
Nem sempre os profissionais que progridem mais depressa são os melhores. Sabe porquê?
Alguns profissionais progridem mais rapidamente do que outros e nem sempre porque são melhores naquilo que fazem. Segundo um estudo da KPMG, há uma grande probabilidade de isso estar relacionado com a classe social.
O estudo mostra que as pessoas oriundas de meios socioeconómicos mais baixos demoraram, em média, 19% mais tempo a progredir para o nível seguinte, em comparação com aquelas de meios socioeconómicos mais elevados. Contudo, a IA poderia ajudar a nivelar este cenário.
David Rowlands, responsável global de IA da KPMG, participou no “The Big Question”, iniciativa do Euronews Business, onde debateu o potencial de a IA aumentar ou diminuir a divisão de riqueza, dependendo da forma como for utilizada.
A IA pode ajudar a aumentar a mobilidade social?
O estudo, publicado pela KPMG UK, analisou o percurso de carreira de 16 500 colaboradores da KPMG ao longo de um período de cinco anos e descobriu que a origem socioeconómica de um profissional era o principal factor que afectava a velocidade com que progredia na empresa.
A combinação de múltiplos factores de baixa pontuação pareceu ter um efeito multiplicador, com as mulheres brancas de meios socioeconómicos mais baixos a progredirem a um ritmo mais lento. O mesmo aconteceu no outro extremo, com os homens asiáticos provenientes de meios socioeconómicos mais elevados a progredir mais rapidamente e a registar um gap de 32% entre estes dois grupos.
Embora a KPMG esteja a trabalhar arduamente para nivelar internamente o seu campo de actuação, David Rowlands está confiante de que a IA poderá ajudar outras empresas, sectores e até países a fazer o mesmo.
«A IA é como uma superpotência, vai melhorar as capacidades das pessoas enquanto indivíduos, bem como das forças de trabalho, das organizações e da sociedade como um todo», defende. «Mas isso não acontece de igual forma. Na verdade, a IA melhora mais o desempenho dos profissionais de médio e baixo desempenho do que dos de alto desempenho. Por outras palavras, está a melhorar o desempenho de toda a equipa, mas está a diminuir o gap de desempenho», explica.
«Esta é uma oportunidade para as pessoas que foram deixadas para trás por qualquer experiência de vida, acesso à educação ou formação no passado. E, claro, como as pessoas são recompensadas economicamente pelo seu desempenho, esta é uma oportunidade para colmatar o gap de riqueza.»
Como garantir que ninguém é excluído dos benefícios da IA?
«A não ser que comecemos agora a ter um propósito sobre como queremos que a sociedade seja, mais justa e equitativa, vamos perder o momento», insiste David Rowlands. Olhando para além dos parâmetros empresariais internos, um dos factores-chave para garantir que as pessoas provenientes de meios ou países mais pobres não são deixadas para trás é a paridade de acesso à educação e à IA.
Contudo, de quem é a responsabilidade de fazer isso acontecer?
Combinando esforços privados e públicos, as pessoas precisam de aceder a electricidade, internet e um dispositivo. Estatísticas mostram que, no mundo, 2,6 mil milhões de pessoas continuam sem acesso a internet e quase 746 milhões sem electricidade.
«Há uma questão interessante à volta de organismos supranacionais como a União Europeia e o acesso ao poder computacional, ao desenvolvimento de modelos e à formação, para que isso seja feito em todos os Estados-nação», sugere.
«É facilmente perceptível que os estados e nações teriam um papel fundamental nisto e as competências básicas subjacentes para serem capazes de utilizar bem a IA – tem de fazer parte do currículo escolar», garante.
«Se conseguirmos colocar as competências nas mãos das pessoas durante a escolaridade e anos formativos, isso ajudará alguns destes benefícios sociais. Se resultar, teremos a oportunidade de moldar um futuro mais justo do que o que temos hoje», conclui.