Como assegurar a performance de vários milhares de colaboradores em teletrabalho: Altice e Randstad explicam

RE(TALK)

João Zúquete da Silva, administrador e chief Corporate officer (CCO) da Altice Portugal, e Pedro Empis, director da área de Outsourcing da Randstad Portugal partilharam as suas perspectivas e expectativas sobre a actual situação em que têm os colaboradores em teletrabalho, esclarecendo de que forma as suas empresas estão a conseguir manter a performance e o engagemente das suas equipas, numa conversa, em directo, moderada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources.

 

Com a renovação do Estado de Emergência por mais duas semanas, importa perceber de que forma se estão as empresas a adaptar ao teletrabalho, uma vez que grande parte delas tem os seus colaboradores a desenvolver as suas funções neste sistema.

No caso da Altice Portugal, uma das primeiras empresas privadas a avançar com um plano de contingência, passar as pessoas (as possíveis) para teletrabalho tem sido processo marcado pela extrema colaboração e sentimento de equipa por parte de todos os colaboradores. «Quando implementámos o nosso Plano de Contingência estávamos muito longe de imaginar que as coisas se iam desenrolar desta forma», afirma João Zúquete da Silva. «Fomos rápidos a agir, implementando a par e passo, medidas que iam no sentido de responder áquilo que era a evolução da tentativa de controle desta epidemia.»

Enquanto empresa de telecomunicações, a Altice presta um serviço essencial à sociedade, o qual é hoje ainda mais importante devido ao confinamento das pessoas nas suas residências. «Tirando algumas equipas técnicas que estão a desenvolver o seu trabalho no terreno, temos hoje em sistema de teletrabalho cerca de 95% do nossos efectivos em teletrabalho, ou melhor, em “work at home” que são duas situações distintas», ressalta o administrador.

Relativamente aos parceiros externos, a Altice deu início a um movimento em que, se por um lado teve de pedir às pessoas que parassem o seu trabalho, nos caso das lojas ou vendas porta a porta, por outro viu-se na contingência de colocar serviços, como os call centers, em teletrabalho. «A realidade é que, em uma semana e meia, conseguimos colocar cerca de 4 mil pessoas a trabalhar desde casa, mais as 6 mil pessoas que temos na Altice Portugal.» Desta forma, a Altice Portugal tem mais de 10 mil pessoas a trabalhar desde casa, «número impressionante tendo em conta a dispersão geográfica e a diversidade de funcões», assinala João Zúquete da Silva.

 

Também para a área de Outsourcing este processo está ser uma aprendizagem, admite revela Pedro Empis. «A primeira coisa que fizemos foi adaptar o nosso plano de contingência com os planos de contingência dos nossos clientes, tendo em conta todas as especificações dos diferentes canais onde actuamos.»

Para o director de Outsourcing da Randstad, a primeira preocupação foi garantir a segurança das pessoas, algo que começaram a fazer ainda antes de declarado o Estado de Emergência, mandando para casa todos os colaboradores que integravam grupos de risco. «O passo seguinte foi a implementação do trabalho remoto, que se está a revelar um movimento fantástico», partilha. «Vemos hoje uma colaboração entre todas as áreas como nunca tínhamos visto antes.»

 

Como monitorizar?

Mas, não deixando de ser uma realidade nova, como se acompanham os resultados e monitariza a actividade dos colaboradores? No caso da Altice Portugal, a grande questão foi alavancada na gestão de equipas. Na perspectiva de João Zúquete da Silva, um dos pontos positivos de toda esta situação negativa foi a quebra definitiva do mito de que é um problema as pessoas não estarem presentes no seu local de trabalho pois a sua produtividade desce. «Com esta movimentação, chegámos à conclusão de que, dando responsabilidade às pessoas, elas têm tendência para reagir bem. No regime de trabalho em casa, a verdade é que acabamos por trabalhar um pouco mais.» E monitorizar isso, nas palavras do responsável, deixa de ser um problema, «pois existem hoje imensas ferramentas à disposição das chefias e dos managers para fazê-lo, pelo que esta situação veio revelar que é efectivamente possível medir a produtivade em praticamente todas as funções».

