Desafios (e sucessos) que as mulheres em cargos de liderança enfrentam na área da ciência

De acordo com os dados mais recentes publicados pelo Eurostat, a percentagem de trabalhadores na área das ciências e tecnologia tem vindo a aumentar nos últimos anos, contabilizando-se já cerca de 76 milhões de trabalhadores nestas áreas.

Por Mónica Brito, CEO da Crioestaminal

 

As ciências e tecnologia abrangem áreas muito diversificadas, com profissionais no sector da saúde, da alta-tecnologia, cientistas e engenheiros, sendo que, também de acordo com dados do Eurostat de 2022, 52% destes profissionais nos países da União Europeia serão mulheres.

A distribuição das mulheres nas várias áreas das ciências e tecnologia não segue uma distribuição uniforme, com apenas 41% a ocuparem cargos como cientistas ou engenheiras. No entanto, o número absoluto de mulheres cientistas ou engenheiras duplicou em 10 anos, entre 2012 e 2022, o que demonstra claramente uma mudança no paradigma das sociedades e uma maior afirmação das mulheres em cargos tradicionalmente ocupados por homens.

Portugal, em particular, é um dos países europeus com maior percentagem de mulheres na área das ciências e tecnologia, situando-se este número em 2022 nos 53,6%, acima da média da União Europeia.

É representativa disto mesmo a empresa que lidero, a Crioestaminal, uma empresa biotecnológica, com 20 anos de presença no mercado português, focada em disponibilizar tratamentos com células estaminais a todos aqueles que deles possam vir a precisar, cuja estrutura conta com 88% de mulheres e 77% dos lugares de gestão são ocupados por mulheres.

Não obstante estes dados promissores e reveladores do sucesso ao nível da educação e profissionalização das mulheres nas ciências e tecnologias, existe ainda um caminho a percorrer no que respeita à ocupação de cargos de liderança por mulheres.

A título de exemplo, o estudo “She Figures 2021”, revela que a percentagem de mulheres doutoradas na União Europeia é praticamente igual à percentagem de homens com as mesmas qualificações, no entanto apenas 23,6% de mulheres ocupam posições de destaque no sector académico e apenas cerca de 10% são inventoras com patentes publicadas.

Importa também notar que, ao nível da União Europeia, 45% dos trabalhadores nas ciências e tecnologia são trabalhadores seniores, na faixa etária acima dos 45 anos, contra apenas 26% na faixa etária entre os 25 e os 35 anos. Estes números, a par com o aumento do número de mulheres nestas áreas de actividade, podem sugerir que, nas futuras gerações, a percentagem de mulheres será cada vez maior e a ocupação de cargos de liderança também exibirá uma tendência de equilíbrio entre géneros.

Resta saber se as sociedades, nomeadamente ao nível dos países da União Europeia, conseguirão acompanhar e implementar, ao mesmo ritmo, medidas que possibilitem o equilíbrio entre a carreira profissional e a vida pessoal e familiar e acautelar a estabilidade financeira dos jovens e particularmente das mulheres na área da investigação, onde a precariedade nos primeiros anos de carreira ainda é uma realidade.

Em particular no que diz respeito à maternidade, aspecto altamente relevante se considerarmos o envelhecimento da população na Europa, é preciso que a partilha das actividades familiares entre homens e mulheres seja cada vez mais uma realidade assumida por ambos, para que também elas possam dedicar-se ao seu desenvolvimento profissional, à sua investigação e à liderança das suas equipas, sem que tal comprometa as futuras gerações.

É preciso que as instituições, empresariais e académicas, estejam preparadas e adoptem elas próprias medidas que não só possibilitem como também promovam internamente uma cultura de igualdade de género e de promoção do desenvolvimento das competências dos seus colaboradores, sejam eles homens ou mulheres.

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