A curiosidade é um superpoder, defendem os especialistas. Treine o seu cérebro e “reactive-o” em quatro passos

A curiosidade é um superpoder, mas ao longo da vida somos desencorajados de a manifestar. Um especialista partilha com a Fast Company quatro fases que vão permitir fazer renascer “o bichinho da curiosidade”.

 

Não é dúvida para ninguém que as crianças são curiosas por natureza. Num mundo novo, procuram compreender o que as rodeia, principalmente na “idade dos porquês”. «A curiosidade está codificada nos nossos cérebros», diz Scott Shigeoka, autor de “Seek: How Curiosity Can Transform Your Life and Change the World”. «Precisávamos de alguém no grupo a questionar-se se haveria água do outro lado da montanha, ou para encontrar um animal, ou para aprender. A curiosidade é um veículo para aprender a construir ferramentas.»

Ainda que haja uma ideia pré-concebida de que apenas as crianças são curiosas, «uma meta-análise de mais de um milhão de participantes em dezenas de estudos de investigação revela que, na verdade, ficamos mais curiosos ao longo da nossa vida, até ao declínio cognitivo», diz Shigeoka. «Muitas vezes, é um daqueles superpoderes, como a criatividade, que vai sendo “apagado”. Dizem-nos que não somos criativos ou não somos curiosos. Façam isto em vez disso. Então, perdemos essa ligação com esse superpoder.»

Felizmente, é possível recuperar a curiosidade interior. Shigeoka diz que é como um músculo que precisa de ser exercitado. E partilha quatro fases – em inglês formam a sigla “DIVE” – que podem ajudar:

Detach (desligar)

Comece por colocar as suposições, preconceitos e certezas de lado. «Como validamos ou testamos suposições que os outros fazem de nós e vice-versa? Sabemos que, muitas vezes, exageramos nas suposições que as pessoas fazem sobre nós», diz Shigeoka.

«Muitas vezes intensificamos o ódio que presumimos que outras pessoas sentem por nós, especialmente se viermos de diferentes identidades de grupo. Contudo, as nossas suposições podem estar erradas ou ser limitadas. Chegar ao cerne de onde vem aquela pessoa e entendê-la melhor, vai permitir comunicar de forma proactiva e construir uma ligação mais forte com quem nos rodeia.»

Em vez de supor, torne-se um “reconhecedor”, admitindo quando estiver errado ou não souber a resposta. Dê prioridade à aprendizagem e ao crescimento e lembre-se de que os seres humanos estão preparados para perdoar, garante Shigeoka.

Intend (manifestar)

Antes de iniciar uma interacção, pense de que forma pode mostrar curiosidade. Pode ser algo tão simples como dizer a si mesmo: «Hoje, durante o almoço, quero mostrar curiosidade e procurar oportunidades para fazer perguntas, e não apenas partilhar respostas».

Valorizar (valorizar)

Quando não tem as emoções de alguém em consideração, desvaloriza-as. Isso pode acontecer de forma não intencional, como não largar o telemóvel ou não manter contacto visual enquanto alguém fala. A curiosidade consiste em reconhecer a dignidade do outro, mesmo que nem sempre concordemos com a sua postura.

Isso começa por saber quando deve partilhar e quando deve ouvir, diz Shigeoka. Por exemplo, se faz parte de um grupo com mais poder social e se os seus pontos de vista são frequentemente representados na cultura social, ouça. Se, por outro lado, faz parte do grupo com menos poder social, se as suas opiniões raramente são consideradas e se não é ouvido com frequência num relacionamento, partilhe.

«Isso permite entender a dor e colocá-lo no caminho da cura que vai à raiz do problema e não aos sintomas. É possível ser curioso interna e exteriormente em relação às pessoas à sua volta», explica Shigeoka.

Embrace (aceitar)

Por fim, aceite a curiosidade em tempos difíceis, como desgosto, transição de carreira, mudança ou perda, aconselha Shigeoka. «Podemos deixar de querer ser curiosos numa conversa realmente difícil ou durante um conflito, mas é aí que podemos beneficiar mais com isso. É nesses momentos que mais podemos aprender sobre nós próprios ou sobre os outros.»

A transformação acontece quando vamos mais além da curiosidade superficial, defende Shigeoka. É a diferença entre perguntar a alguém como se chama e perguntar de onde vem esse nome e se há alguma história por trás.

Para Shigeoka, a curiosidade pode ser uma força de ligação. «Tem o poder de mudar a nossa perspectiva e a forma como nos movemos pelo mundo. É precisamente aí que devemos levar a nossa curiosidade.»

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