
Depois da COVID-19: Novos tempos, novas formas de trabalhar
Num momento em que todos fomos abalados pelo surto da COVID-19, uma das muitas lições que devemos aprender nos espaços de trabalho é a adopção de uma convivência mais orgânica entre a presença e o trabalho à distância.
Por Ricard Casas, director-geral da ISS Facility Services
Nestes momentos tão complicados para todos, temos a oportunidade de começar a preparar-nos para o novo ecossistema laboral que surgirá após a pandemia.
A mudança de modelo
Nas semanas após o início da pandemia, empresas de todas as dimensões e sectores começaram progressivamente a adoptar espaços de trabalho mais flexíveis. Iniciava-se um novo panorama perante o qual, muitas empresas decidiram optar por uma série de medidas, entre as quais se destaca a aposta no trabalho remoto para os colaboradores de estrutura da empresa.
O objectivo era mitigar o risco e ajudar os colaboradores a continuar com a sua actividade nesta situação de crise. Foi o que fizemos na ISS. Na sexta-feira dia 13 de Março, implementámos um protocolo ambicioso para que, independentemente do cargo que ocupavam na empresa, todos os colaboradores de estrutura desenvolvessem a sua actividade profissional à distância. Tratou-se de uma medida que afectou as rotinas e dinâmicas interdepartamentais de aproximadamente 1000 colaboradores.
O que começou a ser uma adaptação ao contexto da crise sanitária está a converter-se na solução da exigência de uma maior flexibilidade e sustentabilidade na relação colaborador-posto de trabalho. A transformação de um panorama ainda muito presencial para uma organização na qual se conviva com o virtual, levanta uma série de desafios quer para o trabalhador, quer para a empresa. Neste momento de transição forçada, o primeiro destes desafios é o tecnológico.
O uso da tecnologia para que as pessoas continuem a ser a chave
As pessoas devem estar no centro de todas as empresas, pelo que o principal objectivo deve ser em todos os momentos preservar ao máximo o bem-estar de cada um dos colaboradores, independentemente da função que desempenhem. Para isso, a tecnologia foi uma ferramenta-chave. Tenhamos em conta que, segundo dados do Eurostat de 2019, apenas 5% de todos os trabalhadores portugueses teletrabalhava de forma ocasional. A adaptação é sempre um desafio e, por isso, tratou-se de uma decisão que implicou uma organização considerável.
No entanto, cabe-me destacar que algumas empresas como a nossa já tínhamos implementado muitas ferramentas digitais como o canal de emprego, a formação online, a assinatura digital e, por isso, estes elementos ajudaram-nos nesta adaptação ao contexto actual.
Uma mudança de chip
Além do âmbito tecnológico, outro factor a ter em conta é que a mudança de paradigma vai trazer consigo uma mudança de mentalidade. O trabalho não presencial leva-nos a uma forma diferente de trabalhar e de nos relacionar. E, para que esta transição seja o mais orgânica e bem-sucedida possível, é necessário ter em conta algumas questões chave:
- Repensar e redefinir estratégias: para as empresas, independentemente do seu sector, será necessário reestruturar a organização e mudar o seu modus operandi (ferramentas e soluções informáticas incluídas) para alcançar uma interacção mais digital com o intuito de manter a sua produtividade.
- A importância das rotinas: agora mais que nunca o colaborador deve estar no centro. Demonstrou-se que o teletrabalho costuma aumentar a carga de trabalho e as horas de dedicação. Por isso, é mais importante que nunca ter autodisciplina e organizar as tarefas tendo em conta a prioridade de cada uma. É aconselhável que estabeleçamos directrizes para trabalhar e pequenas pausas para descansar que nos permitam chegar ao final do dia tendo sido produtivos, sem ter que renunciar ao nosso tempo livre.
- Liderança, agora mais que nunca: será fundamental que a distância não enfraqueça a liderança de cada departamento ou equipa. Por isso, um papel que terá relevância num ecossistema muito mais digital será o e-líder, aquela pessoa que através da utilização de ferramentas digitais de Tecnologias de Informação (TI) irá projectar, planear, delegar, comunicar, gerir a carga de trabalho e avaliar o rendimento da sua equipa. Nestes momentos de transição, a figura do e-líder deverá ser a facilitadora, para que cada colaborador alcance a melhor experiência e consiga oferecer os melhores resultados possíveis num ambiente muito mais individual.
Um futuro mais digital e sustentável
A experiência para muitas empresas nestes primeiros momentos de mudança está a ser muito positiva. A resposta e a capacidade de adaptação de todas as equipas de estrutura para continuar a ser produtivos nestes momentos muito difíceis, tem superado todas as expectativas. Estamos completamente seguros de que entre todos, estamos a começar a desenvolver novas dinâmicas de trabalho que se generalizam.
Quando passarmos a crise sanitária da COVID-19, que iremos conseguir, surgirá à nossa frente um novo ecossistema, mais digital e sustentável, no qual o trabalho colaborativo e virtual será a chave numa nova era das relações laborais.