Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada lançam livro para «ajudar à desconstrução de preconceitos associados às profissões»

No Dia Internacional da Mulher, que se celebra na próxima segunda-feira, dia 8 de Março, é lançado o livro “O Longo Caminho para a Igualdade-Mulheres e Homens no século XXI”, da autoria de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. O objectivo é ajudar à desconstrução de preconceitos associados às profissões.

 

Por Sandra M. Pinto

A obra é editada pelo iGen-Fórum Organizações para a Igualdade em parceria com a Imprensa Nacional e tem ilustrações de Susana Carvalhinhos. Para conhecer um pouco melhor esta iniciativa falámos com as autoras, a ilustradora e com Duarte Azinheira, do iGen-Fórum Organizações para a Igualdade.

 

Para assinalar o Dia Internacional da Mulher, o iGen-Fórum Organizações para a Igualdade desafiou as Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada a escreverem um livro que procurasse sensibilizar as pessoas mais novas para as questões de género no acesso ao trabalho. «A iniciativa foi do nosso amigo Duarte Azinheira, director da Imprensa Nacional, para quem já escrevemos já vários livros», relembram as autoras, «contactou-nos a propor que escrevêssemos uma história sobre a temática da igualdade de género para sensibilizar os mais novos». Há muito que a experiência de professoras e autoras indicou a Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada um caminho adequado para tratar temáticas como esta. «Devíamos partir de uma ficção, uma narrativa, escolhendo situações que poderiam ser vividas pelos leitores», referem «a partir de uma história, colocamos os leitores perante questões que lhes podem surgir e estimulá-los a encarar essas questões como suas».

Com esta obra as conceituadas escritoras de livros juvenis pretendem «em primeiro lugar, captar o interesse do leitor para a leitura, pois sem esse interesse não há livro que cumpra nenhum objectivo». Para o conseguir, criaram personagens com as quais os jovens se possam identificar, ou que possam identificar como amigos ou colegas. «Foi nesse quadro que procurámos abordar o tema da igualdade de género, aliás, como já fizemos com os Direitos Humanos no livro “Livres e Iguais”, também publicado pela Imprensa Nacional». Na opinião de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada é importante alertar as gerações mais novas para este assunto, mas sublinham que «alertar não se pode resumir a falar ou debater o assunto, tem de haver exemplos inspiradores na família, na escola, no clube desportivo, no trabalho, na política, nos meios de comunicação». Mas estão os jovens estão cientes da importância deste tema? «Alguns estarão, outros não, a nossa sociedade não é homogénea e os grupos de jovens são muito diferentes uns dos outros», referem.

Nesta temática coloca-se o papel da educação na desconstrução dos estereótipos de género associados às profissões. Aqui as autoras têm uma opinião bastante cimentada. «Além do que é explicito na escola, na área curricular que inclui a abordagem do tema igualdade de género, ou seja, na Educação para a Cidadania, as vivências entre alunos e com os professores devem ser um exemplo de promoção da ideia de igualdade de género», sublinham, «nos textos e nas ilustrações dos manuais escolares deve haver a preocupação de evitar estereótipos de género, o que , aliás, já acontece».
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada relembram que há muito que os livros escolares não incluem famílias com mães de volta dos cozinhados e pais a ler o jornal. «Há alguns anos os alunos das escolas que visitávamos perguntavam-nos quase sempre: como conciliam a vossa vida de escritoras com a vida familiar? Agora a pergunta surge cada vez menos, mas ocasionalmente ainda surge», relembram, «presumimos que nunca fizeram a mesma pergunta a escritores do género masculino».

A escolha de profissão depende sobretudo do nível de formação dos jovens, acreditam as nossas interlocutoras. «Sabemos que, globalmente, os jovens oriundos de meios menos favorecidos obtêm uma formação mais curta e menos aprofundada, é um problema que deveremos conseguir superar com a escolarização universal de 12 anos, com a expansão do ensino profissional e com uma percentagem cada vez maior de jovens a acederem ao ensino superior», defendem. Apesar de acreditarem que a questão da liberdade de escolha de profissão depende muito mais das condições económicas do que de questões género, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada acreditam que «ainda há preconceitos». Tendo em conta que o livro de destina a um público juvenil vários desafios se colocaram às autoras. «Tivemos de encontrar um ritmo adequado aos tempos que correm, que são aceleradíssimos», afirma, acrescentando que «para cativar os leitores optámos por personagens verosímeis, situações concretas, identificáveis e muito diálogo».

