
Mais mulheres a liderar universidades, precisa-se (e implementar medidas concretas)
Por Miguel Copetto, director-executivo da APESP
No Dia Internacional da Mulher assinala-se um avanço significativo: mais de um quarto das 200 melhores universidades do mundo são agora lideradas por mulheres, segundo a Times Higher Education (THE). Em 2025, são 55 as reitoras ou presidentes, quase o dobro das 28 registadas há uma década. Este crescimento reflecte mudanças no acesso das mulheres a cargos de decisão, mas a desigualdade persiste.
Embora positivo, este progresso está longe de significar igualdade. No sector empresarial, apenas 5,4% das maiores empresas do mundo, segundo a Fortune Global 500, são lideradas por mulheres. No ensino superior, algumas regiões registam retrocessos, como no Reino Unido e em França, onde o número de reitoras caiu. Em metade dos 30 países com universidades no ranking da THE, incluindo China, Canadá e Coreia do Sul, não há qualquer mulher à frente destas instituições.
Em Portugal, a realidade segue o mesmo padrão. Das 21 universidades portuguesas, apenas cinco têm uma reitora. No sector empresarial, a desigualdade é evidente: apenas 13% dos cargos executivos das empresas cotadas na bolsa são ocupados por mulheres, e apenas 4% das administrações do PSI-20 incluem mulheres em funções executivas, segundo a BA&N Research Unit.
A política também reflecte essa disparidade. Nas eleições legislativas de Março de 2024, foram eleitas 76 deputadas, representando 33,6% do parlamento. Apesar de estar dentro da lei da paridade, este número traduz um retrocesso face a 2022 e 2019, regressando aos valores de 2015. A presença feminina na esfera política e empresarial cresce, mas de forma lenta e irregular.
A nomeação de mais mulheres para cargos de liderança não é apenas uma questão de justiça, mas um factor determinante para o desenvolvimento social e económico. Estudos recentes, como o relatório Diversity Matters da McKinsey & Company, demonstram que a diversidade nas chefias melhora a tomada de decisão e gera ambientes mais dinâmicos e inclusivos. Empresas e instituições que promovem a diversidade de género tendem a obter melhores resultados financeiros e organizacionais.
Para que as mulheres cheguem ao topo, são necessárias medidas concretas. São fundamentais políticas de mentoria, redes de apoio profissional e acções que facilitem a conciliação entre a vida profissional e pessoal. A valorização do mérito, independentemente do género, e a definição de metas de paridade são passos essenciais para uma mudança real.
As universidades desempenham um papel crucial nesta transformação. Como instituições de ensino e investigação, têm a responsabilidade de formar as futuras gerações de líderes. A inclusão de mais mulheres em cargos de decisão académica não só equilibra a representatividade, como cria modelos inspiradores para as estudantes e investigadoras que aspiram a liderar.
A igualdade de género na liderança deve deixar de ser um objectivo distante e tornar-se uma realidade efectiva. O progresso precisa de ser consolidado com acções concretas e compromissos reais. Só quando a liderança feminina for a norma, e não a excepção, teremos uma sociedade verdadeiramente representativa.