Os inteligentes são as melhores pessoas para trabalhar
Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia
Uma das vantagens de já ter dado muitas voltas ao sol, é ter muitas oportunidades de aprendizagem. Nem sempre aprendemos da melhor maneira, nem sempre é fácil ou sem dor, mas o importante é o que aprendemos, quem nos acompanha nessa jornada e o que fazemos com essa aprendizagem.
Uma das coisas que aprendi, e que nem sempre percebi, é que é muito fácil trabalhar com pessoas inteligentes. Sempre disse que as pessoas inteligentes são sempre afáveis e empáticas e creio que as duas coisas estão relacionadas. Considero como inteligente, não a pessoa com um excecional QI – embora seja uma das inteligências, e também não será só a pessoa com o quociente emocional destacado – certamente é o equilíbrio destas duas dimensões, apenas para não considerar todas as outras inteligências humanas, mas é mais do que isso – muito mais. Ser inteligente, nesta abordagem será, pois, a capacidade de ser e estar, plena.
Porque gerimos pessoas e procuramos delas o melhor, teremos a nossa missão simplificada se minimizarmos o risco do erro, o que podemos conseguir de duas formas: encontrar pessoas inteligentes e delas bem cuidar para quererem estar connosco, e/ou ajudar a desenvolver a inteligência dos que já cá estão. Nenhuma das duas tarefas é fácil e simples, porque naturalmente as pessoas têm vontades e essa é a questão principal. Conhece pessoas na sua organização que não querem ser inteligentes – integralmente inteligentes? Aqueles que embora tenham potencial para ser e fazer mais, não o querem? Aqueles que até podendo ser tecnicamente muito bons, são de mau trato, altivos, vaidosos ou sem noção do que é um coletivo e o que deve respeitar-se nesse contexto? Dá conta de quem se esconde por medo, passividade ou simples comodismo, e que não quer evoluir? E considera essas pessoas inteligentes, mesmo que colecionem todos os títulos e distinções? Pois nesta inteligência de grande amplitude a que me refiro, esses não estarão lá.
Em contrapartida, conhecerá também pessoas com algumas limitações mas que são verdadeiros seres humanos, capazes de entregas e dádivas incomparáveis, de feitos incontáveis e de relações fortes e duradouras – brutal fact! E porque hoje colocamos nos nossos Fóruns a diversidade e inclusão como tema recorrente, são ainda raros, e quase sempre notícia por essa mesma razão, os empregadores que de facto privilegiam o ser humano pelo ser humano, independentemente dos seus défices sejam eles de que natureza forem.
Se estes extremos são claros para todos nós, a inteligência (de banda larga), deverá ser sempre um critério ou uma condição, quer para proporcionar oportunidades, quer para agregar e desenvolver os que temos connosco. Porque se é mais fácil, e melhor, trabalhar com pessoas inteligentes, a gestão de pessoas tem a responsabilidade de fazer com que a organização seja um espaço de permanente aprendizagem, mas também de exigir a contrapartida – que cada um assuma o seu papel e se torne, a cada dia, mais inteligente – no fundo, que evolua e se torne, a cada dia, mais e melhor.
Como transmontana, recordo a sabedoria dos mais velhos quando de costas para a rua de onde vinham as carroças, e mais tarde os tratores, sabiam sempre se vinham carregados ou vazios. E tentavam explicar que o barulho que fazia uma carroça, ou trator, vazios era sempre muito maior do que quando vinham carregados. Tal como as carroças ou tratores, os que estão carregados de inteligência – aquela de largo espectro, cumprem a sua missão, dão resposta aos objetivos associados ao que fazem, são grandes companheiros de jornada e sabem estabelecer e manter relações fortes e duradouras com os outros; E sabem que são bons em tudo isso e isso deixa-os felizes e realizados – simplesmente, é fácil trabalhar com estes inteligentes, porque sabem ser e estar, independentemente do vento estar num ou noutro sentido. E como dizia a minha avó, “sempre a aprender, porque dia que não se aprende, é dia que não se vive”.