Todos somos líderes. Mas seremos todos líderes com impacto?
Por Mariana Cunha Amaro, Retail Industry advisor na Microsoft e Board member da PWN Lisbon
Tenho a convicção firme de que todos somos líderes. Todos. Independentemente do nosso cargo actual, do nível hierárquico, do grau de responsabilidade, ou do número de pessoas em reporte directo, todas as pessoas têm capacidade de liderar.
Já a questão do impacto constitui, na minha opinião, uma das dimensões a analisar aquando da classificação de uma liderança como “boa/rica” ou “má/pobre”.
Comecemos por partes, e comecemos por uma questão inúmeras vezes endereçada: o que é a liderança?
O conceito de liderança, assim como a sociedade onde vivemos, tem evoluído ao longo dos tempos.
Viajemos por momentos no tempo, até à Idade Média na Europa, com regimes feudais onde a liderança se caracterizava por ter poderosos nobres com terras e vassalos, a comandar uma dura estrutura hierárquica. Períodos coloniais são também outro exemplo de liderança através da imposição assim como também as empresas no início do século XX, com modelos de liderança completamente unilaterais, com cadeias claras de comando. Estes três exemplos dão corpo à definição de “liderança tradicional”: um modelo de decisão de cima para baixo, no qual quem decide é o líder e quem operacionaliza são os seus subordinados, com um foco predominante na autoridade ao invés da colaboração.
Felizmente (para todos!), uma corrente de “liderança moderna” tem sido mais predominante no mundo corporativo, desde o final do século XX até aos dias de hoje, propagando-se também na nossa forma de estar na sociedade. Na sua génese não está só uma mudança de mentalidade mas sim a necessidade de inovar mais, a necessidade de mudar mais, de adaptar de forma mais célere, e claro, a tomada de consciência de que o ser humano não conseguirá cumprir estes objectivos de forma dedicada e motivada em ambientes que não sejam mais colaborativos, inclusivos, flexíveis e também orientados ao empoderamento e objectivos da própria pessoa.
Eu sigo os princípios da liderança moderna. E em boa parte também defendo o conceito de “liderança de serviço”, na qual o líder também se encontra ao serviço das pessoas que lidera (ou com quem interage) – contribuindo assim para que a sua equipa ou as pessoas que o rodeiam sejam mais reconhecidas, estejam mais dedicadas e mais felizes quer cognitivamente, fisicamente e/ou emocionalmente.
Então, e por que somos todos líderes?
A minha definição de liderança é: um conjunto de princípios e acções que contribuem para que eu e um grupo de pessoas que me rodeiam alcancem determinado objectivo ou propósito comum. É algo que influencia, que inspira e que ajuda ou suporta alguém em determinada situação ou contexto.
(e a palavra “eu” está cuidadosamente colocada na definição, porque muito dificilmente alguém é líder de outros sem ser auto-líder – tema que merece um artigo per se)
Com esta definição, não creio que exista um cenário em que alguém não possa ser líder. Começando pelo que me é mais próximo, o mundo corporativo, todos, a toda a hora, estamos a trabalhar para um objectivo comum, seja quantitativo ou qualitativo. Somos colaborativos, preocupamo-nos com todos os seres humanos que nos rodeiam (sejam eles clientes, fornecedores, colegas com quem colaboramos ou com quem até nunca colaboramos).
Um professor é líder da sua turma, não por ser autoritário mas sim porque contribui para o objectivo comum do conhecimento, da curiosidade, da inspiração. Um voluntário é líder quer na organização das suas actividades, quer na defesa da causa, é líder em inspirar a equipa com quem trabalha e para quem dedica o seu tempo “extra”. No seio das nossas casas e famílias também demonstramos e aplicamos, diria de forma quase constante, capacidades de liderança.
Mesmo que nem todos possuam numa primeira instância todas as capacidades para ser líder, estas podem e devem ser trabalhadas ao longo da vida, consoante a fase em que cada um se encontra, e no contexto em que cada um se encontra.
E o impacto? Qual a sua importância afinal?
O impacto, neste contexto e na minha opinião, mede o grau da diferença que conseguimos fazer ao aplicar as nossas técnicas de liderança. Diferença essa que não se prende apenas com os resultados de uma organização, mas também na forma como contribuímos positivamente para os outros.
E por isso aqui tenho dúvidas que todos sejamos líderes com impacto. Todos temos potencial para o ser, mas, se as capacidades de liderança podem e devem ser praticadas, as dimensões que suportam uma liderança com impacto têm de ser ainda mais praticadas:
- Visão e propósito: um líder com impacto tem uma excelente capacidade de articular uma visão e propósito que inspira e motiva;
- Empatia e inteligência emocional: uma das dimensões mais importantes para criar a confiança e fidelidade necessária para alcançar um objectivo comum, com impacto;
- Comunicação e colaboração: ouvir, ouvir, ouvir, promovendo um ambiente de comunicação aberta – diferentes perspetivas vão proporcionar um resultado mais rico;
- Agilidade na mudança e inovação: muitas ideias surgem em momentos inesperados, criando impacto quase imprevisível mas essencial para a sustentabilidade das empresas e das pessoas;
- Autonomia e desenvolvimento pessoal: equipas empoderadas contribuem de forma ainda mais íntegra e só com princípios de constante crescimento e aprendizagem se torna possível ir para além do óbvio;
- Integridade: honestidade, transparência e ética como pilares basilares em lideranças com impacto (mas muitas vezes esquecidos noutros cenários);
- Diversidade, equidade e inclusão: líderes com impacto têm consciência de que as teóricas diferenças são sim oportunidades para criar ambientes mais justos, de respeito e de valorização.
Uma liderança com impacto (positivo!) é uma boa liderança. Existem muitas pessoas em posições formais de liderança que são maus líderes, e muitos bons líderes que não têm qualquer autoridade formal.
Concluo com um desafio: reflictam sobre o que observam no vosso dia-a-dia, em todos os contextos por onde passam: são líderes ou são líderes com impacto?
Nota: O PWN Lisbon Dream Day, evento anual da PWN Lisbon, vai realizar-se dia 28 de Novembro, na Estufa Fria, em Lisboa, este ano com o tema “Liderança com impacto”.