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Opinião: Falar de emoções precisa-se!
A era digital está a impelir as empresas a rever os seus modelos de negócio e operações. Está também a alterar por completo os nossos comportamentos, rotinas e as nossas emoções.
Paula Carneiro, directora de Recursos Humanos da EDP
Esta transformação tem um impacto profundo na força de trabalho presente e futura. Falar de emoções, humanas e negativas, numa era em que o foco está cada vez mais centrado na automação e digitalização, é corajoso mas é, no mínimo, necessário.
Nos últimos 10 anos, na Europa, o trabalho como freelancer aumentou 45%. Hoje, 65% das crianças terão empregos que ainda não existem e, actualmente, nas empresas trabalham em simultâneo quatro gerações.
Esta realidade implica novas formas de olhar para a “organização” e para o mundo do trabalho; exige novas formas de pensar a gestão das pessoas e novas competências que concorram para a transformação digital e para a agilidade permitida pelas novas formas de trabalhar, e exigida pela velocidade de transformação.
Até aqui nada de novo.
Todas as evoluções se fizeram de transformações e ruturas mais ou menos abrangentes. No entanto, hoje, o ritmo a que todas estas evoluções se fazem é muito mais acelerado. Se pensarmos também que as diferentes gerações valorizam o trabalho e benefícios com pesos diferentes, talvez não seja difícil perceber que, eventualmente, as emoções negativas que hoje existem no local de trabalho também poderão advir de factores diferentes.
Por um lado, podem estar relacionados com o medo que se sente em relação a esta aceleradíssima evolução e ao facto de cada vez menos existir mercado de trabalho para quem se sente de alguma forma digitalmente iliterado e menos preparado para trabalhar fora de uma organização com vínculo fixo. Por outro lado, podem ser fruto da frustração de quem chega de novo ao mundo do trabalho e fica com a sensação de que dificilmente as suas expectativas de carreira e recompensa serão correspondidas, sendo menos rápidas e “fáceis” num contexto em que as organizações não os fazem sentir-se importantes e onde a sua vantagem tecnológica ainda compete com uma maioria mais experiente, e que continua a aprender a adaptar-se a esta nova realidade e permanecerá no mercado até uma idade cada vez mais avançada.
Há mais ansiedade e incerteza. A tecnologia, apesar de criar novos empregos, também transforma ou até elimina alguns deles. Também afecta as relações pessoais, aproximando-nos de pessoas distantes, e afastando-nos dos mais próximos. Mas, se o medo é uma das emoções negativas que podemos estar a sentir, é também uma reacção de sobrevivência que nos pode ajudar a desenvolver. Este desenvolvimento está cada vez mais centrado na própria pessoa e na sua iniciativa, independentemente da geração a que pertence.
Ao nível da liderança, há também um papel importantíssimo na gestão destas alterações e das suas consequências, emocionais e não só. Como garantir que, neste caminho da transformação digital, ninguém fica para trás, ao mesmo tempo que se exige a renovação da força de trabalho?
Enquanto líderes, e de uma forma simplificada, diria que podemos:
– Acelerar a requalificação, a partir do topo, dando o exemplo, para todas as gerações, digital e culturalmente;
– Redesenhar o “modus operandi” da organização, com a criação de maior flexibilidade, colaboração e inovação no trabalho, alavancando o conhecimento e experiência diferenciada das várias gerações;
– Reforçar a aquisição e desenvolvimento de talento, alargando as fontes/ geografias de recrutamento, sendo mais diverso e inclusivo nos perfis e competências a injectar e a desenvolver na organização, nomeadamente apostando, por um lado na literacia digital e nas competências analíticas e, por outro, no desenvolvimento de competências como a criatividade, pensamento crítico e empatia.
Se, como líderes, apostarmos nestes três eixos, bem como na celeridade e simplificação, e com eles contribuirmos para a regulação do medo e frustração no local de trabalho, estaremos simultaneamente a apostar no desenvolvimento de emoções positivas, que ao serem treinadas e reforçadas, potenciam a saúde organizacional, maior eficiência e produtividade.
Este artigo foi publicado na edição de Setembro da Human Resources Portugal.
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