
Catarina Fernandes, MC | Sonae: «Os analfabetos do futuro serão os que não sabem aprender»
Mais do que uma adaptação de competências, Catarina Fernandes, da MC Sonae, destacou, na 29.ª Conferência Human Resources, que o futuro do trabalho vai ser definido por aqueles que «souberem aprender, desaprender e aprender novamente».
A 29.ª Conferência da Human Resources Portugal, realizada no Museu do Oriente, em Lisboa, trouxe à discussão o futuro do trabalho e as competências essenciais para acompanhar a transformação digital. Na sessão dedicada ao case study “Eu Escolho Aprender – Projecto de Reskilling e Upskilling da MC”, Catarina Fernandes, Area Leader de Learning, Development & Inclusion da MC Sonae, começou por sublinhar que o mercado de trabalho enfrenta uma mudança acelerada e que as empresas devem antecipar as necessidades futuras.
«Os analfabetos do futuro não vão ser as pessoas que não sabem ler nem escrever, mas aquelas que não sabem aprender, desaprender e voltar a aprender», refere Catarina Fernandes, recorrendo a uma citação de Alvin Toffler. A premissa sustenta a abordagem da MC na definição das competências essenciais para os próximos anos, considerando que as tendências tecnológicas estão a reformular as estruturas organizacionais.
Essa mudança já está em curso nas empresas, com a alteração de funções e a evolução das competências dos trabalhadores. «Cerca de 85% das organizações identificam esta transformação como uma das principais forças de mudança», refere a responsável, alertando para a necessidade de uma adaptação contínua por parte das instituições. «Sempre que a empresa evolui, as funções evoluem também, o que exige que as competências sejam continuamente ajustadas» acrescenta, destacando, em seguida, a importância da aprendizagem contínua para acompanhar as inovações e tendências do mercado.
Para garantir que as equipas evoluam em sintonia com os objectivos da empresa, a MC iniciou, em 2022, um plano estratégico focado na antecipação das necessidades. O processo estruturou-se em quatro fases. «Primeiro, definimos onde queremos estar nos próximos anos. Depois, identificámos as competências essenciais para esse caminho. Seguiu-se a avaliação da estrutura e dos colaboradores e, por fim, desenhámos um programa de formação alinhado com essas conclusões», explica a oradora.
Segundo Catarina Fernandes, a forma como as pessoas aprendem também se pode transformar. «No passado, a aprendizagem era estruturada e definida pela empresa. Hoje, é descentralizada, mais autónoma e, muitas vezes, dispersa», destaca. Na visão da responsável, o colaborador moderno enfrenta desafios constantes, com a multiplicidade de exigências e a velocidade com que a informação se torna obsoleta. A gestão do tempo, o esquecimento rápido e a sobrecarga de tarefas exigem, agora, novas formas de aprendizagem. Algumas empresas questionam o retorno do investimento em formação, mas a MC mostra-se confiante na aposta de estratégias eficazes para garantir um impacto positivo e duradouro.
Exemplo disso é o programa “Eu Escolho Aprender”, que se baseia em conteúdos acessíveis, numa experiência intuitiva e numa cultura de autonomia. O investimento recai, sobretudo, no desenvolvimento de competências cognitivas, socio-emocionais, digitais e tecnológicas, com particular enfoque nas duas primeiras. «As competências cognitivas e socio-emocionais ganham cada vez mais relevância, sendo determinantes para a adaptação e para o crescimento dentro das organizações», reforça a profissional.
Sendo um dos maiores empregadores privados em Portugal, a MC aposta numa estratégia híbrida. Para garantir o acesso à formação em larga escala, disponibiliza plataformas como o LinkedIn Learning e o Learning Hub. Em paralelo, desenvolve programas aprofundados para competências estratégicas. «A nossa abordagem combina soluções rápidas e acessíveis para toda a organização com programas mais especializados para áreas-chave», explica Catarina Fernandes, que deixa a garantia de que a adaptação da formação às necessidades de cada colaborador é uma das chaves para o sucesso.
De acordo com a oradora, os resultados confirmam a eficácia deste modelo. Todos os anos, são distribuídas entre cinco e seis mil licenças do LinkedIn Learning, permitindo que milhares de colaboradores adquiram novas competências. No início, a implementação apresenta desafios devido à diversidade de perfis dentro da empresa, mas os benefícios tornam-se evidentes à medida que os colaboradores integram os conhecimentos no seu dia-a-dia.
A MC também investe em programas específicos que visam áreas mais estratégicas. O programa de Business Analytics, que já formou 800 pessoas, integra a Inteligência Artificial na análise de dados, permitindo que as equipas utilizem os dados de forma mais inteligente e resolvam desafios concretos do negócio. Outro exemplo relevante é o programa “Code for All”, que forma colaboradores em programação e possibilita mudanças internas significativas.
Por fim, um dos maiores exemplos de transformação dentro da empresa é o programa de empatia, que começou como um projecto piloto em nove lojas e agora expandiu-se para toda a organização, alcançando 28 mil colaboradores. «Este programa trabalha competências que impactam, directamente, o dia-a-dia das equipas e a experiência do cliente», sustenta a líder da Área de Aprendizagem, Desenvolvimento e Inclusão da MC Sonae.
Com a convicção de que a aprendizagem contínua é a chave para a diferenciação das empresas no mercado, Catarina Fernandes afirma que «a aprendizagem precisa de ser encarada como uma experiência e um compromisso contínuo». O programa “Eu Escolho Aprender” exige persistência e adaptação, mas já demonstra resultados na evolução contínua das competências dos colaboradores, no crescimento interno das equipas e na maior competitividade do mercado de trabalho. «As empresas que investem em formação e desenvolvimento de competências garantem não só o crescimento dos colaboradores, mas também a sua competitividade no futuro do trabalho», conclui.