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Como se projecta o veículo do futuro?
Projectar o veículo autónomo do futuro implica reunir os melhores talentos técnicos disponíveis: engenheiros mecânicos e de software, peritos em inteligência artificial e tecnologia de sensores, cientistas informáticos, especialistas em produção, entre tantos outros.
Mas um profissional que provavelmente não esperaria ver na mesa de projectos – o antropologista – está a desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do veículo autónomo de próxima geração da Nissan, analisando as interacções da condução humana para garantir que esse veículo estará preparado para ser um “bom cidadão” na estrada.
«A tecnologia automóvel continua a evoluir e a mudar», declarou Melissa Cefkin, cientista principal e antropologista do Centro de Investigação da Nissan em Silicon Valley. «E agora… estamos a acrescentar esta dimensão autónoma… que irá resultar em mais mudanças para a sociedade, incluindo a forma como interagimos e nos comportamos diariamente na estrada».
Embora o termo “antropologista” possa evocar nomes como Claude Levi-Strauss, Margaret Mead e Gregory Bateson, Cefkin representa um ramo indubitavelmente moderno nesta área de conhecimento. É uma antropologista empresarial e de design, especializada em etnografia, que consiste no estudo sistemático de povos e culturas a partir do ponto de vista do sujeito.
No caso dos veículos autónomos, Cefkin explica que isso significa adoptar uma nova visão sobre a forma como os humanos interagem com “um objecto imensamente e profundamente cultural” — o automóvel — e adquirir outras perspectivas sobre como as novas tecnologias podem interpretar, ou actuar sobre, esses comportamentos.
«[Com os veículos autónomos], se estiver alguém no lugar do condutor, essa pessoa poderá não estar a conduzir fisicamente o automóvel. E, no futuro, podemos mesmo chegar ao ponto de condução sem condutor, e o lugar do condutor pode até estar vazio».
Cefkin e os outros membros da equipa estão concentrados no terceiro pilar do programa ProPILOT de veículos autónomos da Nissan: desenvolvimento da capacidade do veículo circular pela cidade e pelos cruzamentos sem a intervenção do condutor.
A introdução desse sistema está prevista para 2020, no seguimento do recente lançamento, em Julho de 2016, das primeiras tecnologias de condução autónoma Nissan ProPILOT. Esta primeira fase engloba a tecnologia de condução autónoma concebida para utilização em autoestrada com trânsito em faixa única; uma aplicação para “faixas múltiplas” que pode lidar com os perigos de forma autónoma e mudar de faixas durante a condução em autoestrada, tem previsão de introdução em série nos veículos Nissan em 2018.
Quando Melissa se juntou à Nissan em 2015, após ter desempenhado diversos cargos na IBM, na Sapient Corp. e no influente Instituto de Investigação para a Aprendizagem de Silicon Valley, ela e a sua equipa começaram a documentar, não apenas as interacções na cidade envolvendo os condutores, mas também as interacções entre veículos e peões e ciclistas, bem como outras características da estrada.
«Estamos a tentar apurar o nosso trabalho, aprendendo algumas lições-chave sobre aquilo que um veículo autónomo terá de saber: o que percepciona do mundo em seu redor e como este pode fazer sentido, para poder tomar decisões e comportar-se de forma a ser capaz de interagir eficazmente nesses vários sistemas», afirmou.
Cefkin citou os cruzamentos de quatro vias com sinais Stop como uma situação «problemática e extremamente interessante» que a sua equipa examinou de perto. «O que acontece num cruzamento com quatro vias dá azo a várias interpretações», explicou. «Sim, é suposto parar, mas depois de parar nada me diz quando devo avançar novamente e cabe-me a mim decidir».
As conclusões iniciais retiradas do estudo indicam que os condutores, peões e ciclistas utilizam frequentemente o «contacto visual» e formas de «comunicação directa», como o aceno de mão, «para transmitir sinais muito claros quanto às suas intenções» em tais situações, disse Melissa.
Esta informação permitiu já desenvolver soluções sobre como um veículo autónomo poderá comunicar o seu próximo movimento, sendo que uma dessas visões foi apresentada no Nissan IDS Concept. Cefkin referiu que algumas funcionalidades representadas no vídeo do Nissan IDS poderão acabar por ser bastante semelhantes às dos veículos autónomos da Nissan na próxima década , como uma luz que “reconhece” a presença de um peão.
A equipa está também a explorar como comunicar a intenção do automóvel nas situações em que estão presentes “vários agentes”, como vários peões ou ciclistas. A chave está em como comunicar a esses agentes aquilo que o veículo vai fazer, como “parar, esperar, dar passagem, prestes a arrancar, avançar, etc.”, de uma forma que seja interpretada da mesma maneira por todos eles, em todas as partes do mundo.
Melissa Cefkin explica ainda que estes estudos demonstram a mais-valia de ter antropologistas envolvidos nas fases iniciais de projecção do veículo, ao invés de fazer ajustes mais tarde, no ciclo de produto, tal como outros fabricantes automóveis já fizeram.