Cuidar não é fazer satisfazer todas as “vontades”

O princípio é o mesmo que se aplica aos filhos: não é por lhes fazer “todas as vontades” que os estamos a ajudar ou a dar mais valor. No “jogo de forças” entre empregadores e trabalhadores, é preciso encontrar o equilíbrio. E haver responsabilidade.

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

Genericamente falando, não parece haver dúvidas de que a pandemia – e a já pré-existente escassez de talento – veio fazer pender o “braço de ferro” para o lado dos colaboradores. O tema surge principalmente com a possibilidade de trabalho remoto, tendo várias empresas adoptado um regime híbrido. Mas mesmo quem não conhecia sequer este modelo, se tem dois dias de trabalho remoto quer três, se tem três quer quatro… E quando estão em remoto, acham que não têm de estar sempre disponíveis, porque há compromissos familiares. Também já não vêem com bons olhos a semana de cinco dias de trabalho. E ter só 22 dias de férias? Se há um dealine a cumprir que exija trabalhar mais horas, surge o tema do burnout (que ninguém duvida que é real e um problema sério nas empresas). Apareceram os fenómenos “great resignation”, “quiet quitting”…
Durante a pandemia, o foco foi a saúde dos colaboradores. E esta continua a ser referida como prioridade e um dos maiores desafios na agenda dos gestores de Pessoas. Mas cuidar não é fazer “todas as vontades”. Junto com o tema do bem-estar, surge o da flexibilidade. Todos concordam que não se pode voltar atrás nas aprendizagens. Mas será que não estamos a chegar ao extremo de “só exigir”. Aumento de flexibilidade traz (ou devia trazer) aumento de responsabilidade. E mais direitos e regalias também deveria trazer mais motivação e melhores resultados, o que nem sempre se verifica. É um equilíbrio de poderes, mas, ora para um lado, ora para outro, equilíbrio é o que parece que não se tem conseguido alcançar.
O almoço do Conselho Editorial da Human Resources realizou-se no Vila Galé Ópera, em Lisboa, a convite de Gonçalo Rebelo de Almeida. Contou com a presença dos conselheiros: Ana Porfírio (Jaba Recordati); Inês Madeira (Grupo FHC), Maria João Martins (MyChange), Nuno Ribeiro Ferreira (Floene), Pedro Ramos (APG), Pedro Ribeiro (Super Bock Group), Sara Silva (L’Oréal), Tiago Brandão (The Browers Company) e Vanda de Jesus (iCapital).

Almoço do Conselho Editorial da Human Resources, artigo publicado n.º 144, de Dezembro de 2022