Ana Rita Lopes, Grupo Nabeiro/Delta Cafés: Produtividade, um velho debate com novas ferramentas

Aumentar a produtividade das empresas portuguesas é um debate comum a que assistimos várias vezes, em diversos fóruns. E há mais dois temas que, actualmente, surgem ligado a este: a inteligência artificial e a felicidade.

Por Ana Rita Lopes, Directora de Recursos Humanos do Grupo Nabeiro/Delta Cafés

 

Porque somos menos produtivos do que muitos outros países europeus? Será um tema de horas de trabalho? Será um tema de processos ou método de trabalho? Será falta de competências, quando exportamos tanto talento para o estrangeiro?

Talvez ainda não tenhamos conseguido chegar a respostas definitivas. Talvez não seja um estado, mas um percurso. Talvez não haja uma resposta única, mas um conjunto de acções, algumas mais directas, outras mais indirectas, que possamos assumir todos os dias nas nossas organizações, e que promovam certo tipo de comportamentos.

Um debate que tem vindo a complementar o da produtividade é o da inteligência artificial (IA). Um tema ainda muito recente, com muito caminho para desbravar, mas que já levanta muita discussão, muita controvérsia, alguns mitos e muitos medos.

Os últimos anos não foram fáceis, isso é um facto! Depois de uma pandemia que já lá vai, veio uma guerra e toda uma crise económica, um aumento do custo de vida, com impacto na vida das organizações e dos seus colaboradores. Muitas organizações começaram a dedicar mais atenção a temas como a felicidade e o bem-estar.

Sabemos também que a felicidade não é um estado permanente, é fluída. Todos enfrentamos ao longo da vida várias fases, desafios e obstáculos, e a chave, na minha opinião, é termos resiliência emocional para lidar com esses desafios e constrangimentos de forma construtiva. Ora, as relações interpessoais saudáveis são um pilar estruturante e têm um papel fundamental para aumentar os momentos de felicidade, mesmo nas organizações. E neste momento, talvez estejamos confusos, como se podem ligar estes três conceitos? O que terá a IA a ver com felicidade, e tudo isto a ver com produtividade?

A felicidade no ambiente de trabalho é um componente essencial para o sucesso de qualquer organização, actualmente. Todos sabemos que quando estamos felizes, seja na nossa vida pessoal, seja na nossa vida profissional, estamos comprometidos.

O compromisso com a empresa envolve um sentimento de conexão com os objectivos e valores da organização, o que significa que os colaboradores não cumprem apenas um horário. Cumprem o seu horário, mas com entrega, com o desejo de alcançar um resultado que os satisfaça e contribua para o bem-estar de todos.

Por isso, se queremos ter colaboradores mais felizes, mais produtivos, criativos e leais, há que estimular um trabalho que promova o relacionamento interpessoal e um ecossistema saudável.

Quando uma empresa cria um ambiente onde os colaboradores se sentem valorizados, protegidos das mais diversas formas, reconhecidos e respeitados, são mais propensos a experimentar o estado de felicidade no trabalho. Isso pode traduzir-se num senso de propósito, satisfação pessoal, e até mesmo em relacionamentos mais saudáveis entre colegas.

Por outro lado, colaboradores felizes tendem a ser mais comprometidos porque vêem um valor genuíno no seu trabalho. Estão dispostos a esforçar-se além do necessário, contribuir com novas ideias e enfrentar desafios com resiliência.

A IA pode ajudar a promover esta felicidade assumindo tarefas rotineiras e repetitivas, libertando o tempo dos colaboradores para se concentrarem em actividades mais criativas e estratégicas. Isso não só economiza tempo, mas também reduz o risco de erros humanos, e pode ser transversal nas várias funções da organização.

A IA pode analisar grandes volumes de dados em questão de segundos, identificando padrões e tendências que seriam difíceis de serem percebidos manualmente. Isso impulsiona as vendas e melhora a experiência do cliente, o que pode gerar uma satisfação e motivação muito mais imediata a uma equipa comercial, por exemplo.

Portanto, a felicidade, o compromisso com a empresa, a IA e a produtividade podem ser faces da mesma moeda, que geram tendencialmente mais ganhos para as organizações. Não é um jogo de sorte ou azar, é uma aposta segura.

Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº. 154) da Human Resources, nas bancas.

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