As reformas no mundo da Gestão de Pessoas – Parte 2

Por Ricardo Florêncio

 

Tal como referi neste espaço na edição anterior da Human Resources, Portugal precisa urgentemente de reformas – e com alguma profundidade – no mundo da Gestão de Pessoas. E para especificar, desejava abordar duas dessas situações.
A primeira relaciona-se com a legislação laboral. Embora haja diversos entraves, desde logo ideológicos, é imperativo a sua revisão profunda. O mercado de trabalho actual, os novos modelos de trabalho, o novo modo como os colaboradores encaram o seu trabalho e a flexibilidade de horários que exigem, o trabalho à distância, as quebras de fronteiras que fazem com que muitos dos profissionais trabalhem hoje em Portugal para diversas empresas a nível mundial, as novas exigências de contrapartidas e regalias dos colaboradores, a escassez de recursos, a sazonalidade de algumas actividades, as necessidades das empresas, enfim, um rol de situações, leva a que a lei que temos actualmente esteja totalmente desfasada da realidade. E assim, é mesmo uma exigência esta revisão.
Por outro lado, a questão da sustentabilidade das reformas e da segurança social. Bem sei que é um tema recorrente, mas na verdade, não se vê, até hoje, forma de o resolver. Sabemos de antemão que, com a inversão da pirâmide etária, o envelhecimento continuado da população e com todas as projecções a apontar nesse sentido, num futuro próximo – e mesmo num espaço de 10/20 anos – vamos ter muito mais pessoas a sair do mercado de trabalho para a reforma do que a entrar na vida activa. E sem indivíduos contributivos, e se nada se alterar, apenas conseguiremos a sustentação com a entrada de receitas provenientes de outros impostos.
Mas será este o único caminho? Penso que não, haverá outras opções. É um tema que preocupa uma parte importante da população, com dúvidas de como será a sua própria subsistência quando chegar a altura da reforma, e por isso urge ser repensado, com seriedade e realismo.

Editorial publicado na revista Human Resources nº 140, de Agosto de 2022, nas bancas