
Ensinar para o empreendedorismo
Apesar dos avanços positivos, seria bom ver o empreendedorismo e os conceitos com ele relacionados serem implementados mais cedo no percurso educativo, nomeadamente no secundário.
Por Daniel Vila Boa, mentor da European Innovation Academy e managing partner da Chilltime
Ao longo dos últimos 10 anos, a educação para o empreendedorismo tornou-se um tema de grande importância, com avanços muito positivos nesta área tanto nas universidades como nos programas imersivos. A nível académico, já se observa novas cadeiras, com o “Empreendedorismo” a fazer parte do currículo de universidades proeminentes, como o Instituto Superior Técnico, por exemplo. Entretanto, em Portugal, começam também a existir programas imersivos como o European Innovation Academy, que permite aos mais brilhantes estudantes vindos de todo o mundo participar num programa educacional intensivo, de três semanas.
Mas qual a relevância desta formação? A educação para o empreendedorismo é o desenvolvimento das capacidades técnicas e psicológicas que equipam o estudante com as ferramentas necessárias para criar um negócio ou criar um novo projecto dentro de uma empresa existente. No programa European Innovation Academy, os estudantes participam em todo o processo de criação de um novo negócio, desde a formulação da equipa, pesquisa de uma ideia viável, passando pela fase de teste do produto e validação, a investigação de diferentes possibilidades de modelos de negócio, abrindo caminho para o processo de prototipagem do produto, levando-o ao mercado e à procura de financiamento. Conhecem ainda pessoas inteligentes e proactivas de diversas origens culturais e académicas, promovendo o crescimento enquanto pessoas e profissionais, e criam também uma rede valiosa de contactos, que os ajudarão ainda mais nas suas carreiras, tanto com os colegas que participam no programa, como com os vários mentores.
Do ponto de vista académico, este processo permite ao estudante compreender o ciclo de vida de um novo negócio e a sua aplicação em muitos sectores da sua vida. Após a participação nestes programas, os estudantes demonstram um crescimento cognitivo mais crítico e eficaz, onde se revelam também competências ao nível interpessoal (soft skills). Acima de tudo, os estudantes aprimoram ainda capacidades pessoais nas áreas da determinação, honestidade e modestidade. A determinação é um componente inerente à resiliência necessária para desenvolver um novo negócio. A honestidade, no feedback e discussão de ideias, é algo obrigatório para a boa formulação dos conceitos posteriormente validados. Por último, a modestidade, porque, por vezes um problema, solução ou modelo de negócio que aparenta ser identificado como uma certeza absoluta, acaba por revelar ser incorrecta ou inadequada. Esta situação obriga-nos a assumir uma nova perspectiva sobre o problema que se está a tentar resolver, o que evidencia que estamos sempre a aprender. Estes três factores permitem aos estudantes ter um potencial de crescimento profissional mais significativo.
Como tal, em Portugal esta formação já começa a ser uma realidade, mas ainda há trabalho a fazer. Seria bom no futuro ver alguns destes conceitos serem implementados mais cedo no percurso educativo, nomeadamente na escola secundária, onde a sua intervenção poderá ajudar os mais jovens a crescer pessoalmente e a despertar o entusiasmo para desenvolver novas ideias, assim como uma maior capacidade para enfrentar desafios.
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