Educação para o empreendedorismo

As universidades são instituições fundamentais na sociedade, mas a verdade é que têm muita resistência à mudança. A educação para o empreendedorismo é, entre todas as culturas educativas, aquela que mais dificuldades tem enfrentado na sua implementação.

 

Por Maria José Sousa, professora da Universidade Europeia e coordenadora do Projecto Sparks em Portugal

 

Para que o trabalho realizado nas universidades seja útil para a sociedade como um todo, é preciso que todos os agentes da estrutura educativa tomem consciência da necessidade da educação para o empreendedorismo, e que agilizem processos para que ela se torne uma realidade.

Consciente dessa urgência, a Comissão Europeia tem estimulado vários programas de intervenção, com vista a educar quem educa, garantindo que os estudantes do presente têm uma formação que nos sirva no futuro. E, não é um futuro longínquo, trata-se de um futuro que será conjugado no presente assim que os estudantes saiam das universidades, no imediato embate na realidade que o mercado de trabalho lhes tem reservado. A Estratégia Europa 2020 aposta no desenvolvimento de competências empresariais e está apostada em consolidar, até 2020, uma cultura empresarial europeia.

Posto que o desemprego jovem é um aspecto crítico, com mais ou menos intensidade, um pouco por toda a Europa, é fundamental desenvolver acções para aumentar as taxas de auto-emprego na população jovem e que essas acções tenham em consideração as tendências e as necessidades actuais dos diferentes campos do saber e do mercado.

Porém, existem algumas barreiras que foram identificadas pela OCDE ainda em 2012, que têm dificultado o desenvolvimento de uma cultura empresarial ancorada no empreendedorismo, em particular a falta de programas de educação e formação que desenvolvam atitudes e competências adequadas, insuficiência de capital humano, financeiro e social necessário, tanto para criar como para executar com sucesso um novo negócio, a falta de hábitos de poupança e dificuldades em obter financiamento externo, redes comerciais limitadas e capital social comercial e barreiras de mercado a negócios criados por jovens.

É perante este mosaico de dificuldades que surge o Projeto Sparks, que estabelece um centro de aprendizagem interactivo online, com o desenvolvimento de conteúdos sobre  empreendedorismo social, direccionado para jovens, com base numa pesquisa abrangente de análise de necessidades. Usa como amostra um grupo de estudantes do ensino superior e de empreendedores que criaram negócios inovadores em diversos países da UE (Grécia, Itália, Portugal e Turquia), para colocar a sua experiência ao serviço da divulgação e desenvolvimento da tão necessária cultura do empreendedorismo.

O projecto conta com a parceria de três universidades: a Universidade de Florença, em Itália, a Ankara Yıldırım Beyazıt University, na Turquia, e a Universidade Europeia, em Portugal. Soma a estas instituições uma Câmara de Comércio (a ATO), um instituto público de investigação (IBIMET) e uma Organização da Sociedade Civil (IED). Todos os parceiros foram seleccionados estrategicamente em termos de potencial de contribuições específicas para o projecto, de forma a que este piloto tenha todas as condições para abrir caminho a outras experiências com vista a estes objectivos.

No trabalho já realizado, podemos concluir que ,em termos de necessidades de competências de empreendedorismo, se valorizam as competências de comunicação, o planeamento e a agilidade na resolução de problemas. No que respeita às características individuais empresariais mais urgentes a serem melhoradas nos jovens empresários, foram identificadas a flexibilidade e a resiliência. Já relativamente às principais dificuldades que os jovens empresários enfrentam em seus empreendimentos são questões económicas, financeiras e burocráticas.

Noutro campo, como ferramentas úteis para ajudar jovens empreendedores a desenvolver sua ideia com sucesso, foram identificadas a incubação, a divulgação de casos de sucesso de jovens empresários, a educação para o empreendedorismo desde o ensino básico até à universidade, e também o acesso a business angels capazes de garantir o prestigio e as possibilidades de financiamento.

Por fim, no que se refere às actividades de formação mais úteis para promover o empreendedorismo jovem, foi identificada a necessidade de formação sobre a transição prática da ideia para sua realização, o que sublinha a importância das instituições de ensino superior modernizarem os seus currículos e a sua abordagem ao ensino superior, capazes de superar as barreiras identificadas ao nível do processo de criação de startups, do acesso a financiamento, um melhor conhecimento do mercado de trabalho, do marketing digital e a diversificação das competências, nomeadamente as de índole financeira, sistematicamente desvalorizadas pela generalidade das áreas cientificas leccionadas no ensino superior.

Trata-se de um pequeno contributo na mudança de mentalidades, mas sabemos que as grandes mudanças começam precisamente nessa inversão da escala, de forma a que, no futuro, à medida que formos colhendo os frutos desta aposta, tenhamos uma maior capacidade de empreender.

 

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