Um furacão na Gestão de Pessoas

Por Ricardo Florêncio

Existe um verdadeiro furacão no mundo da Gestão de Pessoas. E não se está a dar a devida atenção a esta situação, atenção que ela merece apenas e só porque efectivamente vivemos tempos conturbados, com o aumento de custo de vida com que vivemos hoje e todas as consequências que daí advêm para a vida das pessoas. Mas há dúvida de que esse furacão existe. E se não se fizer nada de concreto, objectivo e imediato, a tendência é para piorar muito rapidamente. O défice entre pessoas que entram e saem do mercado de trabalho é cada vez maior. E, dado o envelhecimento da população e a nossa pirâmide etária totalmente invertida, prevê-se um défice de 50 mil pessoas por ano, nos próximos 10 anos.

Por outro lado, e atendendo à evolução do mercado e as necessidades que esse mercado apresenta, temos cada vez menos pessoas com as competências e perfis necessários. Atendendo a esta nova era de globalização do mercado de trabalho, as que têm esse conhecimento, essas competências, aquelas que formamos, fogem para outros países, ou ficam por cá mas trabalham para fora, pois recebem outro tipo de condições com que as nossas empresas não conseguem competir. E quando as empresas o fazem, e quando têm mesmo necessidade de o fazer, é através de um esforço adicional, que pode inclusive colocar em causa a sua rentabilidade. Além disso, a alta tributação sobre o trabalho que temos vigente em Portugal também não contribui para colmatar estas dificuldades.

Noutra vertente, as alterações à legislação laboral em nada vêm colmatar esta situação. É óbvio que os trabalhadores/colaboradores têm de estar protegidos e ver os seus direitos defendidos. Mas actualmente, quando a flexibilidade e a necessária produtividade são temas dominantes, toda a carga colocada em cima das empresas leva a que estas olhem com cautelas adicionais na hora de contratar. E assim, se estas alterações às leis laborais têm como objectivos incentivar o emprego e proteger os trabalhadores, não são esses os resultados.

Deste modo, temos falta de recursos, e ainda mais de recursos qualificados, uma tributação sobre o trabalho alta, e uma legislação laboral que não está em linha com o mundo actual do mercado. Junte-se a tudo isto o clima de instabilidade em que vivemos e, sim, temos um verdadeiro furacão no mundo da Gestão de Pessoas.

Editorial publicado na revista Human Resources nº 146, de Fevereiro de 2023

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