
Tem dificuldade em decidir com ousadia? Estas dicas vão ajudar a mitigar os riscos (perante realidades incontronáveis)
O relatório “Liderar, Decidir com Ousadia” da LLYC, um guia das realidades que devem ser tidas em conta por todos aqueles cujo trabalho consiste em tomar decisões, desde o CEO de uma empresa até aos responsáveis pelos departamentos de finanças, marketing ou talento. Em suma, todos aqueles cujo trabalho consiste em gerir o risco.
O estudo identifica nove realidades incontornáveis e analisa como podem ser geridas de forma estratégica para mitigar riscos e capitalizar oportunidades. Vários directores da LLYC partilham a sua visão sobre estes desafios e os caminhos para os enfrentar com sucesso.
1. Prepare-se para a mudança permanente
Desta vez, pode ser mais radical. Acabámos de viver um “super ciclo eleitoral”. Em 2024, 1,6 milhões de pessoas votaram em eleições livres. Em vários países, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, os cidadãos exigiram uma mudança radical. Noutros países, como a Índia, a França ou a África do Sul, transmitiram aos seus governantes que não estavam satisfeitos e obrigaram-nos a formar novas coligações e a acolher novos actores políticos. Este é o sinal de que existe um grande descontentamento global com a situação actual. Os políticos recentemente eleitos vão tentar implementar as medidas que os cidadãos exigem.
Mas a mudança política não é a única mudança. Faz parte de um processo tecnológico, cultural e económico mais vasto que engloba praticamente tudo. Isso irá criar uma grande instabilidade, mas também, possivelmente, algumas oportunidades. Fala-se sempre de mudança. Mas, desta vez, é provável que seja mais radical. «Até que ponto estamos abertos a colaborar com startups que podem trazer novas tecnologias ou soluções inexploradas? Até que ponto estamos abertos a participar em mudanças ou desenvolvimentos regulamentares e normativos?», pergunta María Esteve, sócia e directora-geral de Estratégia de Corporate Affairs da LLYC.
2. Há já algum tempo que falamos de IA
Em breve saberemos a dimensão do seu impacto. Estamos a entrar num momento chave para sabermos o que podemos esperar do avanço da IA. De acordo com o Economist, há actualmente onze biliões de dólares (ou seja, milhares de milhões) investidos em centros de dados. A isto junta-se a concorrência cada vez mais feroz entre empresas e modelos de IA, que recentemente revelou a aposta da chinesa DeepSeek no código aberto e nos baixos custos. A inteligência artificial afeCta o bem-estar das pessoas, a gestão de talento, a detecção de grandes padrões e a automatização dos processos.
Em suma, tem um enorme impacto nas empresas e será certamente benéfica para os early adopters. Parece inevitável juntarmo-nos a esta enorme aposta. «A IA não é uma moda, é a base da próxima revolução industrial e as empresas que a adotarem no seu modelo vão liderar a próxima década», afirma Miguel Lucas, director global de Inovação da LLYC.
3. Há um recuo em relação aos valores que merecem ser defendidos
Neste novo clima político, muitas empresas estão a abandonar os modelos DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) e ESG (Ambiente, Sustentabilidade e Governação). É o que se está a ver claramente nos Estados Unidos. É provável que isto entre em conflito com a visão europeia e com a regulamentação da UE, uma vez que o modelo DEI tem um sentido estratégico. Enquanto os clientes, os colaboradores, os fornecedores, os accionistas e a sociedade em geral continuarem a ser pluralistas, defender a pluralidade é uma mais-valia.
Enquanto os recursos forem escassos ou o clima continuar a aquecer, ser sustentável é uma estratégia vencedora. O modelo DEI e o modelo ESG não foram apenas uma moda, mas uma demonstração de orgulho e uma boa aposta a longo prazo. Para Luisa Garcia, sócia e directora-geral Global de Corporate Affairs da LLYC: «Avançar é possível, mas requer uma análise abrangente. A narrativa resultante deve ser apoiada pela direcção e estar totalmente integrada nas equipas de liderança.»
4. Se quiser que o sucesso perdure, o pior inimigo é a inação
No seu bestseller “Think Again”, o psicólogo organizacional Adam Grant afirma que preferimos a comodidade da certeza à insegurança que provém da dúvida. No campo da economia, este comportamento é designado por path dependency (se me saí bem a fazer isto, porque é que devo mudar de estratégia?). Um dos exemplos que os economistas mais gostam é o da transição da fotografia analógica para a digital: as empresas dedicadas à primeira tiveram tanto sucesso que muitas tiveram dificuldade em “desaprender”, inovar e mudar o seu modelo. Actualmente, sem nos darmos conta, muitos de nós podem estar a cometer o grande erro da inação.
