Design Thinking para moldar Lideranças e Culturas

Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders

 

Quando pensamos em design, lembramo-nos invariavelmente de um logotipo apelativo, de um objecto estilizado, de um website atractivo, de um vestido de alta-costura ou de mobiliário arrojado. Basicamente, a “forma”, avaliada com critérios estéticos e, eventualmente, de usabilidade. Design sempre foi também conotado com algo “artístico”, bem “desenhado”, que confere diferenciação e atractividade a algo tangível. E protagonizado, claro, por autênticos artistas: Oscar Niemeyer desenhava cidades, Giugiaro desenhava automóveis, Mies Van der Rohe desenhava cadeiras, Frank Gehry desenhava edifícios, Karl Lagerfeld desenhava vestidos. Entre muitos outros.

O design pode ser tudo isto e muito mais. É, acima de tudo, um modo de abarcar a realidade de modo visual, evidenciando relações e “tangibilizando” as nossas abordagens mais conceptuais. O mundo dos sistemas humanos (empresariais mas não só) descobriu recentemente as mais-valias do design para conceptualizer soluções para os seus problemas. O conceito de design thinking, de que falo, veio endereçar questões bastante diversas: processos de trabalho inter-departamentais, estratégias e modelos de negócio, gestão da informação e do conhecimento, experiência do consumidor num espaço comercial, usabilidade (e consequente sucesso) de um serviço ou de um produto.

O design thinking teve as suas primeiras abordagens (essencialmente, académicas) nas décadas de 60 e 70 do século passado. Mas a sua popularização e aplicação mais massificada tem um nome: IDEO, a empresa de consultoria de inovação criada na Califórnia em 1991, que rapidamento escalou a nível global, apoiando o desenvolvimento de produtos, serviços, processso e experiências.

O design thinking é um processo de criação, não linear e interactivo, que líderes e equipas podem utilizar para compreender os seus destinatários, desafiar assumpções ou preconceitos, redefinir problemas e criar soluções inovadoras. No seu roteiro mais “científico”, emvolve cinco fases – Empatia (imersão e compreensão de um problema de forma empática), Definição (síntese para direccionar o processo de criação da solução), Ideação (brainstorming, com propostas de intervenção concretas), Prototipagem (criação de protótipos a serem testados em termos de aderência) e Teste ou implementação (para validar a performance e a eficácia da ideia).

Vários princípios e boas práticas são essenciais neste processo:

  • Aprender com as pessoas (perceber como elas interagem, como experienciam as várias situações e que sentimentos ou emoções retiram delas);
  • Detectar padrões (perceber hábitos em termos de posturas e comportamentos (ex. uso de um produto, circuito numa loja, reacção perante um processo empresarial) que nos podem ensinar o que funciona e o que não funciona);
  • Apostar em soluções visuais/ tangíveis (os seres humanos são viciados em objectos e têm dificuldade em aderir a algo meramente conceptual);
  • Interagir regularmente (será um metodologia de teste-tentativa-erro que, longe de apresentar uma solução única e final, vai incrementando o produto final com inputs dos seus destinatários).

Se o nosso desafio organizacional for a “construir uma liderança mais positiva e energizadora”, o design thinking pode ser uma solução. Como? Ajudando a mapear os “momentos-da-verdade” da liderança, qual a experiência e impactos que os intervenientes registam desses momentos e estruturando sessões de brainstorming e inovação para “desenhar” novos rituais, iniciativas ou comportamentos dos líderes. Se for “criar uma cultura de trabalho mais colaborativa”, num processo semelhante, ajudará clarificar as interacções, presenciais ou remotas, que sustentam a comunicação e partilha inter-equipas no momento actual e criar novos processos ou eventos para o futuro – “protótipos” a serem testados e melhorados com o tempo. Tudo isto conciliando no projecto, se possível, conhecimento obtido em interacções directas com as pessoas, com dados que se possam trabalhar com ferramentas tecnológicas analíticas e predictivas.

Em suma, design thinking será um mindset de construção de experiências óptimas e impactos robustos, alinhados com as soluções que qualquer sistema social necessita para ser eficaz. E o sistema social “empresa” bem precisa desta abordagem.

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