 

Já na Randstad, esta crise ajudou a acelarar um conjunto de tecnologias e processos que a empresa tinha vindo a tentar desenvolver. «Por exemplo, a nossa aplicação mobility está hoje com um grau de utilização muito maior, e vamos por isso, provavelmente, estende-la a outros clientes», revela Pedro Empis. «Todo o resto continua a acontecer, como o coaching dos colaboradores e divulgação de resultados, havendo, inclusive, algumas situações onde a produtividade melhorou», constata, realçando a necessidade de haver boas lideranças.

 

As lideranças e coesão das equipas

Assim, até que ponto os chefes e os managers também que se tiveram adaptar, de modo a conseguirem proporcionar um acompanhamento mais próximo? Dentro da Altice, há toda uma diversidade de funções pelo que cada chefia teve de se adaptar «à sua maneira», refere João Zúquete da Silva, sendo que há chefias que gerem as suas equipas a partir da empresa, mas outras fazem-no desde as suas casas. «Todas as áreas da empresa têm dado uma resposta muito positiva», garante.

 

De quem estava a assistir em directo, surgiu a questão de como se mantém a coesão das equipas em situação de teletrabalho e que técnicas deve o líder utilizar, além, obviamente, da comunicação. Pedro Empis partilha que, além do importantíssimo papel desempenhado pela comunicação, as equipas estão hoje a recorrer a outras ferramentas para se manterem unidas e ligadas, a maior parte delas digitais, como grupos de chat que, no caso da Randstad, ganhou a forma de uma plataforma digital chamada de palaforma R. «Através dela é partilhado um vídeo sobre a actividade das várias lojas que estão abertas, sendo que é por ali que as equipas comunicam e se mantêm ligadas.» O responsável considera isto muito importante, pois ocupa as pessoas e mantém as equipas alinhadas, «para no regresso voltarem a funcionar ainda melhor, mais bem preparadas e motivadas».

 

Aprendizagens

E será que já se conseguem retirar aprendizagens desta situação? Para João Zúquete da Silva ainda vai demorar algum tempo até se conseguir consolidar essas aprendizagens. «Verificamos que, postos perante um cenário de crise de tamanho enorme e com as implicações que este tem, os portugueses estão a responder de uma forma incrível. Na Altice fomos capazes de virtualizar uma operação de postos de trabalho de mais de 10 mil pessoas  em menos de três semanas, algo que seria absolutamente impensável numa situação normal.»

João Zúquete da Silva acredita que por vezes é  preciso ficarmos perante um inevitabilidade para colocar em prática um conjunto de processos que, de outra forma, nunca avançariam «por falta de coragem empresarial para o fazer». E confia que esta situação «nos vai tornar, enquanto gestores de pessoas, mais ousados no futuro, pois ficamos muito mais bem preparados». O responsável espera que, com o regresso à normalidade, não percamos este sentido de urgência que cada um teve de pôr em prática, «pois é isto que faz a mudança acontecer».

«Já se diz que há um ACDC, ou seja, um antes COVID e um depois COVID», brinca Pedro Empis. «Nestas duas semanas, resolvemos discussões de anos e percebemos que perante a necessidade as pessoas se mostraram à altura. Agora é preciso estabilizar e perceber o que é que foi bem feito e o que vai precisar de ser afinado, mas a verdade é que o trabalho à distância é já uma realidade incontornável.» O director da Randstad acredita que alguma coisa de diferente vai acontecer  face ao que temos hoje, «e isto aplica-se, por exemplo ao talento, onde deixamos de ter uma limitação geográfica».

Relativamente às estratégias previamente idealizadas, ambos os responsáveis referem a sua possível reestruturação de acordo com as especificidades de cada actividade.

Esta foi a segunda de 10 re(talks) que vão acontecer até final de Maio, todas as terças e sextas-feiras, às 15h00.

A terceira acontece já dia amanhã, dia 7 de Abril, tendo como protagonistas Sofia Castro, head of talent & employer brand Sonae MC, e Inês Casaca, associate director | RPO, Outplacement e Assessment& Development da Randstad Portugal. O tema será “worklife balance is in place?”. Inscreva-se aqui. 

Pode (re)ver a talk completa sobre “Agilidade: como mantenho a performance da minha equipa?”

(re)Veja aqui a re(talk) #1 – “Há gestão de pessoas no digital?

 

Texto Sandra M. Pinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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