Entrevista a António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais: «As pessoas não são apenas parte do nosso negócio, são o próprio negócio»

Quando António Carlos Rodrigues assumiu a liderança do Grupo Casais, o contexto mundial era de crise financeira, que rapidamente chegou ao sector da Construção em Portugal. Teve claras as prioridades, e ficou provado que «o verdadeiro diferencial está nas pessoas». Muito mudou entretanto, mas essa verdade continua incontestável. E por isso, mais do que apostar em novos processos e soluções, a prioridade deste CEO está nas pessoas.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Egídio Santos

 

António Carlos Rodrigues está no Grupo Casais há quase três décadas, ao longo das quais assistiu a uma grande transformação do sector da Construção, acelerada pela evolução tecnológica. Reconhece que ainda existe o estigma do “se não estudares vais trabalhar para as obras”, mas garante que já não corresponde à realidade. «Hoje, exige competências avançadas» e «proporciona melhores perspectivas de carreira. O planeamento e a gestão na construção utilizam ferramentas e metodologias ao nível do que há de mais sofisticado em qualquer indústria», afirma. Reconhece que a falta de mão-de-obra qualificada é um dos maiores desafios do sector, mas acredita que os colaboradores valorizam, acima de tudo, o reconhecimento pelo seu contributo, a perspectiva de crescimento e um ambiente onde sintam fazer parte de algo maior. «E esse é o compromisso da Casais.»

 

Entrou no Grupo Casais há 29 anos. Que diferenças essenciais encontra, quer na empresa, quer no mercado? Se calhar é mais fácil responder o que se mantém… Ao longo destes 29 anos na Casais, assisti a uma transformação profunda, tanto na empresa como no sector da Construção. Quando comecei, ainda se desenhava em papel vegetal com tinta da China num estirador, enquanto hoje trabalhamos com modelos digitais e inteligência artificial (IA) para optimizar processos. Ainda assim, fui dos que desde o início utilizei o computador e o AutoCAD, o que reflecte um dos princípios que sempre nos define: a vontade de inovar e transformar para melhor.

O mercado evoluiu, impulsionado pela globalização, pela digitalização e pela crescente exigência de sustentabilidade. Hoje, construir já não é apenas erguer edifícios; é antecipar soluções que respondam às necessidades futuras da sociedade, garantindo eficiência energética, reduzindo a pegada de carbono e optimizando recursos através da industrialização. Esta mudança exigiu da Casais uma adaptação constante, seja na forma como planeamos, gerimos ou executamos os projectos.

Mas, apesar de todas as mudanças, há algo que se mantém inalterado: a nossa cultura e os nossos valores. A Casais continua a ser uma empresa que honra compromissos, que valoriza as pessoas e que vê na inovação uma forma de criar impacto positivo.

A essência familiar e a proximidade com as nossas equipas garantem que crescemos juntos, preservando o que nos distingue e, ao mesmo tempo, preparando-nos para o futuro. Afinal, a tecnologia muda, os desafios evoluem, mas a vontade de construir de forma responsável e sustentável permanece a mesma.

 

Assumiu o cargo de CEO em 2008. Quais foram os principais desafios na altura?
Assumir a liderança da Casais foi um desafio, quer pela responsabilidade natural da função, mas também pelo contexto económico global da época. A crise financeira iniciada nos Estados Unidos com o colapso do subprime alastrou-se rapidamente ao mundo inteiro, criando um ambiente de incerteza e retracção no investimento. No entanto, no sector da Construção, o impacto em Portugal foi sentido de forma mais acentuada apenas com a entrada da troika em 2011, onde de repente mais de metade da carteira em Portugal se evaporou.

Foram anos duros, mas também de grande aprendizagem e fortalecimento. A prioridade foi garantir a sustentabilidade da empresa, assegurando que tínhamos a estrutura financeira, a agilidade e a resiliência necessárias para enfrentar os desafios que se avizinhavam. Mas, mais do que isso, foi um período onde se provou que o nosso verdadeiro diferencial estava nas pessoas e na nossa capacidade de trabalhar em equipa. Apostámos na diversificação dos mercados, reforçámos a inovação e mantivemos uma cultura de compromisso com clientes e parceiros.

