A semana de quatro dias de trabalho: uma discussão com décadas

A discussão em torno da implementação da semana de quatro dias de trabalho não é consensual. Nesta fase já ninguém tem dúvidas de que o mundo laboral e o mercado de trabalho jamais voltarão a ser iguais no pós-pandemia. No entanto, é uma discussão com décadas. Só o tempo nos dirá se a semana de 4 dias vai vingar apenas em alguns sectores e determinados países, se se trata de uma utopia ou uma solução viável.

Por Elsa Bizarro, directora de Recursos Humanos da Premium Green Mail

 

A pandemia mudou mentalidades e percebemos todos que não é o horário fixo ou a presença física dos colaboradores que determina ou garante que estes cumpram as suas obrigações. Em muitos casos, assistimos a colaboradores que se tornavam mais produtivos.

Cada vez mais os colaboradores colocam na equação laboral variáveis como a qualidade de vida, o equilíbrio entre vida pessoal e o trabalho, os custos de deslocação para o trabalho e o tempo perdido para fazer o percurso.

Parece não existirem formulas ideais de trabalhar e verificamos que pessoas felizes e motivadas produzem mais. No entanto, haverá organizações, que pela natureza da actividade que desenvolvem, jamais podem optar por esse modelo.

Objectivamente, neste momento, existem vários países a testar a semana de trabalho de quatro dias, nomeadamente a Islândia, Japão, Suécia e Nova Zelândia entre outros. A Islândia ofereceu o mesmo salário por menos dias e os resultados são animadores, com relatos de motivação e bem-estar por parte dos trabalhadores e sem decréscimo na produtividade.

Espanha vai “aproveitar” o dinheiro do Fundo de Recuperação da União Europeia para realizar um projecto piloto de três anos para implementação da semana de trabalho com quatro dias. No entanto, já há empresas que se anteciparam e estão já a fazer o teste.

No Japão, o governo vai incentivar empresas a optar por este modelo, com o argumento que pessoas com mais tempo disponível acabam por sair mais, gastar mais, e assim impulsionando a economia.

Em Portugal, um dos grandes entraves a aceitação deste modelo por parte das organizações será o elevado esforço financeiro que vão ter de fazer e o facto de o nosso tecido empresarial ser na sua grande maioria constituído por PMEs, não havendo tesouraria, mesmo que essa fosse a vontade dos decisores.

No entanto, a produtividade de países como a Noruega, Alemanha e Dinamarca é maior, apesar de trabalharem menos horas do que Portugal, Itália, Reino Unido ou Espanha.

Os portugueses trabalham 40 horas semanais, de segunda a sexta-feira. As empresas que trabalham num modelo de cinco dias de trabalho com dois de descanso vão ter de adaptar o seu ciclo produtivo e relação com os clientes para poder encerrar um dia, ou em alternativa vão ter de aumentar os custos com pessoal e recrutar mais colaboradores.

Já as organizações que trabalham num modelo de 24/7 podem, neste modelo, conseguir optimizar as suas escalas de serviço, uma vez que, do ponto de vista legal, o Código do Trabalho prevê que o colaborador possa fazer laboração concentrada, podendo aumentar o seu período de trabalho até 4 horas por dia.

Será a semana de trabalho de cinco dias um conceito do século XX que não é adequado ao século XXI?

Há um longo caminho a percorrer, sobretudo do ponto de vista da mentalidade e se existe desconforto por parte dos empresários nacionais o certo é que os exemplos internacionais podem vir a ser uma fonte de inspiração e, quem sabe, de alguma paz de espírito para o decisor nacional.

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