mudança de confronto com a realidade do novo modelo de trabalho que se alterou e acelerou de modo imprevisível desde o principio do ano», recorda.

Para Miguel Cabrita o que está em causa é o balanço entre «tentar tirar o máximo partido de todas as oportunidades, mas minimizar os riscos».

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