Pedro Ramos, DRH da TAP: «É preciso (re)assumir o protagonismo na articulação entre as pessoas e os negócios»

«Rapidamente, o “RH em Emergência” se tornou-se um “RH em Convergência”, com a estratégia e com as pessoas.»

 

Por Pedro Ramos, director de Recursos Humanos da TAP Air Portugal

 

«Em 10 anos, a Gestão de Pessoas mudou bastante. Diria que mudou quase tudo! Mudaram as abordagens aos papéis dos líderes e dos liderados nos seus vários contextos profissionais, mudaram as ferramentas e instrumentos de trabalho no que à Gestão de Pessoas diz respeito, mudaram, de formas mais ou menos “violentas”, as competências core ou criticas necessárias em cada momento, mudaram os contextos de aprendizagem e desenvolvimento no interior das empresas…

Mas, nestas mudanças todas, nem sempre os Recursos Humanos (RH) foram assumindo o protagonismo que teoricamente lhes era sendo atribuído em termos do seu envolvimento pleno na estratégia da empresa. O tal “RH estratégico”, dependendo naturalmente do contexto, do sector e, sobretudo, da dimensão das empresas, foi muito oscilante (eu diria, até, intermitente) no quadro da sua acção enquanto estratega na ligação das pessoas ao próprio negócio das suas empresas.

Nos últimos anos, facilmente alguns dos temas nucleares como “propósito”, “comunicação e envolvimento”, “motivação e mobilização” ou “gestão da mudança” foram muitas vezes assumidos por outras áreas ou protagonistas nas empresas sem que o RH pudesse liderar verdadeiramente essa articulação estratégica com o negócio. De quem foi a culpa? Certamente de ambas as partes. Do próprio RH, que não soube “conservar” como seus os temas mais core na ligação das (suas) pessoas ao negócio, em todos os momentos e os vários “parceiros internos”, que perceberam a importância desses temas e foram assumindo como seus alguns destes.

Os temas do “propósito” rapidamente passaram a ser protagonizados pelo CEO ou pela gestão de topo e os temas dos envolvimento e motivação passaram rapidamente a ser geridos como “eventos internos” e logo assumidos pelas áreas de Comunicação e Marketing das empresas.

Eis que entretanto nos caí ao “colo” uma pandemia. E, uma vez mais, e desta de forma muito mais rápida, o mundo (do trabalho e das empresas) voltou a mudar, e muito!

Rapidamente, um “RH em Emergência” tomou conta das operações nas empresas. Colocou empresas inteiras a trabalhar em casa em trabalho remoto, cuidou de todos e de cada um dos colaboradores em termos da sua saúde, geriu os processos formais e informais, inspirou, comunicou muito e de todas as formas, ensinou os lideres das suas empresas a passarem  a ser “digital leaders”, criou respostas legais para a retenção das pessoa nas empresas, accionou um conjunto de processos e “produtos” de formação online, de comunicação ou de (simples?) energização interna.

Depois, rapidamente, o RH partiu para uma segunda fase (quase imediata) e tornou-se um “RH em Convergência”. Convergiu rapidamente com a estratégia da empresa, dada a relação imediata que foi necessário estabelecer entre as pessoas (em casa ou nos seus postos) com o negócio e sobretudo com as (várias) flexibilidades do negócio; convergiu com as diversas medidas legais e formais que fosso sendo objecto de necessidade de análise e implementação universal na organização; convergiu com as pessoas, tratando de todas as necessidades especiais de saúde, bem-estar e regresso aos locais habituais de trabalho, mas também criando condições para transformar “teletrabalho forçado” e “teletrabalho desejado” e, sobretudo, convergiu com o (novo) futuro da sua organização. Qualquer que este seja!

Existe, pois, um enorme desafio pela frente em relação à Gestão de Pessoas nas empresas. Cabe, de novo, a esta área assumir o protagonismo na articulação entre as pessoas e os negócios que este novo (a)normal vem exigir. Trabalhar e desenvolver as (novas) power skills da empresa, (re)inventar novas relações de trabalho e, sobretudo, aproveitar muito bem o reset que esta gestão pós-pandémica vem proporcionar aos nível das (in)verdades e do quebrar de (muitos) mitos urbanos.

Vai uma aposta de que tudo (realmente) mudou na nossa vida de gestores de pessoas?»

Rapidamente, o “RH em Emergência” se tornou-se um “RH em Convergência”, com a estratégia e com as pessoas.

 

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Julho (n.º 115) da Human Resources.

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