Entrevista: “Equipas diversas são mais capazes e produtivas”

Durante o último encontro dos Alumni da AESE, Inês Caldeira, directora-geral da L’Oréal, juntou-se a um painel para explicar como “Olhar para a incerteza”, direccionando o seu foco para as pessoas. Tudo isto no âmbito do chamado VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambieguity).

Ora, a Human Resources falou com a primeira directora-geral feminina em Portugal e a mais jovem a ocupar o cargo para nos explicar melhor, não só este fenómeno, mas também como enfrentar os desafios que se avizinham:

Texto: Manuel Louro

Num mundo VUCA ou VICA, qual deverá ser o papel da Gestão de Pessoas nas diferentes organizações?

Diria que tem de ser ainda mais atento e disponível do que até agora. A individualidade de cada um vai sobressair cada vez mais, o desejo de conciliar a paixão pelo trabalho com outros interesses está a exigir que as empresas pensem modelos mais flexíveis, mais cooperantes e modernos de trabalho.

Por outro lado a formação terá um papel preponderante. A necessidade de aprender num mundo em mutação veloz será cada vez mais relevante e a criação de um ambiente que estimule a troca de experiências será mais enriquecedor.

A forma como é feita a Gestão de Pessoas terá de, obrigatoriamente, ser alterada? E como deve ser realizada essa mudança?

As pessoas serão sempre pessoas, pelo que há princípios básicos de respeito e escuta que se impõem. Agora efectivamente as empresas que não pratiquem uma política de porta aberta (acesso directo e imediato ao seu director de RH) terão mais dificuldades.

Na minha opinião passa por uma grande aposta na formação, desenvolvimento de carreiras transversais que permitam aos colaboradores uma maior longevidade profissional e a identificação de pessoas cooperantes. Mais do que nunca teremos de trabalhar em rede e o manager-integrador será, sem dúvida, o que terá mais sucesso.

Em que medida tem sido a gestão da L’Oréal afectada pela volatilidade, incerteza e instabilidade, complexidade e ambiguidade a que temos vindo a assistir?

O mundo da Beleza sempre foi extraordinariamente dinâmico e propício à inovação permanente. A L’Oréal esteve sempre à frente do seu tempo e navega bem em águas turbulentas. Somos uma empresa feita de talento jovem e onde, mesmo quem trabalha aqui há mais de 20 anos, conserva esse espírito. Apreciamos e incentivamos o espírito empreendedor, a busca incessante pela perfeição e a curiosidade. São características fundamentais para ter sucesso num mundo VUCA.

«A L’Oréal esteve sempre à frente do seu tempo e navega bem em águas turbulentas».

Na prática, como é que a L’Oréal tem enfrentado essa instabilidade?

Temos mantido os nossos sentidos mais apurados que nunca porque acreditamos que um mundo de oportunidades se abre neste contexto.

Achamos que equipas diversas serão mais capazes e produtivas. É por isso que fomos os primeiros a assinar a carta da diversidade em Portugal. Por outro lado, promovemos o diálogo entre as várias gerações que trabalham na L’Oréal, seguros de que dessa partilha saem planos mais reforçados e criativos.

Estamos ainda fortemente empenhados na promoção de comportamentos éticos exemplares, certos de que, mais do que nunca, esse será um critério fundamental de recrutamento dos melhores talento do país. A este título, gostaria de referir que a L’Oréal foi reconhecida, pelo sétimo ano consecutivo, como sendo a empresa mais ética do mundo, pelo Instituto Ethisphère, líder global na definição e evolução dos padrões de ética das práticas negociais, com o prémio 2016 World’s Most Ethical Company®, facto que sublinha o compromisso da L’Oréal em liderar os padrões de ética negocial.

Finalmente continuamos fiéis ao nosso ADN: a inovação permanente. Será a superioridade em responder aos desejos mais profundos dos nossos consumidores que nos permitirá reforçar a liderança.

«Temos mantido os nossos sentidos mais apurados que nunca porque acreditamos que um mundo de oportunidades se abre neste contexto».

De que maneira poderão os líderes, nos dias de hoje, criar um sentimento de estabilidade e segurança nos colaboradores?

Estes conceitos vão evoluir com o tempo. A estabilidade e segurança não vão significar no futuro, ter um emprego para toda a vida. A tendência vai ser para que nos aproximemos mais de modelos anglo-saxónicos. Na minha opinião, equipas que estejam despertas para o mundo externo, que estejam bem treinadas e sistematicamente formadas, não terão motivos para se preocuparem. Terão sempre de manter uma atitude positiva perante a mudança e acreditarem que tudo é possível. Sempre.

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