Um novo olhar sobre a produtividade

Por Ricardo Parreira, CEO da PHC

 

Quando chegou a pandemia, a preocupação com o teletrabalho foi urgente. Tão urgente que parte da forma como as equipas interagem, se organizam ou reúnem, se alterou substancialmente. Vimos os benefícios das reuniões remotas, do tempo que poupámos no trânsito, ou do conforto de não sair de casa num dia de chuva.

A todos estes benefícios somou-se também a preocupação com a ansiedade, a saúde mental ou a segurança dos colaboradores. Mas, nada disto fica completo sem se abordar a questão incontornável da produtividade. Pensar na sustentabilidade do trabalho remoto é também pensar na capacidade das equipas e das pessoas produzirem sem se encontrarem fisicamente todas no mesmo local. E, tal é apenas possível, se as lideranças abandonarem a velha ideia da avaliação pela observação do trabalho.

Se o teletrabalho veio para ficar, mesmo que num modelo híbrido, torna-se insustentável controlar se a pessoa está a trabalhar. A asfixia emocional que muitas pessoas sentiram no início da pandemia, com os seus líderes a ligarem de cinco em cinco minutos, é hoje impensável. Não só revela a necessidade de adaptação de algumas lideranças a este contexto, como contribui para uma degradação do foco e da capacidade de entrega.

Felizmente, a gestão em Portugal começa a dar sinais de consciência deste tipo de microgestão, com 66% das empresas a referir que as pessoas devem ter acesso a ferramentas que lhes permitem trabalhar onde for mais conveniente. Esta ideia de que podemos trabalhar sem a observação direta das lideranças traz um novo olhar sobre a produtividade. A avaliação pela observação, que em muitos casos conta o tempo no local de trabalho, e não o resultado efetivo da função, terá de ser substituída por uma avaliação em função do valor criado pelo trabalho.

Neste sentido, é importante assegurar que as empresas portuguesas fazem esta transição na medida certa. Ou seja, que garantam, pelo menos, que estes quatro pontos-chave são trabalhados:

Primeiro, formar os quadros para este novo tipo de pensamento. O que implica formar as lideranças para os novos modelos de trabalho, para os diferentes perfis de colaboradores, e para o que devem, ou não, fazer para garantir que as suas equipas estão no seu melhor. Mas também formar as equipas com uma mentalidade de responsabilidade pelo entregável, e pelo seu resultado.

Segundo, incorporar sistemas de colaboração por projeto, e em equipa, que definam os papeis de cada um, o que é esperado, e em que datas. Para que seja claro que é esperado que cada um dos envolvidos crie um determinado valor.

Depois, implementar um sistema de avaliação baseado em métricas e indicadores de desempenho, que permita ter uma avaliação mais objetiva do que a mera observação, e que permita também aos colaboradores perceber em que variáveis se devem focar para criar valor da sua função.

Por fim, ter software integrado na empresa que permite que esta nova forma de trabalho seja possível, incorporando este novo olhar sob a produtividade no dia-a-dia das empresas portuguesas. Como sabemos, hoje, todos os negócios são negócios de software, na medida em que é a tecnologia que permite a uma empresa ter os ganhos de competitividade que o mercado assim o exige.

Estes são quatro pontos essenciais para incorporar este novo olhar sobre a produtividade, que será decisivo sobre o futuro do trabalho em Portugal. Se queremos empresas competitivas, temos de fazer com que as pessoas trabalham ao mais alto nível.

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