A procura pela pluralidade de talentos na tecnologia como factor diferencial

Sabemos da importância que os recursos humanos de uma empresa assumem no que diz respeito à criação de uma cultura organizacional que promova e reflicta os valores da diversidade e da inclusão, transversais às mais variadas vertentes. A diversidade de perfis dentro de uma empresa é muito mais do que uma tendência, é uma clara vantagem competitiva e um benefício para a própria estrutura organizacional, promovendo a consciência cultural dos colaboradores e a mudança de paradigmas, contribuindo para fortalecer a marca como empregador, e servindo como fator benéfico para a atração e retenção de talento.

Por Joana Lino, directora de Recursos Humanos da Bosch Termotecnologia, S.A,

 

A diversidade numa organização é muito mais do que diferenças, está em diferentes géneros, idades, religiões, nacionalidade, habilidades motoras e psicológicas, etc. Poderíamos abordar a importância de qualquer um destes diferenciais, no entanto, centremo-nos no primeiro: a diversidade de género, e com especial enfoque na presença, ou falta dela, das mulheres no setor tecnológico. E porquê? Porque este é um sector muito específico onde a disparidade de género existe, e vai continuar a existir enquanto a escolha destes caminhos tecnológicos não for uma opção igualmente válida para as mulheres.

Enquanto se ensinarem e promoverem estereótipos de género fazendo com que a maior parte das meninas e raparigas optem por outras áreas, que não a tecnológica, teremos escassez de mão de obra e de talentos do género feminino. O paradigma tem de mudar, as tecnologias são para todos e todos devem ser encorajados de igual forma a entrar nestas áreas tecnológicas independentemente do seu género. A falta deste encorajamento para todos, traduz-se numa baixa representatividade das mulheres em empresas ligadas às tecnologias, fruto também da dificuldade que existe no recrutamento.

É conhecido o potencial de crescimento do sector das tecnologias, e por isso existe uma procura de profissionais especializados e qualificados. É uma área em expansão e onde a escassez de recursos é grande, o que se traduz numa enorme competitividade pelo talento, fazendo com que o foco para as áreas de RH seja a atracção, procura e retenção do talento.

O Eurostat, o gabinete de estatística europeu, revela que em 2018, 9% das empresas da UE recrutaram ou tentaram recrutar especialistas em TIC, sendo que mais de metade destas empresas (58%) reportaram ter tido problemas em preencher as vagas para as quais eram necessárias competências relevantes de TIC. Ora, se direccionámos essa procura para o recrutamento de mulheres, a dificuldade agudiza-se ainda mais. De acordo com esse mesmo relatório, em 2015, a União Europeia tinha cerca de 1,4 milhões de estudantes na área das TIC, sendo que as mulheres representavam apenas 17% desse universo. No caso concreto de Portugal, apenas 14% dos estudantes das TIC eram mulheres.

Parece que esta situação tem vindo a melhorar e isto deve-se provavelmente ao efeito da maior divulgação dos casos sucesso, porque na verdade os números continuam a mostrar não só a falta de profissionais, como uma grande disparidade entre homens e mulheres, indicando que actualmente as mulheres representam menos de dois em cada 10 profissionais das TIC em Portugal, tendo mesmo a sua proporção neste grupo decrescido de 17,1% em 2005 para 14,7% em 2018 (Eurostat). O panorama parece ainda mais desolador quando percebemos que apenas 0,2% das adolescentes portuguesas aspiram a trabalhar nestas áreas (Instituto Europeu para a Igualdade de Género).

Perante este cenário, há ainda um longo caminho a percorrer para equilibrar estes números, e é fundamental que esse trabalho seja transversal a várias áreas da sociedade, começando pelo papel que as escolas e universidades devem ter em mostrar que a área da tecnologia é todos. As empresas devem promover a requalificação e desenvolvimento das mulheres nestas áreas e, em conjunto partilhar as suas histórias de sucesso para inspirar cada vez mais jovens mulheres a escolher este percurso e fazê-las sentir a confiança de que podem ter um papel fundamental para moldar o futuro tecnológico.

As empresas devem ainda garantir que vivem de forma comprometida a diversidade e inclusão, melhorando os processos de recrutamento com linguagens adaptadas, porque homens e mulheres têm diferentes expectativas, e embora a questão da equidade nos salários seja importante, há factores como a progressão na carreira, um bom worklife balance e um ambiente de trabalho saudável, que se assumem como garantias essenciais.

As histórias de sucesso não acontecem por acaso e por isso vamos todos trabalhar nesse sentido, para garantir que daqui 20 anos esteja a escrever um artigo sobre como a área tecnológica se transformou num exemplo de sucesso em termos de diversidade de género.

 

 

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