
A liderança escreve-se no feminino
Por Luísa Vasconcelos e Sousa, Country manager da Swappie
Ainda me lembro da primeira vez que entrei numa sala de reuniões e percebi que era a única mulher presente. Não foi um choque. Trabalho num sector que, tradicionalmente, não tem muitas mulheres em posições de liderança. A verdade é que os números falam por si. Em Portugal, apenas 27% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres, e a nível europeu, um estudo da McKinsey & Company aponta que 37% das posições em empresas tecnológicas ou ligadas ao sector tecnológico são ocupadas por mulheres, e muitas delas concentram-se em áreas funcionais.
E isto não acontece por falta de talento ou ambição. O que ainda falta, em muitos casos, é acesso às mesmas oportunidades, reconhecimento e redes de apoio que permitam às mulheres crescer sem precisarem de provar constantemente o seu valor. A tecnologia, por muito inovadora que seja, continua a ser um espaço tradicionalmente dominado por homens. Este desequilíbrio reforça a importância de criar oportunidades e incentivar as mulheres a ocuparem posições de liderança técnica, onde podem contribuir para a solução da escassez de talento.
Penso que a mudança começa na forma como educamos, incentivamos e apoiamos as futuras gerações de líderes. O caminho para a transformação passa também por reconhecer e valorizar o potencial das mulheres em áreas como engenharia, ciência de dados e tecnologia em cloud. Muitas vezes, ouço falar sobre o “tecto de vidro”, aquela barreira invisível que impede tantas mulheres de alcançar posições de topo. Mas será que o tecto de vidro é mesmo invisível? Para mim, é bem real e manifesta-se de diferentes formas. Muitas mulheres enfrentam desafios adicionais para equilibrar a vida profissional e pessoal, e a escassez de modelos femininos em áreas técnicas reforça essa desigualdade. Além disso, a falta de reconhecimento e oportunidades iguais exige que as mulheres provem repetidamente o seu valor.
É por isso que acredito que a representatividade é absolutamente fundamental. Quando uma mulher assume uma posição de liderança, está a abrir caminho para muitas outras que seguem. E quanto mais exemplos tivermos, mais natural se tornará ver mulheres a liderar, inovar e transformar os negócios.
Lidero uma equipa de que me orgulho bastante, num sector que está a redefinir a forma como consumimos tecnologia. Falo de um modelo de negócio baseado na economia circular, que promove a reutilização e a reparação em vez do descarte. E, curiosamente, vejo um paralelo entre esta filosofia e a luta pela igualdade de género: ambos exigem mudanças estruturais e uma abordagem mais sustentável ao futuro.
A meu ver, a igualdade de género não pode ser só uma conversa bonita para o Dia da Mulher. Precisa e deve ser um compromisso contínuo por parte das empresas, dos governos e de cada um de nós. Precisamos de mais programas de mentoria para mulheres, de mais políticas que incentivem o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e, acima de tudo, de mais empresas dispostas a investir no talento feminino sem preconceitos. Ao abraçarem a diversidade, estão a abrir novas portas, especialmente em sectores como a tecnologia, mas também a construir um legado de equidade, inovação e sustentabilidade para as gerações que virão.
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas, para as mulheres que, como eu, ambicionam crescer num mundo mais justo, o meu conselho é simples: a mudança começa dentro de nós e reflecte-se na cultura das empresas, que é criada pelas pessoas. Se queremos ver a mudança, devemos ser a mudança. Não devemos ter medo de ser diferentes, de falhar, de arriscar e de aprender com os desafios. Devemos apoiar-nos mutuamente e ajudar os outros a alcançar o seu potencial.