Devemos ou não temer pelos nossos postos de trabalho?

A terceira edição do Business Transformation Summit, organizada pela Cegoc, reuniu cerca de 400 profissionais no Centro de Congressos de Lisboa, aos quais se juntaram outras centenas via live streaming. Três oradores internacionais falaram sobre “Economia da Experiência”.

 

Estudos indicam que,  hoje em dia, apenas 6% dos departamentos de Recursos Humanos estão a utilizar Inteligência Artificial (IA)no local de trabalho. Mas, de acordo com dados da Gartner, «em 2022, um em cada cinco colaboradores vai dispor de um assistente dotado de IA que servirá de apoio ao seu trabalho». As empresas não devem, portanto, ter medo da transformação digital, mas adaptarem-se a ela. Foi o que defendeu Jenne Meister, co-fundadora da organização Future Workplace, que está entre os 20 profissionais mais influentes do mundo nas áreas de Recursos Humanos e Formação e fez parte do painel de oradores do Business Transformation Summit (BTS). Citou inclusive o exemplo da cadeia de hotéis Hilton, que já implementou o sistema de chatbot para falar com os candidatos.

Assim, perante um das questões actuais mais prementes em relação ao futuro do trabalho, sobre se as máquinas vão dominar o mundo e ocupar os empregos dos humanos, Meister defende que a IA não vai substituir-nos. «Vai, sim, ajudar-nos a trabalhar de forma mais inteligente e eficaz», eliminando da nossa rotina tarefas mecânicas e e tornando o trabalho mais criativo e mais humano, aumentando assim a dimensão do papel do colaborador. Mas, citando Erik Brynjolfsson e Andrew Mcafee, alertou: «Na próxima década, a AI não vai substituir os managers, mas os managers que usam a IA vao substituir os que não o fazem.»

A especialista defendeu ainda que as empresas devem focar-se mais nos colaboradores e nas necessidades que estes sentem. «Em vez de perguntarmos o que mantém os nossos CEOs acordados à noite, devíamos perguntar o que tira o sono aos nossos colaboradores», de forma a entendermos o que falta para que as equipas se sintam motivadas com o seu trabalho.

E, numa altura em que as empresas têm cada vez mais dificuldade em reter capital humano, Meister salienta ser igualmente importante implementar programas de mobilidade interna de talento. «Iniciativas como esta permitem que os colaboradores experimentem outros cargos e sintam a sua dedicação valorizada. No final, as organizações ganham na melhoria da taxa de retenção e no compromisso dos  colaboradores para com o projecto.»

Durante a tarde, os participantes inscritos no Transformation Lab com Jeanne Meister puderam passar da teoria à prática, tendo as várias equipas sido ajudadas a delinear uma estratégia para a criação do ambiente de trabalho do futuro, através da utilização de Employee Personas e da identificação das medidas concretas a implementar no seio de cada uma das organizações presentes.

Customer experience e cultura de execução

O primeiro orador foi Martin Lindstrom, eleito pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, que falou sobre Customer Experience Transformation e salientou que «85% das nossas decisões são irracionais». E a maior parte das grandes empresas ainda não se adaptou a esta realidade, o que faz com que os seus processos de transformação acabem por falhar mais de 95% das vezes.

O dinamarquês revelou ainda que a quantidade de informação a que estamos expostos é tanta que, «nos últimos dois anos, produzimos 90% da informação alguma vez criada pela nossa espécie». Mas salientou que, tão ou mais importante do que o big data (muito vasto) é o small data (mais instintivo). «O small data revelam as emoções e os sentimentos do consumidor e dão às empresas a oportunidade de criarem experiências realmente únicas e mais humanas.»

Já durante a tarde, Chris McChesney, co-autor do livro “As 4 Disciplinas da Execução” mostrou como as empresas podem alcançar melhores resultados através de uma melhor execução das suas estratégias, baseando-se numa fórmula simples que assenta num conjunto de práticas testadas e aperfeiçoadas por centenas de organizações e milhares de equipas nos últimos anos. Isto porque com as tarefas rotineiras do dia a dia, os objectivos estratégicos predefinidos, a falta de priorização das tarefas e os planos de emergência que precisam ser activados torna-se difícil executar objectivos verdadeiramente críticos e, consequentemente, mais importantes para as organizações. No entanto «a capacidade de criar foco dentro de uma organização é um componente raro, mas essencial para o sucesso do negócio», afirmou.

Para criar uma Cultura de Execução, McChesney defendeu a implementação de quatro disciplinas capazes de institucionalizar uma abordagem comum para todas as equipas: foco no verdadeiramente crítico e importante; porque 20% das actividades produzem 80% dos resultados, estas devem ser identificadas e ser transformadas em acções individuais e o seu progresso deve ser monitorizado; manutenção de um scoreboard mobilizador, pois as pessoas e as equipas mostram-se mais motivadas quando têm registo do seu progresso; e existência de uma cadeia de responsabilização, já que «as organizações terão melhores executantes em culturas onde a corresponsabilização é instituída».

A edição deste ano do BTS contou ainda com um painel de profissionais, portugueses e internacionais, que partilharam case studies e a sua experiência nas empresas por onde passaram. Entre os convidados estiveram Sergei Polianski e Anna Kerechashvili da Japan Tobacco International; Christoph Williams da Sony Europe; Sérgio Carvalho da Fidelidade; e ainda Patrick Galiano do Grupo CEGOS.

 

O tema do próximo Business Transformation Summit vai centrar-se na Aceleração, tendo em conta que “um dos grandes desafios das empresas na era digital, sejam start-ups ou organizações criadas no século passado, é a sua capacidade de entregar soluções custom-centered, baseadas em experiências únicas e competitivas, mas simultaneamente capazes de acompanhar o ritmo das novas tecnologias, acelerando assim a sua execução em contexto digital”.

Veja também estas notícias.

Ler Mais