Automação no trabalho: uma oportunidade para criação de valor. Mas onde está o limite?

A automação de processos tornou-se um paradigma para o crescimento dos negócios e a aplicação de ferramentas que facilitam o desenvolvimento das organizações, administrações e até modelos de relacionamento. Após os anos marcados por incertezas e mudanças no contexto global, actualmente é impossível conceber um futuro sem propostas como a robotização e a sua combinação com analitica avançada, inteligência artificial, o crescimento da nuvem ou a interconectividade. Todas fazem parte da próxima fase da transformação digital, cujo progresso é já imparável.

Por Vicente Huertas, Country manager da Minsait, uma empresa da Indra, em Portugal

 

As vantagens são óbvias. A aplicação da automação nos processos tornou-se numa oportunidade de criação de valor nas empresas. Traz maior eficiência operacional, criação de valor e diferenciação competitiva face a outras empresas e instituições. Não só optimiza a utilização dos sistemas existentes e suporta o trabalho dos colaboradores, mas também ajuda a melhorar a experiência do utilizador, impactando positivamente a produtividade e a eficiência.

É importante salientar que se trata de uma das digitalizações mais rentáveis. A aplicação da robótica e da automação tem um impacto médio de 30% nos custos operacionais, sendo alcançada em poucas semanas e com um retorno do investimento (ROI) em apenas dois ou três meses, permitindo alcançar resultados tangíveis a curto prazo.

Uma das objecções mais frequentes à automação diz respeito à crença de que a digitalização e a adopção de novas tecnologias podem levar à perda de empregos. O medo da mudança é real, apesar deste processo de evolução industrial ter sido uma constante na nossa história. Na década de 1950, foi elaborada nos Estados Unidos uma lista de empregos que corriam o risco de desaparecer devido ao aumento da automação então em uso. A lista incluía 270 empregos. No final, apenas a profissão de operador de elevadores desapareceu.

Hoje em dia, de acordo com o estudo “Generative AI and Jobs” da Organização Internacional do Trabalho, uma ferramenta muito discutida nos últimos meses, como a inteligência artificial generativa, poderia contribuir para um aumento dos empregos e não para a sua diminuição. Segundo a agência das Nações Unidas, a inteligência artificial generativa ajudaria, de facto, a automatizar certas tarefas e não a substituí-las completamente. Além disso, o impacto desta nova tecnologia disruptiva pode ter impacto sobretudo na forma de trabalhar, na qualidade e na intensidade do trabalho.

Em geral, o progresso implica a mudança, e este processo tem ocorrido em muitas profissões. Competências que há séculos eram inevitáveis ​​para o homem foram transformadas pelo processo de industrialização e desenvolvimento para dar lugar a outras funções e dar origem a novos sectores de crescimento. Essas mudanças aconteceram para aumentar a qualidade das actividades e serviços e para obter maior especialização dos indivíduos, não para substituir o factor humano, que é, sem dúvida, essencial e o bem mais precioso da cadeia de produção. A chave é a qualidade da análise da informação que um profissional pode realizar graças aos programas de inteligência artificial, a conversão dos profissionais para a realização de tarefas diferentes e de maior valor acrescentado ou a criação de espaços onde se sintam mais realizados profissionalmente.

Por outras palavras, trata-se de transferir as necessidades do passado para os desafios de hoje. É por isso que estão a surgir novas funções, como os engenheiros de prompt, os developers de algoritmos éticos, analistas quânticos, gamer… Nenhuma destas profissões existia até há alguns anos, mas na verdade dão resposta a necessidades actuais e reais, permitindo um desenvolvimento mais qualificado em direcção a sistemas mais evoluídos e diversificados.

O futuro é inconcebível sem recursos humanos e um dos principais obstáculos à próxima onda de transformação digital é, inclusivamente, a falta de profissionais, utilizadores e trabalhadores destes sectores. O talento especializado, em conjunto com a gestão de dados e a cibersegurança, são a base sobre a qual serão construídos os modelos de negócios no imediato.

E onde está o limite? Na verdade, onde sempre esteve: nas pessoas. A transformação nunca é absoluta e, no caso da automação, espera-se que seja parcial na maioria dos empregos. Hoje, 60% dos trabalhos podem ser parcialmente automatizados, mas apenas 7% podem ser automatizados em mais de 50% dos processos. Acredito que, nos próximos anos, veremos a automatização de processos e operações em quase todos os sectores empresariais. Mas duvido muito que isso exclua o factor humano. É o valor principal em que se baseia toda evolução possível.

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