Clara Trindade, L’Oréal: Os colaboradores do futuro e a cultura como alavanca

Os colaboradores do futuro serão profundamente diferentes. Neste mundo disruptivo e em plena digitalização, trabalharemos com colaboradores mais ágeis, mais individualistas e exigentes, mais curto prazistas e menos leais a uma única empresa.

 

Por Clara Trindade, directora de Recursos Humanos da L’Oreál Portugal

 

Esta realidade levantará grandes e diversos desafios:

• Será necessário aprender a gerir e trabalhar com uma mão-de-obra mais flexível e menos exclusiva. Teremos de identificar as actividades mais adequadas para freelancers e propor soluções que permitam aos colaboradores trabalharem em várias organizações de uma só vez. Pode emergir mesmo o conceito de “colaborador satélite”. Além disso, a integração dos novos colaboradores terá de ser acelerada, possivelmente através de chatbots de onboarding. Teremos de gerir o “fim da relação colaborador-empregador” e desenvolver políticas para o “regresso” de antigos colaboradores.

• Perante esta crescente flexibilidade – e de modo a reter talento –, será fundamental atender às expectativas e às exigências cada vez maiores dos colaboradores, em termos de oportunidades profissionais e de experiência, de impacto e significado/ propósito.

Há diversas alavancas para enfrentar este desafio:

1) desenvolver novas posições baseadas em competências, mais do que em funções, e criar plataformas que permitam a todos posicionarem-se para participar em vários projectos;

2) criar contratos de trabalho mais flexíveis e com compromissos recíprocos colaborador-empresa;

3) reforçar a mobilidade interfuncional e geográfica;

4) promover o intercâmbio de colaboradores com organizações parceiras;

5) acompanhar novos indicadores ao nível da empregabilidade.

• Num contexto de maior esperança de vida e de globalização da economia, será essencial ter em conta a diversidade dos colaboradores, independentemente da sua idade, origem ou género. Poderemos propor regimes específicos para os jovens colaboradores, como por exemplo contratos locais no estrangeiro, e para os mais experientes oferecer-lhes cargos como coach ou mentores. Por outro lado, oferecer compensações e benefícios à medida de cada colaborador.

• Será também importante criar locais de trabalho diferentes e sustentáveis, para garantir a flexibilidade, a colaboração e o bem-estar no trabalho, disponibilizando novos tipos de espaços de trabalho: espaço próprio, espaços partilhados entre empresas, co-work, etc.

A fórmula de sucesso? Uma cultura corporativa única e transparente. Num ambiente em constante disrupção, a cultura empresarial será a mais-valia e vantagem competitiva da organização, garante da união de todos os colaboradores, de todas as classes sociais, em torno de uma visão comum. E, assim, capaz de construir a sua lealdade e garantir o desempenho da organização.

Para criar a cultura corporativa do futuro, a confiança terá de ser a pedra angular das relações de trabalho. Uma cultura totalmente transparente e flexível, com a confiança no centro. Isto exigirá, naturalmente, o bom perfil de líderes e gestores, que tenham a coragem de dizer a verdade e de serem claros e atentos a todos os colaboradores, verdadeiramente people-centric. E será fundamental ter os sistemas e ferramentas certos, que permitam e incentivem estes comportamentos.

Numa economia global e numa organização cada vez mais fragmentada, será também um grande desafio criar e manter uma cultura corporativa única, respeitando e promovendo a diversidade. Os RH serão essenciais como garante da visão e valores da organização e terão de se tornar verdadeiros parceiros dos líderes na criação da coesão nas equipas.

Por último, a cultura partilhada será essencial para responder às inúmeras questões éticas levantadas pelo avanço das tecnologias.

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº.126) da Human Resources, nas bancas.

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