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“O que um sénior tem para te dar”
Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia
Discutimos muito o diálogo, atitude e contributo produtivo das diferentes gerações que actualmente povoam o mundo do trabalho, muitas vezes a propósito da “atitude face ao trabalho” e suas expressões. Neste contexto, as gerações mais experientes têm um papel fundamental na passagem de conhecimento aos que estão a iniciar as suas carreiras, o que é um ângulo que nem sempre é perspectivado. A experiência acumulada ao longo dos anos pode ser um guia valioso, mas é essencial que essa transmissão de conhecimento ocorra de forma construtiva e adaptada aos desafios do presente, dos negócios e das próprias pessoas.
Com base num texto lido e que muito me “tocou” – sobre a vida em geral, e que já nem sei citar, apresenta-se algumas ideias sobre a forma como profissionais mais experientes, podem oferecer aos mais novos poderosos ensinamentos para o mundo do trabalho. As gerações mais antigas têm esta responsabilidade de largar de vez o queixume e devem seguir algumas pistas de “bom senso”. A atitude face às novas gerações no trabalho tem de ser entendida, mas é fundamental que lidemos com “eles” da melhor forma – e falo honrosamente como pessoa da geração X, e por isso se deixam algumas notas:
– Sim, tens experiência e vida vivida, aprendeste e seguiste, mas não te imponhas no legado que queres deixar. Mesmo com anos de experiência, lembra-te de que cada um aprende de forma diferente e não há verdades absolutas. Cria oportunidades para que os mais jovens desenvolvam o pensamento crítico e cheguem às suas próprias conclusões. Se disseres mais do que uma vez por dia “no meu tempo…”, pára e repensa a forma de diálogo.
– Sê apoio e mentoria, sem sufocar. A melhor forma de ajudar é estar disponível, mas sem impedir que os mais jovens enfrentem os seus próprios desafios de desenvolvimento e aprendam com os erros – a pedagogia do erro por vezes é poderosíssima. Facilita o crescimento sem antecipar todas as respostas, e não apresses, pois cada um tem o seu tempo. Geração Baby Boomers e X estão muito marcados por “deadlines”, “extra mile” e “achievements”, mas as novas gerações pensam diferente e isso para eles não é mandatório. Provavelmente, nem para as outras gerações deveria ser.
– Adapta-te às mudanças, mas procura antecipar a sua chegada e não sejas apenas reactivo. O mercado de trabalho está a mudar muito e depressa e não o acompanhar pode limitar a tua influência e, pior, a experiência que proporcionas aos outros. Os mais jovens são ávidos de experiências positivas, e se conseguires ser orientação nelas, estarás em vantagem. Insiste, porém, apenas naquilo que realmente pode ser útil e bom para todos.
– Dá o que tiveres para dar mas não esperes reconhecimento imediato. O reconhecimento e gratidão nem sempre se manifestam a curto prazo. O impacto do nosso trabalho pode apenas ser reconhecido anos mais tarde. Acredita nas pessoas porque acreditas no seu valor, não pela expectativa do que podes receber em troca.
– As comparações entre gerações são apenas benéficas quando seja para destacar o que cada uma tenha de melhor – porque todas trazem coisas boas. Comentários comuns de “antigamente…” ou “no meu tempo é que era…” não só não são percebidas pelos mais jovens, como acentuam a distância. Cada geração tem os seus desafios e deve ser avaliada pelo seu próprio contexto e quem nunca teve situações destas comparações, ao longo da sua vida?
– Respeita a autonomia e acolhe a experiência dos profissionais mais novos, permitindo que tragam as suas próprias perspectivas e inovem, mesmo que o caminho escolhido seja diferente do que conheces. É curioso que quando isso acontece, por vezes descobrimos formas de “fazer” que nunca nos haviam passado pela cabeça e isso é fantástico.
– Se sentires uma “invejinha” (daquela boa) pela forma como os mais jovens vivem o trabalho, aproxima-te deles e procura partilhar essa forma de estar. Aprende-se imenso e por vezes ganhamos perspectivas diferentes que nunca tivemos.
– Ponto essencial a que os mais jovens são sensíveis são as relações. Será essencial assegurar respeito por todos, boa comunicação, espaço à partilha e individualidade, mas no trabalho, a relação deve ser de promoção e manutenção da coesão grupal. A experiência que se lhes proporciona, também ensina a importância do trabalho em equipa e da construção de um ambiente saudável.
– Último ponto e talvez o mais importante: mantém a tua integridade. O profissionalismo não tem prazo como um iogurte, mas temos de viver conforme as nossas condições – há um filme em que dois estagiários se distinguem por serem de outra geração – e o “papelão” não é o melhor. Sê o que és e como és, continuando a dar o teu contributo de forma ética e responsável, garantindo que ajudas os outros a ter uma boa experiência. Há sempre alguma coisa a ensinar e aprender.