Diálogos esses ilustrados por Susana Carvalhinhos, a quem perguntámos se foi difícil ilustrar uma obra com um tema tão especifico como este. «Pelo contrário», afirma, «foi com grande entusiasmo que ilustrei este livro, precisamente pela sua especificidade, pois tive a oportunidade de trabalhar um tema pertinente, mantendo presente a subtileza necessária». Para ilustrar “O Longo Caminho para a Igualdade-Mulheres e Homens no século XXI”, Susana Carvalhinhos sublinha que «foi precisa bastante pesquisa, por ser também necessário retratar fielmente alguns aspectos, como o vestuário ou os equipamentos, mas durante esse processo parte das ideias foram surgindo». No que diz respeito a desafios que possam ter surgido, a ilustrado revela que «não existiram obstáculos ou dificuldades específicas. À semelhança da construção de outros livros, existiu a busca por um universo visual coerente, transmitindo a sua mensagem de maneira clara, tarefa que pode ser relativamente labiríntica até ser encontrado o caminho certo». Sobre a responsabilidade do tema abordado no livro, Susana Carvalhinhos afirma que «sinto que todos os trabalhos são uma responsabilidade, independentemente do tema. Procurei que, neste trabalho em concreto, ficasse presente a mensagem de que este é um caminho a ser percorrido por todos, em conjunto».

Ambição de tornar a igualdade numa realidade

 

O iGen – Fórum Organizações para a Igualdade, criado em 2013, é composto por 69 organizações, nacionais e multinacionais, dos setores público, privado e da economia social, que operam em Portugal e representam, no seu conjunto, cerca de 2% do PIB português. Sobre a parceria que agora surge com a Imprensa Nacional para o lançamento do livro “O Longo Caminho para a Igualdade-Mulheres e Homens no século XXI”, Duarte Azinheira, editor da Imprensa Nacional e porta-voz do iGen-Fórum Organizações para a Igualdade refere que «há muito que o iGen-Fórum Organizações para a Igualdade desejava editar um livro que ajudasse à desconstrução de preconceitos associados a profissões tendo como premissa de que a pessoa pode ambicionar ter o percurso profissional que desejar. E, sendo a Imprensa Nacional uma das empresas que integram o iGen, naturalmente que a parceria era “inevitável”». Sobre a escolha do Dia da Mulher para data de lançamento do livro, Duarte Azinheira afirma que a efeméride do Dia Internacional da Mulher «comemora o vigor, a coragem e a diligência combinados, de pessoas e de organizações, que se preocupam em destacar os direitos humanos». Sendo a igualdade, entre homens e mulheres, um direito humano, «é importante destacar no Dia Internacional da Mulher a relevância do mérito/competência no acesso das pessoas (mulheres e homens) a funções profissionais», reforça. Para Duarte Azinheira é fundamental apelar a uma maior liberdade de escolha e realização pessoal e profissional. «Para que a igualdade de oportunidades, entre mulheres e homens no emprego e no mercado de trabalho seja atingida é capital que exista respeito pela diversidade de cada pessoa», defende, «é preciso reforçar a ideia de que as profissões estão acessíveis a qualquer mulher e a qualquer homem».

Questionado sobre qual a importância do papel desempenhado pelas empresas relativamente a este tema, o porta-voz do iGen-Fórum Organizações para a Igualdade declara que «os membros do iGen assumem o compromisso de reforçar e evidenciar a sua cultura organizacional de responsabilidade social incorporando, nas suas estratégias e nos seus modelos de gestão, os princípios da igualdade entre mulheres e homens no trabalho e no emprego». E os os gestores, estão eles sensibilizados para a importância desta problemática? «Na Agenda 2030 aprovada pela ONU, definiram-se 17 objectivos a atingir no mundo até 2030», relembra Duarte Azinheira. Um desses objetivos – o Objectivo 5 – diz respeito à igualdade de género. «Para a alcançar propõe-se que em todos os países (e por conseguinte também em todas as organizações) se desenvolvam programas destinados a garantir a igualdade de mulheres e homens no acesso à educação, à saúde, ao trabalho, na representação, na decisão política, e na decisão na área económica», responde. Com vista à implantação dos princípios da igualdade entre mulheres e homens no trabalho e no emprego,  Duarte Azinheira defende a necessidade de implementar estratégias que «provem que, se todas as mulheres e todos os homens merecem as mesmas oportunidades de carreira, a questão do género não deverá jamais sobrepor-se ao mérito, à competência e ao conhecimento».  Duarte Azinheira conclui que a base e a chave para esta igualdade, «são o respeito e, sobretudo, a ambição para que a igualdade efectivamente, exista».

 

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