Sabe qual é a estratégia mais simples, barata e eficaz para garantir resultados e colaboradores motivados?

As empresas gostam de resultados e de colaboradores motivados. Qual é a estratégia mais simples, barata e eficaz para garantir estas duas necessidades básicas das organizações? Acessível a todos, sem custos adicionais e com enorme retorno a todos os níveis, a reposta é evidente: dormir bem!

Por Teresa Rebelo Pinto, psicóloga e somnologista. Fundadora da Clínica Teresa Rebelo Pinto

 

Embora nem sempre se associe o fraco desempenho a problemas de sono, esta hipótese deveria estar sempre em cima da mesa. Tal como o insucesso escolar se relaciona com maus hábitos de sono, também a produtividade nas empresas tem uma estreita relação com a forma como dormimos. Devia ser óbvio que não é uma boa ideia prescindir do sono com o pretexto de trabalhar mais e melhor, mas infelizmente nem sempre é.

E tudo se poderia resolver com uma simples pergunta: como tem dormido ultimamente?

Partilho duas histórias que me parecem demonstrar bem as minhas preocupações.

Na primeira, um jovem recém-formado (e bastante talentoso) precisava de acordar às 5h30 da manhã para chegar a horas ao trabalho. Usava transportes públicos, morava longe do trabalho e esta era a sua única opção. Como tinha um cronotipo tardio, não era capaz de dormir antes da meia-noite, mesmo que se deitasse bastante mais cedo. Na melhor das hipóteses, dormia cerca de 5 horas por noite, acumulando todos os dias uma dívida de sono sem remédio. Escusado será dizer que a motivação, o empenho e a capacidade de concentração deste rapaz estavam mais que arrasados. Até tinha um emprego bom, mas não ia durar muito se continuasse a ter de cumprir aquele horário tão matutino.

Numa outra situação, uma mulher com grande responsabilidade na sua área ficou de baixa médica para “pôr o sono em dia”. Num pico de trabalho, a culpabilidade e a pressão de colegas e chefia impedia que se deixasse dormir descansada, passando a noite às voltas na cama, num sono sobressaltado e invadido por temas do trabalho que se sobrepunham a tudo. A única saída era afastar-se do contexto profissional, fazer uma espécie de cura de sono e rezar para que no regresso ao escritório a coisa “não descambasse”. Este é um óptimo exemplo de como o investimento na produtividade das empresas tem mesmo de passar pelo sono, caso contrário os custos são devastadores.

A meu ver, as empresas só têm a ganhar se se preocuparem com o sono logo desde o processo de recrutamento. Não é muito difícil e faz sentido averiguar até que ponto as pessoas são capazes de manter um sono saudável no trabalho a que se candidatam. Os gestores precisam de compreender que não se conseguem reter talentos nem garantir resultados sem proteger primeiro o sono. E aos próprios colaboradores é importante lembrar que dormir bem não tem preço.

Quando penso na realidade das empresas deparo-me com uma situação algo paradoxal. Por um lado, parece que os mais novos não têm tanto direito a dormir como os que já subiram na carreira. Como se uma boa noite de sono fosse um privilégio que não é para todos ou um estatuto que se conquista lentamente, sem sabermos bem a que preço. Por outro lado, continuam a existir líderes que se gabam das suas poucas horas de sono, como se isso significasse que ser bom é igual a dormir pouco. Felizmente, existem alguns bons exemplos no mundo dos negócios.

Todos os directores de recursos humanos deviam ler “A revolução do sono”, um livro extraordinário de Arianna Huffington, fundadora do Thrive Global. Além de partilhar o seu testemunho sobre como anos e anos de privação de sono a levaram a desmaiar de exaustão, reúne as informações mais relevantes sobre os mecanismos do sono e a sua importância para nos mantermos sãos e até viver mais tempo. Aquilo a que a autora chama o seu “wake-up call” deve servir de inspiração para todos os que se interessam pelo capital humano.

Faz falta uma cultura de valorização do sono, em que a promoção do bem-estar psicológico e da saúde mental deixa de ser “pela rama” e passa a ser condição sine qua non para se trabalhar de forma mais eficaz e humanizada. No âmbito da conciliação entre vida pessoal e profissional, promover dinâmicas de trabalho favoráveis ao sono é crucial.

Sem dormir, ninguém trabalha nada de especial e a satisfação profissional dos colaboradores reduz drasticamente. Além do direito a desligar, todos temos direito a ter boas noites de sono.

Na prática clínica, são cada vez mais os casos em que o principal motivo que leva a problemas de sono é o trabalho. Se queremos uma sociedade saudável e manter um bom ambiente nas empresas, não pode ser esta a nossa realidade. Proponho antes que a capacidade de gerir o sono seja entendida como uma espécie de soft skill que nunca nos esquecemos de avaliar, em nome da produtividade e até da competitividade.

 

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