Um código de conduta, para apoiar o potencial da IA e combater a desinformação
Por António Saraiva, Business Development manager – ISQ Academy
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, referiu que o mundo deve enfrentar o «grave dano global, causado pela proliferação de ódio e desinformação no espaço digital», salientando que «as empresas não podem colocar os lucros acima de tudo». Sob a égide do Secretário-Geral é lançado o Corpo Consultivo de Inteligência Artificial (IA), com o intuito claro de moldar a IA para o bem comum.
Este corpo consultivo, composto por 39 especialistas de várias partes do mundo, destaca-se pela igualdade de género, diversidade geográfica e representatividade multigeracional. A sua principal missão é analisar riscos, oportunidades e governação internacional relacionadas com a transição digital.
As entidades e lideranças dos países economicamente mais desenvolvidos estão, à partida, conscientes da necessidade de que a IA, tendo por base as suas fortes potencialidades, tenham na base a integração e respeito pelos valores da humanidade. Daí o acordo recente do G7, gerando e divulgando os Princípios Orientadores e o Código de Conduta sobre IA.
Pretende-se que não seja mais uma intenção e o ficar no papel de frases esteticamente conseguidas. O que verdadeiramente é importante é um compromisso de governos e empresas tecnológicas, em particular, de evitarem apoiar ou amplificar a desinformação e discursos nefastos para a sociedade em geral. Há um foco claro numa tecnologia segura, responsável e, acima de tudo, ética, em linha com os direitos humanos consagrados. O potencial da IA é mais que fundamental, em matérias relacionadas com a educação, o ambiente, a saúde, mas há que acautelar que não se gere um monstro incapaz de se controlar.
É, pois, nesta leitura das intenções mais globais e de quem deve ter, sem dúvida, responsabilidades acrescidas, tendo em conta as decisões que afectam a humanidade, que se podem desenhar intervenções e acções específicas. Numa era digital, somos bombardeados com inúmeras informações. As redes sociais democratizaram a partilha de notícias, em que o que é simples pode transformar-se grandioso em poucos segundos. A desinformação pode revelar-se de alta perigosidade, já que pode estar sem controlo a verificação de factos, assumindo-se como verdade, uma… não verdade! E quando a verificação surge, o seu resultado, pode gerar desconfiança sequente, o que pode trazer angústia e desconforto nos receptores.
As consequências da desinformação podem atingir a destruição ética e moral de uma pessoa, ou mesmo de um grupo de pessoas. Associamos muitas vezes este tipo de acontecimentos ao que é de carácter mais público, próximos de órgãos ou entidades de poder. Mas, a verdade é que acontece muitas vezes em situações que poderemos considerar mais micro, como pode ser o caso das empresas, consideradas no seu conjunto, ou nos indivíduos que as constituem. E já não vamos para o nível de características mais sociais.
Quem gere pessoas, ou tem responsabilidades pela comunicação organizacional, tem, pois, aqui um papel acrescido, obviando as questões de desinformação, em que, normalmente, é devidamente contrariada pelo trabalho exaustivo de abertura e transparência na informação, de forte objectividade nas mensagens transmitidas e, muito, ainda, na consolidação da cultura organizacional, com defesa de padrões éticos e na vivência diária dos valores organizacionais.