Um ano de teletrabalho: o que nos ensinou uma pandemia à escala mundial?

Existem inúmeras datas comemorativas nos nossos calendários. Podemos encontrar dias para tudo, mas nem sempre pelas melhores razões, como o passado dia 2 de março, que marcou um ano desde a chegada da pandemia de COVID-19 a Portugal. Há um ano, após o aparecimento do primeiro caso, as empresas viram-se obrigadas a tomar medidas para colocar os seus colaboradores a trabalhar à distância. Entrávamos num tempo nunca antes vivido e num cenário totalmente desconhecido, em que, tal como sentimos na CBRE Portugal, a segurança de cada um foi prioridade máxima.

Por Catarina Coutinho, People Associate Director da CBRE Portugal

 

O teletrabalho é provavelmente uma das maiores mudanças provocadas pela pandemia, ao levar empresas e trabalhadores a adaptarem-se a uma nova realidade que veio certamente para ficar, ainda que através de modelos mais equilibrados e de uma forma não forçada como a que vivemos com o confinamento obrigatório. No final do segundo trimestre de 2020, um milhão de pessoas (23,1% da população empregada) estava em trabalho remoto, de acordo com dados do INE. Ainda assim, e até à data, a grande maioria dos trabalhadores nunca tinha tido uma experiência de trabalho remoto – muito menos prolongada – e eram poucas as empresas com modelos consolidados nesta área.

O debate em torno do futuro do trabalho e das mudanças no mercado laboral tem gerado diversas opiniões. Desde logo, os mais cépticos acabaram por perceber que existem mais-valias em trabalhar remotamente como os ganhos de tempo e a eficiência em alguns processos, sendo que, em alguns casos, a produtividade até aumentou.

Por outro lado, os que eram apologistas da ampla implementação desta tendência sentem agora que o escritório continua a ser essencial para aproximar as equipas, evitar a criação de rotinas desmotivadoras em casa, fomentar processos de cocriação e inspiração e transmitir a cultura corporativa que de outra forma acaba por se diluir. Pela forma inesperada como o conhecemos, este modelo de teletrabalho ainda não nos permitiu encontrar a separação entre a vida profissional e a vida pessoal, nem afirmar onde termina o nosso escritório e começa a nossa casa. O facto de estarmos em confinamento impede-nos de fazer uma avaliação imparcial e de medir com clareza as vantagens e as fragilidades desta modalidade.

Certo é que, no futuro, as empresas terão que considerar o teletrabalho como um beneficio adicional para os colaboradores. Aliás, importa ressalvar que muitas empresas se encontravam, no momento da chegada da pandemia, num processo de transição para o formato de teletrabalho e a pandemia proporcionou uma aceleração desses casos.

Uma vez ultrapassada a pandemia, sabemos que o recurso ao teletrabalho não será feito de forma massiva, mas não há dúvida de que alcançará níveis superiores face ao que sucedia em momento anterior. A nova realidade empresarial deverá compreender um ambiente de trabalho híbrido, prevendo-se que as empresas convertam parte da área afecta aos postos de trabalho convencionais em espaços de estímulo à criatividade, integrem serviços e actividades destinadas aos colaboradores e desmaterializem a sede corporativa em mais do que uma localização – mais perto dos locais de residência dos colaboradores. Assistiremos também a um aumento do número de edifícios com certificações energéticas e de bem-estar, reflexo de uma crescente preocupação com a sustentabilidade.

O teletrabalho está a exigir uma enorme confiança nas equipas e existem perfis que, mesmo que entreguem resultados e se mantenham motivados, acabam por estar mais ‘ausentes’ e descolam da cultura da empresa. É por essa razão que o modelo híbrido é o que mais se aproxima de um registo de flexibilidade e do chamado ‘work life balance’, tantas vezes desejado pelos colaboradores. Haverá realidades muito distintas conforme o setor de atividade, mas o teletrabalho passará a assumir um papel central na estratégia das empresas para a atração e retenção de talento, no equilíbrio da vida dos trabalhadores e como instrumento para assegurar os níveis de produtividade.

Resta saber, de todas as lições que temos vindo a retirar ao longo da pandemia, quais são as que queremos que fiquem para mais tarde. Quais as experiências que não teríamos tido na ausência da pandemia, mas que queremos reter porque aprendemos algo com elas?

Tal como aconteceu em muitos momentos da história, as crises são aceleradores de mudança e, por isso, uma coisa é certa: nunca mais seremos os mesmos.

 

 

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