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E o modelo é…?
Por Ricardo Oliveira Nunes, Human Capital Director da Bring Global Solutions & Services
Antes da pandemia o trabalho a partir de casa era um assunto que quase ninguém queria sequer ouvir falar, exceto talvez as grandes empresas de tecnologia que já utilizavam de forma eficaz esta forma laboral. Vamos a caminho de quase dois anos de uma mudança total das nossas vidas e, apesar das muitas incertezas que se mantêm, multiplicam-se quase diariamente os webinars, formações, artigos, teorias, propostas sobre como será o trabalho do futuro. É curioso constatar que ainda não sabemos como vai terminar a pandemia, mas muitos teorizam já, e com muita segurança, sobre qual vai ser o nosso admirável mundo novo… laboral.
Ora não nos podemos abstrair que tudo o que hoje é dito sobre esta matéria é apenas baseado nas nossas vivências e o resultado uma urgência provocada pela pandemia.
Tendo isso em conta considero que, antes de definirmos já como vai ser o novo modelo de trabalho, deveríamos todos fazer uma análise dos vários ângulos desta quadratura do círculo.
Do meu ponto de vista temos que ter em conta três tipos de intervenientes: governo/partidos/sindicatos, os/as gestores/as e os/as colaboradores/as.
Vamos por partes:
- GOVERNOS/PARTIDOS/SINDICATOS – antes da pandemia o trabalho de casa foi muitas vezes demonizado, quase uma espécie de ameaça oculta com o propósito de afastar os colaboradores das empresas e deu azo até a uma espécie de teoria conspirativa que, em último caso, levaria trabalhadores a perder o posto de trabalho.
Com o evoluir da pandemia, o trabalho a partir de casa passou pelo contrário a ser necessário, útil e até uma forma popular de aproveitamento político. Agora todos são a favor desta forma laboral, estudam-se benefícios, regras, obrigações, numa voragem de querer alterar tudo… já!
Ora mudar de opinião e atitude não é mau e até mostra capacidade de crescimento, mas mudar ao sabor dos acontecimentos sem refletir, ouvir profundamente os envolvidos e perceber as diferentes necessidades dos vários setores pode ser um erro fatal. Corremos assim o risco de estar a criar um modelo que pode, em último caso, não servir a ninguém.
No meu entendimento, acho que antes de se mudar a lei laborar e criar um novo modelo tudo deveria ser discutido com quem utiliza estas ferramentas no seu dia a dia e não ao sabor das vontades políticas ou apenas concertações sociais.
- GESTORES/AS – Alguns gestores e diretores da velha guarda preferiam (e talvez alguns ainda queiram) que os colaboradores estivessem presencialmente no escritório para os controlarem melhor e muitas vezes aproveitarem essa presença para conseguirem mais horas de Para este tipo de personalidade o trabalho a partir de casa não é de todo recomendável. Felizmente, com a transformação das mentalidades, para as novas lideranças empresariais este tipo de modelo começou a ser rejeitado, adaptado, modificado, e esta tendência acabou por ser ainda mais acelerada com a pandemia.
Hoje o novo líder ou diretor de empresa valoriza muito mais a transparência, frontalidade, honestidade, diversidade, igualdade, inclusão, e o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Sabemos hoje que estes são os ingredientes necessários para aumentar os resultados e sucessos das empresas. Não são já apenas teorias, são certezas comprovadas pelos resultados da implementação deste modelo em quase todo o mundo.
Daí que seja imperativo olhar, e não esquecer, para todos estes ângulos quando avançamos para a criação do nosso novo modelo de trabalho.
- COLABORADORES/AS – Aqui também não há unanimidade. Temos os trabalhadores que preferem continuar a trabalhar a partir de casa (mesmo depois de afastados os riscos da pandemia), os que querem trabalhar só no escritório (por não terem condições em casa, ou porque já não aguentam mais o isolamento), e ainda os que defendem modelos híbridos (uns dias em casa, outros no escritório).
Independentemente da vontade de cada um, temos de nos abstrair das nossas conveniências e comodidades para perceber, de acordo com o setor onde trabalhamos, qual é o melhor modelo. No fundo, encontrar o equilíbrio que permita à empresa continuar a crescer e aumentar a produtividade dos colaboradores, sem esquecer o bem-estar e a felicidade dos recursos humanos.
Em conclusão, para a definição dos novos modelos é fundamental que todos estejamos disponíveis para debater e escutar as opiniões e propostas uns dos outros. Os decisores políticos e os sindicatos não podem remeter-se ao habitual autismo, e os gestores não podem implementar modelos sem perceberem o resultado e a vontade de quem os vai executar.
Esta é uma matéria muito sensível, mas determinante para o futuro de todos nós. Devemos por isso avançar já sem preconceito ou divisões e começar a definir os nossos próprios modelos, com a consciência de que devem ser revistos e alterados até chegarmos finalmente a uma versão mais definitiva e global que todos ansiamos. E sobretudo não nos esqueçamos que poderemos estar na génese de uma nova e determinante revolução laboral.