A síndrome do impostor. Não estou à altura do cargo e vou falhar: Sou uma fraude?!

Já se sentiu uma fraude? É uma condição psicológica que pode ter consequências na sua carreira. Há gatilhos que desencadeiam estes pensamentos negativos. E cabe também aos líderes trabalhar a autoconfiança da equipa.

 

Por Maria Duarte Bello, CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem, Coach PCC & Mentor senior

 

Sinto-me desqualificado para o meu trabalho”; “Sou uma farsa e vou ser descoberto”; “Tive muita sorte e contactos para chegar onde estou hoje na minha carreira”. Se ao ler está a concordar com a cabeça, pode estar a lutar contra a síndrome do impostor. Trata-se de uma incapacidade em internalizar o sucesso, em que se crê ser incompetente ou pouco inteligente.

Consideremos que uma grande parte das pessoas já experimentou esta sensação nalgum momento da carreira ou da vida em geral. Há sérias consequências em não se tratar este problema de modo correcto porque pode acabar por se perder oportunidades, como ganhar mais ou liderar um grande projecto. Tudo por não se achar qualificado ou bom o bastante.

Um dos pontos mais relevantes a ter em conta é o sentimento de “não sou bom o suficiente”, conduzindo com frequência a uma insegurança, por vezes transparente para os outros, ou até mesmo a um perfeccionismo desajuizado.

Tal como eu, muitas pessoas já vivenciaram isto nalgum momento da vida profissional ou pessoal. Mas ter este sentimento explícito abriu-me as portas para o entender e estudar. Não queria ser uma daquelas pessoas que compensam a insegurança com perfeccionismo, sofrendo solitariamente e executando o trabalho de modo incansável, sobrecarregando ainda mais a missão de não falhar.

Adoro a citação “você não é os seus pensamentos, você é o observador dos seus pensamentos”, porque me parece que o mais importante está em aprender a desafiar os pensamentos negativos que são desencadeados por gatilhos. Aprender a analisar-me e, de seguida, combater o que existe de mau na minha mente permite que a minha acção tenha por base a realidade. Saber a diferença entre “a apresentação foi horrível” e “eu cometi um erro e não vai acontecer nada, isso acontece, sou humana”, é uma forma muito mais saudável de nos autocriticarmos.

A curiosidade levou a perguntar-me como é que esta síndrome surge; aparece do quê? E, em geral, começa quando se consegue uma nova promoção ou uma nova função de liderança. Investiguei se existe um momento em que se sente que a fraude foi ampliada de alguma forma, como uma grande conversa pública que não deu certo. E detenho-me na pandemia e como esta abalou o mundo. Creio que no início, as pessoas estavam com muito medo da segurança dos seus empregos e de não poder manter o que tinham. Isso aumentou a necessidade de mostrar que ainda eram valiosos e que valia a pena mantê-los. Porém, com o passar do tempo, o problema só aumentou, já que as pessoas, além de cuidarem das crianças e idosos, ainda sentiam que precisavam de ter um desempenho exemplar no trabalho, o que se revelou impossível de manter. E começaram a pensar: “É claro que não sou tão bom como penso, porque não consigo segurar todas essas peças juntas.”

 

Os gatilhos
A forma rápida como os nossos meios de comunicação mudaram também afectou a maneira como aparecemos nas nossas vidas. Ter de estar no Zoom ou em várias plataformas tecnológicas diferentes, todas estas mudanças fizeram as pessoas reagirem aos seus próprios gatilhos. E como estes factores influenciaram e continuam a pesar nas experiências das pessoas com a síndrome do impostor.

Sabemos que alguns dos gatilhos mais comuns para a síndrome do impostor são as novas experiências, eventos e papéis. Portanto, algo novo em que ainda não se tem um sentido de competência ou domínio completo. Alta visibilidade também, coisas onde se será visto por pessoas que sentem que a sua opinião é importante na área. O medo de cometer um erro ou de não ter uma compreensão total do que pode dar errado é outro factor problemático. Todas estas coisas podem desencadear a síndrome do impostor.

A síndrome do impostor aparece normalmente em quem desempenha papéis muito rígidos na vida. Entra-se num destes papéis clássicos em que sentimos que precisamos de ser o centro do conhecimento, saber fazer tudo, ou fazer tudo para ajudar a todos. Por exemplo, querer ser a melhor mulher para o nosso mais que tudo, ser a melhor mãe do mundo, ser a melhor avó para que os netos tenham as melhores recordações, ser a melhor profissional em determinada área, não são frentes fáceis de alinhar. Parte do afastamento da dinâmica da síndrome do impostor é experimentar novos papéis e novas maneiras de conviver.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Maio (nº. 149) da Human Resources, nas bancas. 

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