O resultado desse esforço conjunto foi claro: ultrapassámos a crise, e saímos mais fortes, mais preparados e com um posicionamento mais global. Foi um momento que demonstrou que, com visão e uma equipa determinada, conseguimos transformar desafios em oportunidades de crescimento.

 

Perante esse contexto, o que foi prioritário?
A primeira prioridade foi reforçar a base sobre a qual a Casais sempre se construiu: a sua cultura. Embora os nossos valores estivessem enraizados na forma como trabalhávamos, nunca tinham sido formalmente articulados. Em 2009, juntámos as nossas equipas para definir, em conjunto, a nossa missão, visão e valores. Foi um momento pivotal para dar consistência e direcção ao crescimento que queríamos alcançar, garantindo que, independentemente do país onde estivéssemos, ser Casais significava o mesmo.

Esse alicerce cultural foi essencial para impulsionar a nossa expansão internacional, que representava menos de 20% do volume de negócios e que, com esta aposta, em 2012 já representava 70%. Crescemos globalmente, preservando a nossa identidade e criando uma verdadeira “nação” Casais, unida por uma mesma cultura e propósito.

Foi essa combinação de clareza estratégica, aposta nas pessoas e ambição controlada que nos permitiu responder aos desafios da época e preparar o futuro com confiança.

 

E agora, quais são os principais desafios?
Hoje, os desafios são diferentes, mas igualmente exigentes. A aceleração tecnológica está a transformar o sector a um ritmo sem precedentes, obrigando-nos a inovar constantemente e a adaptar os nossos processos para sermos mais eficientes, produtivos e sustentáveis. A digitalização, a industrialização da construção e a automatização são oportunidades para criarmos mais valor, mas também exigem novas competências e uma gestão mais ágil da mudança.

Por outro lado, a Construção continua a ser um sector crítico para a sociedade. Há uma necessidade crescente de infra- -estruturas em países em desenvolvimento e uma urgência na construção de habitação acessível em Portugal e na Europa. A pressão demográfica e a escassez de mão-de-obra qualificada são realidades que nos obrigam a repensar modelos, apostando na formação, na inovação e em soluções construtivas mais rápidas e eficientes. Além disso, a sustentabilidade deixou de ser um diferencial para se tornar uma exigência.

 

Como se mantém uma empresa com quase 70 anos competitiva e atractiva, sem perder aquilo que vos define?
Através do equilíbrio entre tradição e inovação. A Casais cresceu assente numa cultura forte, em valores sólidos e na capacidade de adaptação, garantindo que aquilo que nos define se mantém, mas evoluindo constantemente para enfrentar os desafios do futuro, criando impacto positivo e, assim, mantendo-se relevante num sector em transformação.

 

O que é prioridade agora, em termos de negócio?
Precisamente a sustentabilidade, com a qual temos um compromisso inegociável, e a inovação, para construirmos melhor, mais depressa e com maior eficiência. Mas, mais do que apostar em novos processos e soluções, a nossa prioridade está nas pessoas. Qualificar e valorizar os colaboradores é a base para qualquer evolução que queiramos alcançar. Investimos no desenvolvimento de competências, na criação de oportunidades de progressão de carreira e na construção de um ambiente que fomente a criatividade e a excelência. Acreditamos que a competitividade se constrói com pessoas. Criar um ambiente onde as equipas se sintam valorizadas, reconhecidas e motivadas é essencial para continuarmos a atrair e reter talento.

 

E essencial ao negócio…?
As pessoas não são apenas uma parte do nosso negócio, são o próprio negócio. Acreditamos que uma empresa é tão forte quanto a sua equipa. E a Casais é, antes de mais, uma empresa de pessoas. Valorizamos e protegemos os nossos colaboradores porque sabemos que são eles que dão vida aos nossos projectos, inovam, resolvem desafios e garantem a excelência daquilo que entregamos. Por isso, investir no seu desenvolvimento, criar oportunidades de crescimento e fomentar um ambiente onde se sintam reconhecidos e motivados é uma prioridade estratégica.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Fevereiro (nº. 170) da Human Resources, nas bancas.

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