Acessibilidade digital: um compromisso com a inclusão social

Por Patrick Afonso, Team leader na área de IT Payments na Natixis em Portugal

 

A acessibilidade digital pode parecer distante para quem não tem limitações físicas ou cognitivas. No entanto, em Portugal, 2,9 milhões de pessoas têm algum tipo de limitação ou deficiência – seja visual, auditiva, motora ou cognitiva, segundo dados dos Censos 2011. Considerando que mais de 70% do conteúdo digital não é acessível a esse grupo, esta realidade não pode ser ignorada.

Em Portugal, a acessibilidade digital é regida pelo Decreto-Lei n.º 83/2028, alinhado à Norma Europeia EN 301 549 e em conformidade com as normas WCAG 2.1 nível AA. Embora, actualmente, esta lei se aplique apenas a websites e aplicações móveis de organismos públicos e instituições de ensino privadas com financiamento público, espera-se que, em breve, inclua também empresas privadas, como ocorre noutros países europeus.

A acessibilidade digital vai além da questão técnica; é um compromisso com a inclusão e a igualdade. Envolve um conjunto de práticas e directrizes para tornar conteúdos e serviços digitais acessíveis a todos. Seguindo os seus quatro princípios fundamentais – perceptibilidade, operabilidade, compreensibilidade e robustez –, conseguimos criar um ambiente digital mais inclusivo e eficiente.

Para tornar o conteúdo digital perceptível, é necessário fornecer alternativas em texto para conteúdo não textual (imagens com informação, diagramas, gráficos, etc.), criar legendas e transcrição de vídeos, garantir um contraste adequado entre o texto e o fundo, bem como apresentar o conteúdo sem perda de informação.

A operabilidade exige que a interface e a navegação sejam funcionais e utilizáveis por todos, inclusive utilizadores de tecnologias de assistência. Todo o conteúdo deve ser acessível via teclado, conferindo tempo suficiente para leitura e uso, os elementos interactivos não devem distrair ou dificultar a navegação e é importante evitar atalhos que possam interferir com as tecnologias de assistência.

No que se refere à compreensibilidade, o conteúdo e a interface devem ser claros e previsíveis. O texto deve ser legível e compreensível, a navegação deve ser simples e as mensagens de erro nos formulários devem ser claras, incluindo sugestões de correcção.

A robustez assegura que o conteúdo seja correctamente interpretado por todos os utilizadores e tecnologias de assistência. O conteúdo deve ser compatível com ferramentas futuras, utilizando códigos HTML e estilos válidos de forma a garantir a correcta interpretação pelos diferentes dispositivos e tecnologias.

Colocar em prática estes requisitos pela primeira vez é, sem dúvida, desafiante e requer a mudança de hábitos adquiridos e cimentados ao longo de anos de trabalho. Embora exija investimento inicial em formação e tempo, uma vez adoptados, os critérios de acessibilidade e boas práticas integrarão naturalmente cada linha de código que as equipas de desenvolvimento escreverem, cada mockup que os designers criarem, cada nova feature que os Product owners definirem, cada teste que os Quality analysts realizarem.

Implementar a acessibilidade digital representa benefícios significativos para todas as entidades. Facilitar o acesso a serviços online para pessoas com deficiência promove a inclusão social, assegurando que todos possam participar plenamente na sociedade digital. Além disso, este investimento melhora a reputação das empresas.

A acessibilidade digital permite ainda ampliar o público, beneficiando não apenas pessoas com deficiência, como também idosos e pessoas com limitações temporárias, optimizando a sua experiência e facilitando o processo de compra, o que poderá traduzir-se em maiores taxas de conversão.

Além disso, websites acessíveis melhoram a indexação nos motores de busca, contribuindo para uma maior visibilidade. A eficiência operacional é também melhorada, considerando que websites acessíveis são mais fáceis de navegar, reduzindo a necessidade de suporte ao cliente.

Investir em acessibilidade digital é mais do que uma obrigação legal; é um imperativo moral e estratégico. Empresas que se posicionam como pioneiras na acessibilidade digital promovem a inclusão social e obtêm benefícios substanciais em termos económicos e reputacionais. Ao adoptar práticas de acessibilidade digital, as empresas contribuem para uma sociedade mais justa e inclusiva, enquanto fortalecem as suas próprias operações e a sua presença no mercado.

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