Ameaçou demitir-se por causa de outra oferta de emprego? Um ex-vice-presidente de RH da Microsoft explica por que não deve (nunca) ir por esse caminho

Em mais de 40 anos de carreira no mundo dos negócios e liderança, inclusive como ex-vice-presidente de Recursos Humanos da Microsoft, Chris Williams relata ao Insider que viu muitos colaboradores ameaçarem sair. E raramente acaba como eles desejam.

 

Ficar frustrado no trabalho não é estranho. Pequenas irritações surgem por questões técnicas ou colegas difíceis e há frustrações de longo prazo que limitam a carreira. Talvez o colaborador receba as piores tarefas, não consiga a promoção que acha que merece, ou não tenha o salário desejado. A frustração faz parte da maioria dos empregos.

Quando isso vem à tona, pode sentir que precisa de dar um ultimato e ameaçar sair, a menos que as coisas mudem, seja um novo cargo ou mais dinheiro. Atingiu o seu limite e avança com “se isto não acontecer, eu…”. E agora? O que vai acontecer? Provavelmente não o que pensava.

 

Para Chris Williams, ajuda olhar da perspectiva do gestor e apresenta três situações.

  1. Surpresa!

Se a ameaça for uma surpresa para o manager, isso é um grande sinal de alerta. Este irá recuar e pensar “De onde veio isto?”. A reacção imediata certamente não será atender à sua exigência de tentar salvá-lo, garante Chris Williams. O gestor vai querer entender o que está realmente a acontecer. Por que está tão frustrado ao ponto de sair ser a única escolha?

E mais importante, vai querer entender por que não tocou no assunto há mais tempo e como deixou a situação chegar a esse ponto.

Se a ameaça de saída for uma surpresa, não é um reflexo da empresa ou do seu gestor. É um reflexo de si, já que fez um péssimo trabalho a comunicar os seus problemas, alerta o ex-vice-presidente de Recursos Humanos da Microsoft. A sua ameaça de sair parece precipitada e irracional. Isso não soa bem e dificilmente funcionará a seu favor.

 

  1. Oh não, este outra vez?

Se reclama com frequência, a sua ameaça é apenas mais do mesmo. Parece uma situação saída daquele filme “O feitiço do tempo” com Bill Murray. O gestor pensa: “Oh, não, este outra vez…”.

Já manifestou os seus sentimentos várias vezes e a empresa já deixou claro que não pode aceder aos seus pedidos. Ameaçar sair parece ser o próximo passo num longo caminho de frustração.

Neste caso, Chris Williams revela que a maioria dos gestores acolherá a sua ameaça de saída com satisfação. Pelo menos, isso põe fim ao coro de angústia interminável. Por isso, não se surpreenda se o manager aceitar a sua oferta e até ajudá-lo a arrumar as suas coisas.

 

  1. Adeus!

Às vezes, a sua ameaça é vista como uma demissão disfarçada. Tem feito notar, de forma pouco subtil, a sua frustração. Rumores de que anda à procura de emprego circulam nos corredores e está frequentemente ausente… talvez numa entrevista?

Do ponto de vista do gestor, esse profissional já decidiu sair, garante Chris Williams. Essa ameaça é apenas um último esforço de sua parte para conseguir… bem, não se sabe bem o quê.

Se ameaçar sair já com outro emprego garantido, o que deve o gestor fazer? Talvez pudessem igualar o salário e o cargo, mas não podem igualar a empresa, a função ou a situação, realça Chris Williams. Cada empresa é única e cada equipa e função também.

Se é tudo uma questão de dinheiro, ainda pior. Basicamente o que está a dizer é que a única coisa que o mantém na empresa é o salário. O que impedirá que a mesma conversa surja daqui a um ano ou seis meses? Nada.

Se já o consideram ex-colaborador e agora está a recorrer a ameaças, o seu gestor terá apenas a confirmação da inutilidade de qualquer esforço para o “reconquistar”, alerta o ex-vice-presidente de Recursos Humanos da Microsoft.

 

A ameaça parece chantagem

Em qualquer dos casos acima descritos, a ameaça de ir embora pode soar a chantagem e, aos olhos da empresa, isso não soa bem em nenhum cenário.

Se é vital para alguma iniciativa, a única pessoa capaz de terminar um projecto por exemplo, talvez lhe façam uma contraproposta para o manter por perto o tempo suficiente para terminar essa tarefa.

Mas considere isso apenas como um paliativo. Assim que o projecto terminar, pode ter a certeza de que nunca receberá tal poder no futuro, garante Chris Williams. A empresa não se colocará nessa situação novamente e os gestores não esquecem que a nuvem persistente de chantagem representa ameaças futuras.

Em quase todos os casos, no preciso momento em que faz a ameaça, já perdeu, reitera o profissional.

Mesmo que atendam às suas exigências, é apenas uma situação temporária. Toda a confiança que tinham em si desapareceu e o seu futuro na empresa é limitado. Será visto para sempre como em risco de sair.

 

Aprenda a negociar sem ameaças

Mesmo que se sinta frustrado, a melhor solução não é ameaçar, mas sim negociar, aconselha Chris Williams. Se tiver outra oferta de emprego que deseja aceitar, trate do tema com transparência.

Dedique algum tempo a compreender claramente o seu valor e impacto na empresa e encontre uma forma de a empresa entender isso, seja resultado financeiro, impacto no cliente, presença no mercado ou eficiência interna.

Tenha uma boa conversa com o seu gestor sobre como gostaria de encontrar uma solução. Deixe claro que não se trata de uma ameaça e descreva o que considera ser uma forma de compensar o seu valor acrescentado. Defina claramente por que razão essa função, esse título ou esse dinheiro se coaduna com o impacto que proporciona à empresa.

Use isso para trabalhar com o seu gestor numa solução – que funcione para si e para a empresa – com calma, clareza e comprometimento profissional. Será um reflexo da sua abordagem equilibrada e fundamentada ao seu trabalho.

 

O mercado de trabalho mudou

Antigamente, quando os mandatos eram mais longos e fidelizar os colaboradores era uma preocupação vital, talvez as coisas fossem diferentes, recorda Chris Williams. Hoje, com as pessoas a mudar constantemente de emprego, a estabilidade é escassa. Por isso, substituir um profissional que “ameaça” a empresa é mais fácil.

Para Chris Williams, o aumento da fluidez no mercado de trabalho tem efeitos para os dois lados – do empregador e do trabalhador. E a verdade é que limita a influência do colaborador quando este ameaça sair. Resumindo e baralhando, não o faça.

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