5. A desinformação já não é um incómodo ocasional
É o novo ecossistema. O Fórum Económico Mundial considera a desinformação e as falsas narrativas como um dos principais riscos para 2025. A Meta eliminou os controlos sobre os conteúdos. Elon Musk alterou o algoritmo do X. O do Tik Tok é um mistério. Estão a surgir novas redes como a Bluesky ou a Rednote. A fragmentação vai aumentar: cada um estará na rede social onde pode consumir opiniões como a sua e ignorar as outras.
A desinformação, as falsas narrativas e a fragmentação ideológica vão dominar uma grande parte da conversa pública. Neste contexto, os valores da empresa são susceptíveis de serem atacados ou manipulados em proveito próprio, sem que uma resposta formal ou a identificação da verdade seja uma resposta eficaz. É necessário reflectir cuidadosamente sobre a forma de enfrentar a situação.
6. A regulamentação está a mudar cada vez mais rápido
Quem não gostaria de a influenciar? Bruxelas apresentou o seu principal projecto para os próximos cinco anos. Chama-se Competitiveness Compass e contém alguns elementos regulamentares muito disruptivos para qualquer empresa que opere na UE. E não só: 53% das leis aprovadas em Espanha entre 2019 e 2024, por exemplo, derivam de directrizes e decisões europeias. Nos Estados Unidos, as mudanças estão a ocorrer de forma dramática e rápida. Na América Latina, as regras estão a mudar devido a acordos comerciais e a governos que procuram transformar o status quo.
Sentar-se à mesa onde são tomadas as decisões regulamentares tornar-se-á cada vez mais importante. As entidades reguladoras estão cada vez mais conscientes de que precisam de conhecer a experiência dos agentes económicos. E os agentes económicos sabem cada vez melhor como se devem organizar para serem ouvidos de forma transparente.
7. As pessoas têm uma relação cada vez mais ambígua com a tecnologia
Os executivos das grandes empresas tecnológicas, como Elon Musk, Mark Zuckerberg, ou os investidores de Silicon Valley, como Peter Thiel ou Marc Andreessen, são cada vez mais influentes na política mundial. Isto é uma consequência do sucesso dos seus produtos e investimentos, ou do acesso que têm aos decisores políticos. Mas também levou a um maior ceticismo em relação ao poder que está concentrado na tecnologia.
Cerca de 90% da população dos países ricos utiliza a Internet diariamente. Mas a confiança na Internet continua a diminuir. A nossa relação com as redes sociais e o mundo digital é hoje um pouco mais conflituosa do que no passado recente e não devemos considerar os cidadãos como adictos acríticos no lado digital da vida.
8. Uma pessoa da geração Z pode vir a ser o seu chefe. E um silver pode tornar-se o seu melhor cliente
No mundo dos países ricos, há 250 milhões de pessoas nascidas entre 1997 e 2012. São os membros da Geração Z. Nos Estados Unidos, já há mais trabalhadores da sua geração do que da geração dos baby boomers. A Geração Z está a definir cada vez mais o consumo e as condições de trabalho: querem mais sustentabilidade, estão mais preocupados com o clima e a diversidade e não consideram que a carreira seja a prioridade da vida. Querem mais flexibilidade.
Ao mesmo tempo que isto acontece, a população está a envelhecer. Em Espanha, 20 milhões de pessoas têm mais de 65 anos. E os idosos estão a tornar-se um sector do mercado em expansão.
9. O mundo está a fragmentar-se em blocos: bem-vindo à bioglobalização
Desde a década de 1990, que partimos do princípio que o mundo se tornaria cada vez mais globalizado e que o fluxo de capitais e de mercadorias se tornaria mais fácil e mais barato. O mundo estaria cada vez mais interligado. Actualmente, este pressuposto está em crise. O mundo não se desglobalizou, mas o processo de interconexão tornou-se mais lento e caótico. E estamos perante um novo risco: o da fragmentação. E, mais concretamente, da bipolaridade.
Se esta tese estiver correcta, os Estados Unidos e a China liderarão dois blocos globais e o resto do mundo terá de escolher entre pertencer a um ou a outro. As cadeias logísticas, as estratégias de exportação e importação, os investimentos no estrangeiro e os padrões de consumo serão profundamente afectados por esta situação.